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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-16C - GT 16 - Violências e Aborto

30877 - UMA ETNOGRAFIA DE UM SERVIÇO EXTRA HOSPITALAR A MULHERES EM SITUAÇÃO DE ABORTAMENTO “HUMANIZADO” EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA DO NORDESTE BRASILEIRO – RESULTADOS INICIAIS
ANA GABRIELA LIMA BISPO DE VICTA - UFBA, LEONILDO SEVERINO DA SILVA - UFBA, GREICE MENEZES - UFBA, CECILIA MCCALLUM - UFBA


Introdução: No Brasil, o atual modelo de atenção direcionado às mulheres em situação de abortamento é médico e procedimento-centrado, pautado no internamento hospitalar e na curetagem uterina. Não obstante as pretensões dos serviços a se restringir aos aspectos técnicos e fisiológicos, a literatura é contundente no que diz respeito aos aspectos sociais e culturais da atenção dispensada. Num contexto em que a assistência ao aborto espontâneo se torna fortemente tangida pelas atitudes condenatórias ao aborto induzido, tais práticas discriminatórias funcionam como marcadoras e reprodutoras das desigualdades sociais de raça, classe, geração e gênero. Esse processo termina por objetificar as mulheres, as quais, muitas vezes, se encontram aprisionadas em um ciclo de violência institucional.
Objetivo: este estudo pretende discutir a analise inicial de um serviço hospitalar, que desenvolve um novo modelo de atenção a mulheres em situações de abortamento, por meio das perspectivas das participantes e dos profissionais daquela instituição.
Metodologia: O serviço é oferecido em uma maternidade pública do nordeste brasileiro, e caracteriza-se pelo atendimento multiprofissional, pelo acompanhamento da mulher tanto por telefone quanto presencialmente e ênfase no protagonismo da mulher para escolher de que forma ela vai finalizar a sua situação de abortamento. A pesquisa de campo deste estudo ocorreu entre julho e setembro de 2018 na referida maternidade. O estudo envolveu três componentes. No primeiro, foram examinados os prontuários de todas as mulheres que já participaram do PROHOSP, permitindo, dessa forma, a caracterização das mulheres nos aspectos sociodemográficos, culturais, reprodutivos e clínicos. No segundo componente, foi realizada a observação participante, que ocorreu em todos os espaços da maternidade onde as mulheres circulam, quer na oferta do cuidado ou de informação para viabilizar a assistência. Foram observados também os trabalhadores da instituição. Além disso, foram realizadas notas no diário de campo da pesquisadora, em que foram documentadas conversas informais; falas fidedignas das pessoas; descrições contextualizadas das pessoas, situações e dos espaços de observados. No terceiro componente, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, em que foi seguido um roteiro com tópicos. Os sujeitos da pesquisa são: as participantes do PROHOSP e os/as profissionais da maternidade. Dezesseis mulheres foram convidadas para entrevistas no momento de recebimento de alta, definindo-se o local que lhes for mais confortável, preferencialmente fora do ambiente hospitalar. Dessa forma, ficou mais claro para as mulheres que se tratava de uma pesquisa à parte da instituição e que participar deste estudo (ou não) não iria conferir situação de vantagem ou desvantagem para elas. Vinte e oito profissionais da maternidade foram entrevistados em momento e local oportunos e de sua própria escolha, respeitada a sua disponibilidade em participar da pesquisa. As entrevistas serão gravadas, com livre duração do tempo e transcritas. Para as mulheres entrevistadas foi facultada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que se evite a sua identificação, sendo feita sua leitura e oferecida uma via assinada pela pesquisadora.
Resultados e discussão: Nas análises iniciais das entrevistas das mulheres, percebeu-se: embora o sangramento vaginal seja considerado impuro, quando este ocorre, há relatos de uma sensação de limpeza do corpo feminino; sentimentos de culpa ou alívio são relatados pelas mulheres independentemente da natureza do aborto; a falta de apoio do pai do feto tem contribuído para a "escolha" do aborto induzido; tem sido possível identificar muitos relatos de racismo contra as mulheres pelos seus (ex-)parceiros e profissionais de saúde; as mulheres em situações de aborto sofrem violência obstétrica, independentemente da natureza do aborto. Aqueles que a provocaram aceitam a violência em silêncio por medo de não receberem cuidados dos profissionais. Por outro lado, aqueles que sofrem de aborto espontâneo precisam convencê-los de sua por meio da gravidez espontânea.
Considerações finais: Estas mulheres, invisíveis socialmente em detrimento da ilegalidade do aborto, apresentam demandas urgentes e/ou específicas, são negligenciadas pelo Estado brasileiro. Este insiste em não investir em uma adequada política de saúde da mulher, que garanta seus direitos sexuais e reprodutivos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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