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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-16B - GT 16 - Gestação, parto e violência obstétrica

29323 - A CULTURA DO NASCIMENTO COMO EVENTO BIOMÉDICO E A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: A VOZ DAS MULHERES
ALINE ALVES VELEDA - UFCSPA, MARCIA CORDEIRO DA CUNHA - HCPA


Introdução: A gestação, o parto e nascimento, além de possuírem definições biológicas, também possuem significados culturais. Como consequência da medicalização desses processos, da objetificação dos corpos femininos em trabalho de parto e da supervalorização do saber médico, o momento do parto vem sendo descrito como uma experiência violenta. Torna-se relevante conhecer as percepções e modos de vida de mulheres, bem como conhecer quais as práticas obstétricas realizadas sem evidência científica que apesar de desencorajadas, são praticadas e reconhecidas como rotina junto às mulheres que ganham seus filhos em Porto Alegre. Assim, esta pesquisa teve como questão norteadora a seguinte: “Quais as informações recebidas pelas mulheres durante pré-natal, parto e puerpério que possam estar reforçando uma cultura do nascimento como evento biomédico ”. Objetivo: Conhecer as informações recebidas por mulheres durante pré-natal, parto e puerpério que possam estar reforçando a cultura do nascimento como um evento biomédico e possibilitando a perpetuação da violência obstétrica (VO) nos ambientes de cuidado. Metodologia: Estudo de abordagem qualitativa, descritivo exploratório. Participaram do estudo seis mulheres, puérperas, convidadas através de uma rede social virtual para compor uma amostra de conveniência. A coleta ocorreu no domicílio das participantes através de entrevista qualitativa de caráter conversacional e da utilização de um diário de campo. As entrevistas foram gravadas e transcritas e garantiram-se os aspectos éticos de pesquisa. O conteúdo das entrevistas foi analisado sob a perspectiva metodológica da análise de conteúdo temática de Minayo. As informações foram organizadas em duas categorias: “Público versus privado: percepções sobre os serviços de saúde” e a categoria “Redes sociais de apoio a maternidade”. Resultados e discussão: A análise permitiu concluir que a vivência de uma gestação e um parto sofre influência do tipo de instituição e dos profissionais que surgem nas trajetórias de assistência das mulheres. O setor privado pareceu estar mais propenso a intervir na experiência do parto, aumentando a atuação médica e diminuindo a autonomia das mulheres. As instituições públicas parecem ser um espaço menos intervencionista e com maior potencial para mudanças nas práticas no parto e do nascimento, apesar das dificuldades de certos profissionais com a mudança de paradigma no cuidado. As redes sociais de apoio das mulheres são fatores protetivos contra a ocorrência de VO e, em muitos casos, preenchem a lacuna da assistência pré-natal quanto ao conhecimento. Chega-se à conclusão que existem informações recebidas pelas mulheres durante o período gravídico puerperal que reforça a cultura do nascimento como um evento biomédico não fisiológico, o que garante um ambiente propenso ao uso de tecnologias inadequadas e intervenções desnecessárias que culminam em experiências de violência. Considerações Finais: A lógica de atendimento vista dentro da instituição pública parece caminhar para menor intervenção no trabalho de parto e valorizar os aspectos naturais da parturição. Outro aspecto a ser considerado é que a gestação, como evento social, e devido a diversidade de significados que possui, dificilmente é vivida sozinha. No caso das mulheres ouvidas nesse estudo, observou-se a participação importante da família, das amizades, da valorização do saber popular e de figuras femininas para aquisição de conhecimento para experiência do parto. Acredita-se que o principal elemento protetivo a violência obstétrica mais relevante desse estudo foi o conhecimento. Esse, transmitido através das redes sociais que se tecem ao redor da mulher que vive a gestação, ou adquirido de forma autônoma por essas mulheres preencheu a lacuna de informações fornecidas pelos profissionais de saúde que as acompanharam no pré-natal. O dever do profissional de saúde é compartilhar as informações baseadas em evidência que sirvam como subsídio para tomada de decisão das mulheres e auxiliar no processo de empoderamento feminino na vivência da gestação, contribuindo para humanização do nascimento. A cultura biomédica de atenção reforça desigualdades e mantém os profissionais em posição confortável e de superioridade as mulheres, que deveriam ser as protagonistas desse momento e terem suas potencialidades e particularidades levadas em consideração em todas as etapas do cuidado. Talvez o fortalecimento de mecanismos legais que coíbam os maus-tratos fosse necessário para que a necessidade de mudança na assistência fosse percebida por alguns grupos de profissionais. Por fim, fugindo da lógica punitiva como propulsora de mudança, o enfoque no fortalecimento feminino, no compartilhamento de saberes com as mulheres, parece ser um caminho estratégico potente para a transformação da assistência.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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