29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-16B - GT 16 - Experiências e políticas de saúde reprodutiva |
29833 - A TRAJETÓRIA DA GESTAÇÃO, PARTO E ÓBITO MATERNO EM GUINÉ-BISSAU: UM OLHAR NA PERSPECTIVA DA FAMÍLIA. AMINATA MENDES - UFC, FERNANDA NOGUEIRA BARBOSA LOPES - UFC, MARIA DO SOCORRO DE SOUSA - UFC, CARLOS ERASMO SANHUEZA SANZANA - UFC, ILKA ALCÂNTARA DE ARAÚJO - UFC, FRANCISCO HERLÂNIO COSTA CARVALHO. - UFC
INTRODUÇÃO
A mortalidade materna é um grave problema de saúde pública, especialmente em países subdesenvolvidos como Guiné-Bissau,registrou-se em 2015 uma taxa de mortalidade materna de 549/100.000 nascidos vivos. A morte materna é um evento grave de violação dos direitos mais essenciais à saúde, sendo assim considerada uma tragédia para mulher e sua família, uma vez que a morte da mãe priva o bebê do aleitamento, do contato e do carinho materno.
OBJETIVO
Relatar o resultado de uma pesquisa sobre a trajetória da gestação, parto e óbito materno sob a perspectiva de familiares de mulheres que faleceram em um hospital de referência em Guiné-Bissau.
METODOLOGIA
Foram selecionados familiares de mulheres que foram a óbitos entre Outubro e Dezembro de 2018 no único hospital público de referência obstétrica terciário do país localizado em Bissau, capital de Guiné-Bissau. Através de dados de prontuários, foi realizado contato telefônico para agendamento da entrevista. Realizou-se entrevistas semiestruturadas com as seguintes perguntas norteadoras: 1) fale sobre o percurso da mulher durante a gestação, parto até o momento da morte; 2) fale sobre por qual motivo e como foi o momento que a mulher procurou o hospital e sobre como ela foi atendida no hospital.
Levando em conta o critério do Princípio da Saturação e Amostragem Teórica, 10 participantes compuseram a amostra deste estudo.Os dados foram analisados conforme a Análise de Conteúdo proposta por Bardin. Todas as entrevistas foram gravadas em língua crioula e seus conteúdos foram transcritos, traduzidos para a língua portuguesa e posteriormente submetidos à análise temática de conteúdo. A pesquisa foi iniciada mediante anuência do hospital pesquisado e foi ainda aprovada pelo comitê de ética da Guiné-Bissau.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1) “Da gestação a morte prematura e inesperada”.
A morte é entendida por diferentes abordagens, seja ela filosófica, religiosa ou científica, representando as variedades de emoções e concepções de cada sociedade ou cultura. Na tradiçãoafricana a morte é a passagem de uma vida para outra, porém quando acontece de forma precoce ou acidental não é sinônimo de uma boa passagem.
“A morte da minha irmã foi surpresa para mim, não me esperava que ela fosse morrer assim, nunca teve problema quando estava grávida, ela estava sã e muito bem da saúde” (10).
“Ela estava bem, ficamos conversando até por volta de meia noite e fomos transferidos de bloco operatório para maternidade. [...] fiquei esperando fora e não demorou muito o médico que realizou a cesariana dela me chamou e avisando que ela morreu”(4).
A morte de uma mulher no parto ou logo após é um desfecho trágico para a sociedade, especialmente para familiares, que carregam sentimentos de desconforto, dor e surpresa por considerar que seu familiar não apresentava os sinais de risco ou qualquer problema relacionado a gravidez, sentimentos esses constatados nas falas dos entrevistados.
2) “Negligência na assistência obstétrica: a violência velada no corpo que pare”.
A presença de acompanhante durante o parto é preconizada pela OMS no intuito de garantir apoio emocional e conforto físico a mulher e também possibilita a observação de procedimentos realizados e seu desfecho. Portanto, profissionais de saúde tem obrigação ética e legal em oferecer informações claras e completas ao acompanhante. Diferente do que foi relatado pelos entrevistados.
“Depois lhe levaram para sala do parto, de lá que eu não soube se lá na sala que ela faleceu ou depois da cirurgia, porque os médicos não permitiram entrar na sala nem ficar por perto da paciente” (6).
O hospital pesquisado conta com estrutura precária de recursos humanos e materiais, além disso também sofre com constante interrupção de energia elétrica e água encanada. Embora seja uma instituição pública, o acesso a este serviço é determinado pelo nível socioeconômico da paciente, que deve comprar insumos e medicamentos e ainda pagar por serviços médicos.
“Minha irmã estava precisando de cuidado intensivo, mas não tinha médico, me disseram que todos tinham ido embora” (9).
“Quando chegamos à maternidade nos disseram que ela precisava fazer cesárea, só que nós que atrasamos por causa do dinheiro, porque nos pediram para pagar 50 mil Franco. Os médicos não atenderam por causa do dinheiro, até que ela acabou morrendo”(7).
“(...)A enfermeira me pediu 10 mil alegando que tinha que pagar o trabalho que ela fez eu tirei dinheiro dei a ela (...)Porque eu já sabia quando não tens dinheiro dificilmente tem bom tratamento aqui em Bissau”(8).
O relato dos entrevistados explicita as inúmeras dificuldades como a falta de acesso e assistência as mulheres no hospital pesquisado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É inegável o impacto do óbito materno nas famílias dos pesquisados. Os relatos apresentados aqui apontam que grandes esforços devem ser feitos por gestores daquela instituição no intuito de garantir assistência integral de qualidade para todas as mulheres ali atendidas.
|