28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-16A - GT 16 - Gênero, Sexualidade e Diversidade Sexual |
31195 - A SEXUALIDADE DENTRO E FORA DAS GRADES: UM ESTUDO SOBRE A EXPERIÊNCIA SEXUAL E AFETIVA DE ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA SIMONE PERES - UFRJ
Este trabalho se origina do projeto denominado “Sexualidade na adolescência na contemporaneidade”, executado em conjunto pela UERJ (coordenação), IFF-Fiocruz e UFRJ, Edital FAPERJ, tem como o objetivo de estudar as práticas sexuais e afetivas de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa no Degase – Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Rio de Janeiro. O material aqui analisado constitui uma parte dos dados oriundos da etapa qualitativa do referido projeto. O projeto como todo entrevistou meninos, meninas, técnicos e agentes do Degase. Foi realizada observação participante com o objetivo de trabalhar com temas como prevenção da gravidez e das DSTs/Aids, explorando as configurações contemporâneas da sexualidade na adolescência, tais como decisão pela iniciação sexual, experimentações sexuais, prazer, negociações, preocupações ou não com a definição e consolidação de identidades sexuais.
Foram feitos contatos com 48 meninas, realizadas 10 entrevistas e 13 grupos com 20 adolescentes. A aproximação da equipe da pesquisa (professoras e alunos) se dava através dos agentes da unidade, que verificavam se a adolescente estava “disponível” no momento da visita de campo. Algumas vezes, era solicitado que o agente chamasse alguma adolescente específica, seja porque a mesma tinha manifestado interesse em participar, seja porque a mesma havia participado de algum grupo em data anterior e queria participar novamente. A abordagem envolveu ainda o método cartográfico.
Foram realizados também grupos com as meninas. As entrevistas individuais, em sua maioria, foram feitas no pátio da unidade, como local escolhido e praticamente único pelas próprias adolescentes. As perguntas disparadoras das entrevistas/grupo foram: Com qual idade foi seu primeiro beijo? Me conte um pouco da sua iniciação amorosa e sexual. Pode-se notar uma iniciação um pouco mais precoce entre as meninas do que a média geral da apontada em alguns trabalhos, no que tange respectivamente às experiências afetivas, amorosas e/ou sexuais. Algumas das primeiras experiências sexuais das adolescentes ocorreram em grupo, com a participação de outros adolescentes, em algumas circunstâncias envolveu uso de droga (s). As primeiras relações se deram com pares/pessoas conhecidas, que normalmente moravam perto das adolescentes. As relações homoafetivas citadas estão aparentemente mais presentes e frequentes “dentro” das grades do que “fora” das grades. Os discursos sobre essas relações apontam para um contexto fortemente “afetivo-romântico” em ambos os cenários. O desempenho sexual também se coloca como um aprendizado importante para as meninas nesse momento. Uma parte desse aprendizado se dá através das amigas, por meio da internet e por meio de vídeos de sexo assistidos na casa de amigas. O começo dos envolvimentos se dá muitas vezes dentro das casas das próprias adolescentes ou dos conhecidos. Interessante observar – dado também analisado - que um dos problemas apontados pela direção da unidade relaciona-se à dificuldade de exercer o “controle” e a “contenção” das meninas no que diz respeito aos relacionamentos afetivo-sexuais estabelecidos entre elas “dentro” do Degase, bem como à “veemência” e à “intensidade” com que algumas delas vivenciam internamente as relações envolvendo “desejo” e “sexo”. O importante a ser considerado nesse argumento é que o “sexo” e as relações homoafetivas colocam-se como uma “dificuldade” encontrada a mais para “controlar” as internas. Ou seja, a vivência das relações sexuais-afetivas entre as internas é apontada como elemento que dificulta o estabelecimento da “ordem” e da “disciplina” em razão da frequente “passionalidade” envolvida nas relações entre as meninas. Por outro lado, esse também é o discurso que está por trás de algumas cenas de violência que “conduziram” as meninas ao Degase. O discurso volta-se para os “excessos”, o “descontrole” e a “impulsividade” das meninas, no que tange às demandas envolvendo “competição”, “poder” e “ciúmes” no contexto das relações sexuais e afetivas. Pensando nisso tudo, buscaremos discorrer sobre os resultados e as questões mais significativas da análise em curso.
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