28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-16A - GT 16 - Gênero, Sexualidade e Diversidade Sexual |
30522 - “FAZER A SOCIAL”: IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA VIDA COTIDIANA, NA SOCIABILIDADE E SEXUALIDADE DE JOVENS EM UM BAIRRO DE PERIFERIA MICHELE DE LAVRA PINTO - UFRGS, DANIELA R. KNAUTH - UFRGS, ANDRÉA FACHEL LEAL - UFRGS, LUCIANA BARCELLOS TEIXEIRA - UFRGS, KIYOMI TSUYUKI - UNIVERSITY OF CALIFORNIA, SAN DIEGO
Introdução
Com o interesse em identificar espaços de sociabilidades com alto risco de transmissão heterossexual do HIV - chegou-se a um bairro periférico da cidade de Porto Alegre, RS. O bairro localizado a 22 km do centro da cidade possui 60.729 habitantes. É a partir dos anos 2000 que a violência relacionada as disputas do tráfico de drogas ficam mais intensas e acabam afastando os jovens de espaços e aparelhos sociais (centro de esporte e cultura, praças, entre outros). Ao analisarmos a história do bairro é perceptível que este é capaz de transmitir as diversas construções de pertencimento para seus moradores, mas como os jovens elaboram estratégias, formas de comunicação e circulação, em um território distante do centro e marcado por episódios constantes de violência? Quais os impactos da violência no cotidiano dos jovens?
O presente estudo tem por objetivo principal investigar os impactos da violência na vida cotidiana, na sociabilidade e sexualidade de mulheres jovens (entre 18 e 24 anos) moradoras de um bairro da periferia de Porto Alegre, RS. Ou seja, como as jovens de um território marcado pela violência do tráfico de drogas utilizam-se de estratégias e alternativas de sociabilidades e como constroem e mantém suas relações afetivas.
Metodologia
Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, utilizando-se para coletas dos dados o método etnográfico. O método etnográfico é composto de técnicas e de procedimentos de coletas de dados associados a uma prática do trabalho de campo a partir de uma convivência mais ou menos prolongada do(a) pesquisador(a) junto ao grupo social a ser estudado (Rocha e Eckert, 2008). Assim, a técnica de observação etnográfica permite mapear áreas de interação social; as conversas e entrevistas permite ao pesquisador participar da vida social que pesquisa. Até o presente momento foram 5 meses de observação etnográfica no bairro e entrevistas/conversas com jovens mulheres.
Resultados, Discussões e Conclusões
O presente estudo faz parte de um projeto maior sobre jovens cujo objetivo é avaliar a viabilidade e aceitação do autoteste de HIV entre mulheres jovens de 18 a 24 anos. Ao delimitarmos o bairro Restinga, que possui a maior incidência de HIV da cidade, e iniciarmos a pesquisa nos deparamos com um local distante do centro e que sofre com constantes episódios de violência oriundos do tráfico de drogas. Assim, nos debruçamos sobre as questões relacionadas à sexualidade, aos espaços e estratégias de sociabilidades frente ao impacto da violência no cotidiano da comunidade. A Comunidade entendida enquanto espaço geográfico, social e cultural que se configura como um "território" no qual os indivíduos compartilham valores, práticas, exposições comuns ao risco, assim como o acesso aos cuidados de saúde. Os espaços de encontro e circulação dos jovens foram sendo fechados ou abandonados por falta de segurança. As mídias sociais como Facebook e WhatsApp tem sua importância para as relações de amizade e afeto entre os jovens. É através das mídias que marcam encontros, festas e mantém e ou iniciam relacionamentos. As relações de amizade e afeto, quase sempre se dão, em locais que ainda há a sensação de segurança, como escolas, eventos e locais religiosos e em casa. O termo “fazer a social” ou “social”, refere-se a festas, reuniões que são realizadas na casa de alguém do círculo de amigos. As mulheres do grupo, em sua maioria, dormem na casa da anfitriã, algo previamente acordado com as famílias. Os bailes funk da Restinga são promovidos pelo tráfico e, portanto, considerados locais inseguros e que as mulheres “de bem” devem evitar. A violência do tráfico afeta mais os homens, entretanto ouve episódios em que mulheres foram mortas por estarem junto com o traficante “alvo” (como namorada ou amiga), ou ainda atingida por “bala perdida”. Assim, as jovens buscam lugares mais seguros para estar e/ou conhecer seus parceiros. As festas no salão da igreja católica, situada no “centro” do bairro, é apontado como um lugar seguro. No salão são realizadas atividades e bailes promovidos por grupos de jovens. O grupo de jovens da igreja propicia novas amizades e afetos, pois além das festas locais organizam acampamentos, viagens e “retiros” em outras cidades. As jovens apontam o grupo como propiciador para conhecerem parceiros e fazerem novas amizades. No bairro não existe bares ou casas noturnas que permita diversão - conhecer, namorar ou “ficar” com alguém. As saídas para esses locais se dão fora do bairro. Os resultados ainda são parciais, mas demonstram a importância do olhar sobre como jovens de bairros periféricos são afetados pela violência e como se adaptam. Cabe salientar a importância de pesquisas multidisciplinares na área da saúde, pois como podemos pensar em espaços para disponibilizar, por exemplo, o autoteste HIV, se não há conhecimento do território em que o grupo alvo reside.
|

|