28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-16A - GT 16 - Gênero, Sexualidade e Diversidade Sexual |
30717 - ADESÃO AO TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL: UMA ANÁLISE DO EFEITO DA GESTAÇÃO NA ADESÃO DE MULHERES VIVENDO COM HIV/AIDS RAFAEL STEFFENS MARTINS - UFRGS, DANIELA RIVA KNAUTH - UFRGS, ÁLVARO VIGO - UFRGS, PATRÍCIA FISCH - UFRGS
INTRODUÇÃO: Porto Alegre aparece como a capital brasileira com maior taxa de detecção de casos novos de HIV: 60,8 para cada cem mil habitantes. O município de Alvorada, pertencente à região metropolitana, registrou taxa de detecção de 50,1 casos para cada cem mil habitantes em 2017, número quase 3 vezes maior que a taxa nacional de 18,3 casos. Duas estratégias para o controle da epidemia da Aids são o diagnóstico precoce e o tratamento de todas as pessoas infectadas, diminuindo assim a carga viral comunitária. Neste sentido, a adesão ao tratamento é fundamental não apenas para o indivíduo mas também para o coletivo. A adesão pode apresentar variações e ser influenciada por diferentes eventos ao longo da trajetória das pessoas vivendo com HIV/Aids. OBJETIVO: Analisar a associação entre gestação e adesão ao tratamento antirretroviral (TARV) em mulheres vivendo com HIV ao longo do tratamento. METODOLOGIA: Foi realizada uma coorte histórica com todas as mulheres que consultaram ao menos uma vez no Serviço de Assistência Especializada (SAE) de Alvorada no período observado – de 2002 a 2017. As informações foram obtidas a partir dos prontuários. Por ser um estudo longitudinal, foi possível verificar ao longo da trajetória de acompanhamento das pacientes, qual foi o momento em que as mesmas aderiram ou não a TARV. Da mesma forma, verificamos se uma nova gestação interferiu no processo de adesão. O desfecho binário do estudo fora a adesão ao tratamento (aderente; não aderente), aferido em cada consulta ao longo do trabalho. Para verificar associação entre adesão e gestação, e estimar a razão de chances, utilizou-se o modelo de regressão logística com medidas repetidas ao longo do tempo, isto é, ao longo de cada consulta da coorte. Além disso, também foram realizadas análises descritivas do perfil dessas pacientes. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram analisadas 3242 consultas de 546 pacientes. Deste total, 157 (29%) mulheres tiveram pelo menos uma gestação durante o período em que estavam em tratamento no Serviço. A média de idade das mulheres que tiveram uma gestação durante o tratamento fora de 26,2 contra 39 anos entre as mulheres que nunca tiveram uma gestação durante o período do estudo. Somente a variável idade demonstrou diferença estatisticamente significativa entre os grupos, considerando p <0,05. Em relação ao fator de estudo e o desfecho da pesquisa, verificou-se que a gestação possui efeito significativo na chance de adesão (RC = 2,57; 95% IC = 1,64-4,02; p<0,0001). Isto significa que, na amostra estudada, mulheres vivendo com HIV que estão em gestação possuem 1,57 chances a mais de aderirem ao tratamento, se comparado com as mulheres que não estão grávidas. Em consonância com os achados, analisando mulheres grávidas e não grávidas, observa-se na literatura uma tendência de fortalecimento da adesão na gestação e enfraquecimento da adesão após o parto. Este fortalecimento durante a gravidez pode ser explicado por motivos como: i) a grande quantidade de mulheres que descobrem o HIV e iniciam o tratamento junto com o pré-natal; ii) atenção das políticas de saúde para essa população; iii) os sentimentos e medos, por parte da gestante, de transmitir o HIV para o filho. Mesmo com o efeito da gestação, apenas 48,4% de todas as mulheres do estudo com medicação prescrita foram aderentes ao longo de todo segmento. Isso demonstra a dificuldade de adesão ao medicamento para o HIV mesmo quando tratando de pacientes mulheres, consideradas socialmente mais “visíveis” às políticas e serviços de saúde perante a literatura. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os achados apontam que a gestação tem influência positiva e significativo sobre as chances de adesão das pacientes ao tratamento para o HIV na amostra estudada. Este resultado contribui para a compreensão do fenômeno da adesão no tratamento do HIV, destacando o efeito de um acontecimento frequente na vida destas mulheres – a gravidez. Os números também indicam que a adesão com falhas é comum em mais de 50% das pacientes, o que alarma para a necessidade de elaboração de novas estratégias de assistência para garantir a qualidade e continuidade da adesão destas mulheres.
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