30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-16D - GT 16 - Experiências e políticas de saúde reprodutiva |
31011 - PRIMEIROS OLHARES PARA O CAMPO – PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, SAÚDE E GESTANTES DE SALVADOR (BA) LETICIA BEZERRA DE LIMA - PPGNEIM (UFBA) / CEFET-RJ
O presente relato de experiência está localizado em um contexto de mudanças e transformações em todas as esferas da vida de uma jovem pesquisadora-professora-militante. Cheguei na cidade de Salvador em março do presente ano com o intuito de cursar o doutorado em um programa de pós-graduação interdisciplinar em uma universidade pública. Vi nesta cidade a possibilidade de conhecer melhor sobre uma realidade que já me instiga há alguns anos, que é o atendimento humanizado às gestantes na rede pública. Por isso, este trabalho tem como objetivo compartilhar as primeiras experiências de uma “outsider within” em terras soteropolitanas. A experiência de não ser baiana, não pertencer à área de saúde e estar em constante exercício do olhar “estranhado” da sociologia, faz com que neste momento tenha algumas reflexões a fazer. Foi a partir da inserção em dois mundos que me aproximo no contexto do parto humanizado em Salvador: (1) das doulas; (2) profissionais da rede básica de atendimento. Me juntei às doulas a partir do processo de associação. Em reunião geral, mapeei a situação do atendimento às gestantes e tomei ciência sobre a existência de um centro de parto normal no município. Achei interessante que este centro de parto normal é público, porém administrado por uma organização religiosa. Ao contrário da experiência do Rio de Janeiro, onde tinha conhecimento de uma casa de parto municipal na zona oeste, fiquei curiosa e interessada em saber mais sobre este centro. O alerta estava ligado e sabia que precisava chegar até lá. (Importante salientar que não atuo diretamente no acompanhamento de parto e pós-parto. Me insiro nesta temática através do exercício da pesquisa científica e também da educação perinatal). Alguns dias depois, soube de uma roda de conversa que teria em uma unidade de saúde da família na região periférica da cidade, distante 20 km do centro. Acreditei que se tratava de uma conversa entre profissionais da saúde e gestantes, porém, quando cheguei lá em uma tarde de quinta-feira, me deparei com um grupo de profissionais da unidade e discentes de medicina em estágio/residência na área de saúde da família. Este contato permitiu com que eu começasse a compreender o atendimento de pré-natal na unidade e o número reduzido de gestantes que pariram no centro de parto. Ouvi, nesta oportunidade, que as mulheres não escolhem a instituição por lá se tratar de um “parto a seco”, sem intervenções, como a episiotomia. Este discurso se repetiu quando estive com mestrandas de enfermagem da mesma instituição em que estudo. Neste momento tenho procurado pensar nos próximos passos, para conseguir chegar até essas gestantes e ouvi-las. É preciso compreender porque naturalizaram as intervenções no parto, neste caso, tratando-se de uma violência obstétrica. Quais são as fontes de informação que fundamentam essa ideia? O que elas acham que seria um parto a seco? Será que elas conseguiram o parto desejado? Quais são as características de um parto respeitoso para elas? Além tudo penso que é preciso criar estratégias de diálogo sobre o processo de trabalho de parto (não apenas, claro), uma vez que parece não ser sanado nos atendimentos de pré-natal. Para além dos interesses de pesquisa acadêmica, penso ser fundamental trabalhar na ação direta com gestantes que estão realizando o pré-natal nas unidades de saúde da família para construir em várias frentes a ideia de que o parto pode ser diferente, pode ser pautado na medicina baseada em evidências e que a saúde delas estarão asseguradas em um pré-natal, parto e pós- parto respeitoso em todos os sentidos.
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