29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-16C - GT 16 - Violências e Aborto |
31216 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES NO CONTEXTO DE UMA CIDADE DE PEQUENO PORTE NO NORDESTE BRASILEIRO E AS REDES FORMAIS E INFORMAIS DE CUIDADO ANA KALLINY DE SOUSA SEVERO - UFRN, LUIZA CELESTE PALHARES BEZERRA - UFRN, KYRA KADMA SILVA FERNANDES DE MEDEIROS - UFRN, RAFAELA GOMES DA SILVA - UFRN, ESLIA MARIA NUNES PINHEIRO - UFRN
Introdução: O elevado número de casos de violência e as dificuldades na implementação das políticas públicas de proteção e garantia dos direitos humanos das mulheres ainda é um problema grave nas cidades de pequeno porte. Na rede de atendimento às mulheres em situação de violência doméstica e que apresentam problemas de saúde mental, o CREAS e o CAPS são serviços de atendimento essenciais.
Objetivo geral: Mapear o perfil e a rede de cuidado das mulheres em situação de violência doméstica e que apresentem quadro de sofrimento psíquico grave atendidas pelo CREAS e CAPS em uma cidade de pequeno porte no Nordeste brasileiro.
Metodologia: A pesquisa está sendo realizada na perspectiva da Análise Institucional. Estão sendo utilizados diários de pesquisa, entrevistas semi-estruturadas e prontuários e registros dos serviços. Até o momento, foram realizadas quatro rodas de conversas com os profissionais dos serviços e observação de suas atividades.
Durante o processo de pesquisa, é usado o diário de pesquisa, no qual temos a acumulação do escrito, das experiências, reflexões e sentimentos, e com o transcorrer do tempo, ele pode adquirir uma dimensão histórica, tornando-se um banco de dados (Hess, 2006).
Resultados: a) Mobilização da equipe para pensar os casos atendidos bem como a história do serviço: Ao longo das rodas de conversas, realizamos com a equipe momentos de reflexão sobre quais as mulheres que são atendidas pelo serviço e sofrem violência doméstica. No CREAS, elas são identificadas como de renda pequena, e geralmente com filhos. Sobre as que apresentam problemas de saúde mental foi mencionada a internação psiquiátrica recente de uma das usuárias, apesar da equipe não ter explicitado a relação entre violência e agravos em saúde mental. Detalhou-se que a maior parte das mulheres que sofrem violência doméstica viram “prontuários em aberto”, pois são identificadas como casos em que não há resolutividade. No CAPS, poucos casos foram mencionados, apesar de nas observações percebemos a existência de violências doméstica com as mulheres aí atendidas. b) O reconhecimento da relação entre violência e sofrimento psíquico: A equipe CREAS reconhece que há o sofrimento psíquico mediante casos de violência doméstica, mas reconhecem primeiramente outras necessidades como sendo mais urgentes como obtenção de trabalho e renda e uma casa para residir longe do agressor. Isso se deve ao fato de a maior parte das usuárias serem identificadas como pessoas com renda baixa, dependentes economicamente muitas vezes do cônjuge. No CAPS, se reconhece o sofrimento psíquico, mas pequena caracterização de episódios de violência, a não ser por uma profissional que já trabalhou em uma rede especializada. Pesquisadores têm destacado a relação entre a produção de sofrimento psíquico grave e gênero (Zanello; Bukowitz, 2012; Costa, Dimenstein e Leite, 2014; Santos, 2009), tornando-se importante mencionar que aqui adotamos gênero como performance, onde por via de coação social, na nossa sociedade binária, homens e mulheres vão sendo pressionados a assumir papeis sociais historicamente definidos, sob pena de punição (Zanello, Fiuza e Costa, 2015); c) O medo de exposição das informações acerca das situações atendidas: A equipe CREAS apresenta muito cuidado com as informações sobre as situações atendidas. Isso ocorre em função das peculiaridades das redes de informações em relação a violência doméstica em município de pequeno porte. Ao longo das rodas de conversas, a equipe mencionou que por ser uma cidade de pequeno porte, as pessoas se reconhecem e conhecem a rede envolvida no contexto de violência, o que pode agravar, na perspectiva da equipe, a situação da mulher que decide procurar o CREAS. As redes informais mencionadas são mães, avós, tias, que, de acordo com a equipe, se posiciona no sentido de que a mulher permaneça na relação conjugal, acreditando em uma possível mudança do parceiro. A equipe menciona que muitas mulheres chegam ao serviço acompanhadas de bebês ou filhos, e que não tem rede que apoie uma possível separação ou “abandono do cônjuge” agressor. No CAPS, pais de usuárias têm demonstrado apoio as usuárias nos casos de violência doméstica quando o agressor é o companheiro.
Considerações finais: Há desafios no que se refere a implementação das políticas públicas de enfrentamento à violência contra mulheres, em decorrência das desigualdades regionais, sociais, raciais e étnica, havendo, portanto, a necessidade de qualificar efetivamente essa discussão no interior do país, já que as maiores taxas de assassinatos com motivação de gênero estão nos municípios de menos de 50 mil habitantes(Nunes, 2017, p. 506). Os dados iniciais demonstram a necessidade de trabalhar estratégias de educação permanente com diferentes profissionais em torno da relação entre violência doméstica e problemas de saúde mental, bem como sobre as redes formais intersetoriais necessárias para o enfrentamento da questão efetivo do problema.
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