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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-16B - GT 16 - Gestação, parto e violência obstétrica

31488 - POSIÇÃO DE PARTO: ESCOLHAS POSSÍVEIS A MULHERES ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADE DE SÃO PAULO, SP, BRASIL
DENISE YOSHIE NIY - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DA USP, CARMEN SIMONE GRILO DINIZ - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DA USP, BRUNA DIAS ALONSO - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DA USP, JAMILE CLARO DE CASTRO BUSSADORI - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS


No Brasil, quase todos nascimentos acontecem em hospitais, com assistência de profissional treinado. Há necessidade de aprimorar a qualidade assistencial, com práticas mais seguras, eliminação de procedimentos danosos e a oferta de uma experiência mais positiva para a mulher. A escolha pela parturiente da posição para parir tem numerosos benefícios, como maior satisfação e o fortalecimento da autonomia. Porém, mais de 90% das mulheres de risco habitual dão à luz em litotomia no país, muitas vezes com membros atados, em posição antifisiológica e prejudicial. Esta imobilização corresponde a uma forma de violência obstétrica, também chamada de desrespeito, abuso e maus-tratos.
O objetivo deste trabalho é compreender os diferentes fatores intervenientes na escolha da posição para o parto em uma perspectiva de gênero.
Métodos
Este trabalho integra o projeto Estratégias para a incorporação de inovações na assistência ao parto e ao recém-nascido: intervenção piloto no SUS da Iniciativa Hospital Amigo da Mulher e da Criança – IHAMC, aprovado pelo COEP, cujo objetivo é desenvolver e avaliar um piloto de implementação da IHAMC em 2 maternidades SUS, com metodologia orientada pelo Laboratório de Mudança. Considera os dados produzidos nas etapas iniciais do projeto, com diferentes estratégias, como observação, grupos focais e entrevistas.
Partiu-se do entendimento da IHAMC de que os serviços devem proteger e promover os direitos humanos das mulheres, com assistência baseada em evidências científicas, culturalmente competente, livre de violência obstétrica. As concepções de gênero construídas histórica e socialmente levam ao alijamento da mulher do processo de parturição, uma vez que seu corpo e a reprodução passam a ser objeto de domínio de outrem – o homem (seu companheiro) ou a medicina.
Resultados e discussão
A maternidade fica no sul de São Paulo e atende cerca de 450 nascimentos por mês, 30% por cesáreas. A clientela é majoritariamente jovem, preta ou parda, com até 11 anos de estudo e solteira. A rotina de registro de dados se restringia aos itens de informação obrigatória pelos sistemas governamentais; profissionais e gestores não sabiam informar a proporção de partos em litotomia.
Os profissionais de saúde muitas vezes “posicionavam” as mulheres, deitando-as de costas na cama, com joelhos flexionados, e muito raramente com o encosto elevado. Observou-se o acompanhante fazer o mesmo: ela estava deitada de lado e seu companheiro a fez ficar em decúbito dorsal e fletiu cada um dos seus joelhos, colocando os pés bem próximos ao bumbum. Duas enfermeiras obstétricas (EOs) entraram no quarto em seguida; era hora de “fazer força”. A mulher inclinava a cabeça para trás, as EOs ordenavam: “cola o queixo no peito”, ela atendia; a cena se repetiu por diversos puxos. Até que uma EO a orientou a descer da cama e a sentar na banqueta de parto. A parturiente silenciosamente obedeceu. Passados mais alguns minutos, a EO retirou-se do quarto, retornando com uma médica obstetra; esta rapidamente recomendou a transferência para o centro cirúrgico (CC), dizendo que no CC seria realizada analgesia – embora o serviço não disponibilize analgesia farmacológica para o parto normal. Em momento algum perguntaram à parturiente sobre seu bem-estar ou sua vontade. As assimetrias das relações colocavam-na sempre em posição subalterna: na presença exclusiva do companheiro, ela era reduzida ao seu papel de procriadora conforme propunham pensadores misóginos de fins do séc. XIX, obedecendo ao homem de forma silenciosa e diligente. Quando um profissional de saúde adentrava o quarto, este assumia a direção da cena, conforme uma hierarquia tácita que colocava o médico no topo, seguindo-se EOs e o acompanhante, sendo a mulher reduzida a objeto, a um corpo em parturição, desprovido de subjetividade, de individualidade.
Segundo gestores e profissionais do serviço, os médicos eram menos propensos que EOs a atender partos em posições verticalizadas. A litotomia era reforçada e incentivada cotidianamente.
Para as mulheres bem informadas – com um plano de parto – era reservada alguma possibilidade de escolha. Ainda assim, sofriam retaliações da equipe, na forma de comentários desaprovadores ou ainda interdições ao uso de recursos em tese disponíveis.
Conclusão
As mulheres pouco eram incentivadas a experimentar diferentes posições para dar à luz, ao contrário, havia um movimento tácito para “posicioná-las” em litotomia. Mesmo quando se experimentavam posições diferentes, as mudanças de posição eram comandadas à mulher, sem consulta ou informação prévia a ela. Os estudos sobre satisfação sugerem que a participação da mulher na escolha da posição de parto é mais importante do que a posição em si. Além de fomentar o treinamento dos profissionais para atender o parto em diferentes posições, deve-se discutir a autonomia da mulher e seu direito ao protagonismo nas decisões que envolvem seu corpo.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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