Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-16A - GT 16 - Violências e Aborto

31157 - A CONFIGURAÇÃO SUBJETIVA DO SOFRIMENTO PSÍQUICO REFERENTE AS DIFERENTES FORMAS DE VIOLÊNCIA VIVENCIADAS NO CONTEXTO FAMILIAR
CLARISSA GOMES VIDAL - UNICEUB


Este projeto aborda possíveis desdobramentos na saúde mental de uma mulher inserida em um contexto de violência familiar. Nesse sentido, ele tem como foco compreender a configuração subjetiva do sofrimento psíquico de uma vítima de diversos tipos de violência: físico, psicológico, sexual, moral e patrimonial. O referencial que sustenta essa pesquisa é composto pela unidade entre teoria da subjetividade, metodologia construtivo-interpretativa e epistemologia qualitativa, proposta pela obra de González Rey (2005, 2017). A categoria do sentido subjetivo representa assim a unidade do simbólico e do emocional. O simbólico representa os recursos que são utilizados para retratar o mundo, são produções sociais, estão na base das dinâmicas da cultura. Não é um processo estático, é cultural e individual. Já o emocional qualifica os diferentes processos experienciados, uma vez que a emoção é configuradora das diferentes experiências humanas. A tensão entre o simbólico e o emocional é que fomenta o sentido subjetivo. A configuração subjetiva é compreendida como sistemas de sentidos subjetivos, ou seja, teias de sentidos subjetivos produzidas ao longo de processos e eventos marcantes experienciados. Representa núcleos dinâmicos de sentidos subjetivos, que tem como base diferentes experiências vivenciadas por um grupo social. Os diferentes sentidos subjetivos se organizam enquanto sistema, relacionados com áreas específicas da vida do indivíduo (González Rey, 2015). Para tanto o trabalho abordará ainda, o projeto de poder de dominação-exploração patriarcal, papeis exercidos e esperados em razão do gênero, raízes da violência masculina e formas de expressão dessa violência. Enfatiza-se, na discussão proposta, os desdobramentos desses aspectos sociais na vida do indivíduo. Tais aspectos dominantes podem repercutir na forma como a pessoa se enxerga, como se legitima no mundo e como a relação conjugal foi configurada dentro dessas bases sociais dominantes. O caso trabalhado refere-se a Glória, 52 anos, usuária de um CAPS, casada, experienciou desde sua infância diversas formas de violência em sua família nuclear. Nota-se que muitas das violências sofridas por Glória relacionam-se a questões de gênero. Compõe seu quadro de sofrimento as interações familiares vivenciadas pela participante, bem como os abusos sofridos em sua infância. Glória vive um casamento abusivo marcado por diversas formas de violência. A participante é mãe de uma jovem de 20 anos, que também apresenta quadro de sofrimento psíquico. Glória é usuária de um CAPS para tratamento de depressão, transtorno alimentar e crises nervosas. Os instrumentos utilizados nessa metodologia rompem com a lógica estímulo-resposta positivista. Eles se constituem como recursos para provocar a expressão do participante. Foram utilizados como recurso dialógico: os sistemas conversacionais; o complemento de frases e o questionário aberto. Foram realizados até a presente data 12 encontros. Em uma das dinâmicas dialógicas a participante relatou: “eu engravidei em 96, eu não queria engravidar porque eu achava assim: eu não posso engravidar. Eu grávida, cansada trabalhando o dia inteiro, eu era o braço forte da loja. Eu treinava a vendedora, eu fazia controle de estoque, eu fazia o pedido, eu vendia, eu as vezes fazia o papel de caixa, eu visitava escola e ele ficava lá sentado” (...) “a gente discutiu uma vez no carro (...) ele me deixou sozinha, grávida com 8 meses na estrada. Eu sentei sozinha e fiquei chorando e ele foi para o apartamento”. Ao comentar seu período gestacional nota-se que Glória teve uma gravidez conturbada, com brigas e desentendimentos em casa. É possível perceber o indicador de sentidos subjetivos relacionados ao estresse, maus-tratos e à violência sofrida por parceiro conjugal. O trecho ainda revela mágoa, ressentimento, tristeza e revolta. Sobre a subjetividade social do casal, não só por esse trecho, mas por diversas expressões ao longo da pesquisa, é possível notar ausência de diálogos, descontrole, descompasso em relação a objetivos de vida; relação desigual e tóxica. Glória em vários relatos desabafa sobre como se sentia incompetente em relação à maternidade e como “ser mãe” nunca foi um projeto de vida, mas aceitou porque era a decisão “correta” a seguir. Nessa lógica observa-se que a subjetividade social do casal pesquisado, não “atendia” ao que era esperado em relação aos papeis socialmente desempenhados por ambos. Ressalta-se que a gênese de muitas das expectativas dos cônjuges estão fundamentadas nessas naturalizações socialmente impostas. Sobre a mulher recai a maternidade não como uma escolha, mas como o único caminho possível para uma “vida realizada”, sendo possivelmente fonte de intenso sofrimento psíquico a longo prazo. Diante do cenário político atual é imprescindível que essa temática seja problematizada para que os avanços conquistados até então, em relação aos direitos da mulher não enfrentem mais retrocessos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900