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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-16C - GT 16 - Violências e Aborto

31301 - VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: ESCUTA POSSÍVEL E NECESSÁRIA. ESTUDO COM MULHERES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS FEMININOS DE MINAS GERAIS
CECÍLIA NOGUEIRA REZENDE - FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP), DENISE NACIF PIMENTA - INSTITUTO DE PESQUISA RENÉ RACHOU/ FIOCRUZ MINAS, MARIA JOSÉ NOGUEIRA - FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP)


Apresentação
Este estudo aborda a temática da violência contra a mulher (VCM) no meio rural a partir do relato de dez mulheres representantes de movimentos sociais femininos que integram a pesquisa “ Movimentos Sociais Femininos e a resposta à Síndrome de Zika Vírus no Brasil”. Discutir a VCM foi uma demanda trazida pelas mulheres frente aos desafios enfrentados pelos movimentos sociais para compreender o fenômeno. Embora as questões relacionadas à violência contra as mulheres tenha ganhado visibilidade na mídia e na academia, muitos de seus contornos são ainda imprecisos. Segundo dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FSSP, 2018) houve um aumento de 8,4% de estupros no Brasil entre 2016 e 2017. Quando se trata da VCM no meio rural existem peculiaridades que contribuem ou explicam o agravamento desse tipo de violência. Fatores estes que refletem o maior grau de isolamento das mulheres que vivem em localidades rurais.

Objetivos
Objetiva-se compreender as especificidades da violência contra a mulher no contexto rural de Minas Gerais bem como as estratégias e desafios dos movimentos sociais para fazer frente a esta realidade.

Metodologia
Foi realizado um Grupo Focal em Belo Horizonte com dez lideranças de movimentos sociais femininos de várias partes do território mineiro. A dinâmica foi gravada em áudio, transcrita e analisada conforme técnica de análise de conteúdo. Foram identificadas três categorias de análise: 1) violência, machismo e patriarcado; 2) violência contra a mulher do campo; 3) papel, desafios e estratégias dos movimentos sociais para lidar com a violência de gênero.

Resultados e Discussões

As três categorias de análises repercutem a relevância da temática e a importância de um olhar especifico para o meio rural, elas serão discutidas a seguir:

Violência, machismo e patriarcado

As falas das participantes estão em consonância com a literatura, elas reconheceram o conceito de gênero enquanto uma construção social e cultural e apontaram o machismo enquanto uma prática de poder do homem sobre a mulher, sendo ao mesmo tempo um contribuinte e um causador da violência contra a mulher:

“[Machismo é] uma tentativa de inferiorizar a mulher, simplesmente pelo gênero.” P3

“[O machismo] que legitima muitas vezes essas violências que pra mim são violências no plural, e cotidianas...” P2

“Machismos... é a prática cotidiana dessa violência...” P5

A violência contra a mulher do campo enquanto um tipo especifico

Quando se trata da violência contra a mulher do campo, elas relataram fatores próprios ao meio rural que configuram o problema. Um primeiro ponto destacado foi o peso do tradicionalismo no interior, pois tende a reforçar a VCM. Outro ponto colocado foi a distância entre as residências, fator que contribui para o isolamento das vitimas. Destaca-se, por fim, a fragilidade de laços entre as mulheres na agricultura e na propriedade familiar.

“... a violência pra mulheres na zona rural é o inferno... [lá] está a parte da sociedade mais preconceituosa...” P10.

“...as formas de violência elas são muito mais cruéis... porque tem essa questão do território, que as casas são mais longes...” P6

“...no momento da separação a mulher precisa largar a terra que muitas vezes é seu trabalho...” P7

No presente estudo as lideranças dos movimentos reconheceram a importância de adotar comportamentos críticos em relação ao sistema patriarcal e a necessidade do direito da mulher de viver sem violência. Quanto aos desafios e estratégias para o enfretamento da violência, elas salientaram a criação de condições para a emancipação feminina, por meio de oficinas de capacitação para mulheres, munindo-as de informações sobre seus direitos. Atribuíram destaque para ações de enfrentamento à violência envolvendo a comunidade local, inclusive homens, para fortalecer ou criar uma rede de proteção.

“:...é missão da gente quebrar essa questão da padronização, do patriarcado, do machismo... de não ir replicando...” P8

“...uma coisa importância que os movimentos tem feito, é esse processo de tentar, é mostrar pras mulheres que viver sem violência é um direito.” P10

“...a gente tem que levar o debate... no espaço misto, porque é lá que acontece.” P6

Considerações finais
A violência contra a mulher (VCM) no meio rural possuí especificidades que configuram desafios não somente para os movimentos sociais, como também para formuladores de políticas públicas. Para um adequado enfretamento da violência contra a mulher no ambiente rural é necessário um entendimento da dinâmica organizacional no campo. Para tanto é fundamental estabelecer parcerias entre os serviços públicos, iniciativas locais da comunidade e movimentos sociais. No âmbito dos movimentos sociais femininos, o engajamento das lideranças é essencial para combater a VCM. Em função da proximidade com a comunidade, as representantes ocupam uma posição de protagonismo e podem facilitar o diálogo com gestores no desenvolvimento de políticas públicas.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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