28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-16A - GT 16 - Gênero, Sexualidade e Diversidade Sexual |
31306 - DIRETO AO PONTO: UMA ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE PARA GARANTIA DE DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DE ADOLESCENTES DE VITÓRIA/ES ALANA PEREIRA RODRIGUES - PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, DENISE BUSSÚ LIMA - PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA
A Unidade de Saúde da Família Grande Vitória (USFGV), atende quatro bairros da periferia do Município de Vitória/ES. Em 2015, por ocasião do dia do estudante, uma escola de ensino fundamental do território fez um convite para a equipe da USFGV pois havia demanda dos alunos em falar sobre sexualidade. Foi realizada uma atividade que consistiu em motivar os alunos a escrever e depositar anonimamente em uma caixa suas dúvidas acerca do tema. Todas as perguntas foram respondidas de maneira direta, com a mesma linguagem utilizada por eles. Na ocasião a atividade foi bem avaliada pelos envolvidos.
Ao final de 2015 outra escola do território demandou a abordagem pois registrou cinco adolescentes gestantes, com relatos consistentes de reunião dos alunos no contra turno para experimentação de práticas sexuais diversas em evento intitulado “Festa na Árvore”, em alusão ao funk com mesmo nome do MC TH. Somado a isso os números de sífilis relativos aos bairros atendidos pela USFGV encontravam-se em ascensão. A realidade de saúde dos adolescentes é um desafio: há uma falta de programas efetivos, baixa procura nos serviços e despreparo para acolhê-los. Vemos um cenário de crescimento das IST's, números elevados de gravidez, uso de drogas e outros. Com o objetivo de Promover a Saúde Integral do Adolescente, a experiência descrita surge como estratégia de enfrentar essa realidade.
Utilizamos a Educação Popular em Saúde que visa o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos indivíduos no cuidado com a saúde, não pela imposição de um saber científico detido pelo profissional de saúde, mas na perspectiva de que a transversalidade da relação profissional-usuário é potente à transformação social necessária.
Em 2016 o projeto teve início de maneira sistematizada, atendendo turmas de 7º, 8º e 9º ano das três escolas do território da USFGV. Toda execução é pactuada diretamente com a direção e a equipe pedagógica, que sensibilizam os professores. A entrada nas turmas é realizada mediante acordo direto com os alunos e destaca-se que o projeto vem tendo boa aceitação da comunidade escolar.
Após a pactuação é deixada na turma uma caixa onde os alunos podem fazer as perguntas livremente, sem a necessidade de se identificar. A equipe recolhe e faz a organização das perguntas para que possam ser respondidas por tema e retornam com a caixa contendo material de educação em saúde, se dedicando a responder todas as perguntas na linguagem em que foram feitas.
Com a maior aproximação, houve a demanda de adequação do fluxo do serviço de saúde para atendimento dos adolescentes. O que nos levou a criar o Rolezinho, no qual a USFGV abre exclusivamente em um sábado para os adolescentes. Na ocasião são ofertados todos os serviços disponíveis como a realização de teste rápido de Sífilis, HIV e Gravidez, distribuição de preservativo, realização de preventivo, consulta médica e de enfermagem, realização e agendamento de exames clínicos e laboratoriais, atendimento odontológico, vacinação, distribuição da Caderneta do Adolescente, atualização do Cartão SUS, roda de conversa, corte de cabelo, oficina de auto maquiagem, grafite e penteado, cabine de selfie, sorteio de brindes e orientações diversas. Já foram realizadas quatro edições, preferencialmente no primeiro final de semana de dezembro, em alusão ao Dia Internacional de Luta contra a AIDS.
O projeto conta com o reconhecimento de Boa Prática da Fundação ABRINQ e de Experiência Exitosa pela UNICEF e mostra que a utilização de uma metodologia simples e linguagem acessível, tem promovido grande vinculação do serviço de saúde junto ao público-alvo. Iniciou parceria com as Secretarias de Assistência Social e de Cidadania e Direitos Humanos e com uma escola do ensino médio próximo da USFGV.
No município, de 2016 a 2017, a prevalência de gravidez na adolescência foi reduzida em 4,77%. No território atendido pela USFGV, onde é realizado o projeto, a redução foi de 25%, segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Dentre as 212 adolescentes que participaram do Projeto em 2016, apenas 2 engravidaram (prevalência de 0,95%), enquanto que as 815 adolescentes que não foram atendidas pela iniciativa, a prevalência de gravidez chegou a 4,17%. Outro dado relevante diz respeito ao aumento em 75% dos atendimentos realizados aos adolescentes na USFGV registrado em 2018.
A iniciativa garante a prioridade do direito dos adolescentes à saúde e os resultados apontam que a construção de vínculo, os adolescentes protagonizam o cuidado de sua saúde, possibilitando que outras questões transversais à temática da sexualidade sejam discutidas, como a violência e a saúde mental.
Destaca-se que muitas tensões se colocam no trabalho com a sexualidade de adolescentes no contexto escolar. Dentro do projeto o manejo dessas questões acontece pautado no diálogo e não no enfrentamento, em todas as instâncias envolvidas. Essa aposta foi fundamental para a continuidade e ampliação do projeto.
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