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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-16B - GT 16 - Experiências e políticas de saúde reprodutiva

30525 - ENTRE-LUGARES: AGENCIAMENTOS DE PARTEIRAS INDÍGENAS COM O SISTEMA DE SAÚDE LOCAL NO LITORAL NORTE DA PARAÍBA
FRANCISCO PAULINO DE OLIVEIRA NETO - UFPB, LUZIANA MARQUES DA FONSECA SILVA - UFPB


Trabalhar com parteiras indígenas nos lança por outras veredas de compreensão sobre a vida, o nascer, o tempo e o mundo. O presente trabalho é fruto desse contato propiciado pelo projeto de pesquisa e de extensão “PARTEJAR: um olhar sobre as Parteiras Potiguaras” um projeto multidisciplinar constituído por pesquisadoras, professoras e alunos de diversas áreas como antropologia, enfermagem, medicina, cinema e comunicação, que desenvolvem atividades de pesquisa e ações de extensão nas 32 aldeias Potiguara do Litoral Norte da Paraíba, mais precisamente nos municípios de Rio Tinto, Marcação e Baía da Traição onde essas mulheres estão localizadas. A partir de um mapeamento quantitativo preliminar identificamos cerca de 25 parteiras que estão distribuídas nos respectivos municípios. O principal objetivo deste trabalho é refletir acerca da assistência ao parto a partir das relações entre as parteiras potiguaras e o sistema de saúde local.
Na literatura, comumente, o trabalho das parteiras está relacionado à dimensão do sagrado, da ancestralidade e enredado nos laços sociais de trocas entre moradores de uma mesma localidade (FLEISCHER, 2017); e nas aldeias potiguaras esses laços têm se apresentado, sobretudo, nas relações de parentesco. Durante as rodas de diálogos realizadas nas atividades do projeto, a temática central girava em torno do conjunto de saberes e práticas desenvolvidos nos cuidados de pré-natal, parto e puerpério, e os relatos das parteiras remontam o ritual que envolvia, especialmente, o momento do parto com rezas, correlações com a fase da lua, ervas e posições das parturientes, assim como, falas sobre os festejos da família e da vizinhança com o nascimento. A rede de cuidados se estendia às primeiras semanas do “resguardo”, quando diferentes mulheres da comunidade assumiam as tarefas domésticas da parturiente. As práticas de assistência ao parto e ao puerpério eram carregadas de simbolismos e afetos que perpassavam uma rede de cuidados tecidas pelos laços de compadrio, parentesco e vizinhança. Note-se que usamos o tempo verbal no passado, uma vez que estas eram experiências e vozes, por vez saudosistas, de práticas que ocorriam há poucas décadas. Os saberes não são mais passados exclusivamente pela herança ancestral, ou pelo reconhecimento de um dom sagrado dessas mulheres, mas soma-se a estes a formação das parteiras através de um curso ofertado pelo serviço de saúde local. A intervenção sobre os modos de “partejar” se insere em um processo maior de medicalização do parto ligados ao avanço da obstetrícia moderna. Em oposição ao domínio técnico da medicina, contemporaneamente se questiona a medicalização e hospitalização do parto, sobretudo, no que se refere às gestantes indígenas e seus bebês (FLEISHER, 2011). Neste sentido, as vivências proporcionadas pelas atividades do projeto supracitado têm nos inquietado e deflagrado questões do tipo: Se diante da hegemonia da obstetrícia moderna os saberes e crenças remanescentes das parteiras indígenas potiguaras estariam presentes na assistência ao parto nas aldeias investigadas? Como se dão as relações entre as parteiras e o serviço de saúde?
As questões suscitadas nas incursões em campo nas aldeias – tanto nos momentos de rodas de conversa, como nas entrevistas feitas pelo grupo de pesquisa e os debates das sessões de filmes propostas pela equipe do cinema que integra o projeto – serão abordadas a partir do aporte da antropologia. Nas interlocuções identificamos que muitas das mulheres (não todas) que se auto identificam enquanto parteiras mantém relações profissionais com as instituições de saúde local, exercendo funções de agentes comunitárias de saúde, técnicas em enfermagem ou enfermeiras. Isto posto, temos como mote a reflexão sobre esse “entre-lugares” no qual essas mulheres transitam e se (como) de alguma forma essa ligação institucional interfere em suas práticas na parteria. Em contraste ao discurso biomédico, as formas de fazer nascer praticadas pelas parteiras indígenas se configuram como um processo de cuidado carregado de significações e construções simbólicas que guiam suas práticas a partir de relações intersubjetivas com as parturientes. No presente cenário institucionalizado das formas de fazer nascer, é lugar comum que as instituições médicas ocupem uma posição dominante e funcionam como um dispositivo “biopolítico” (FOUCAULT, 1976) exercendo um poder disciplinar sobre o corpo e vida das mulheres. Vale salientar que não temos a pretensão de com este trabalho apresentar respostas e conclusões fechadas a respeito da organização e da dinâmica das parteiras potiguaras, e sim, apresentar de forma preliminar as nossas inquietações, uma vez que a “arte de partejar” tem se apresentado como um terreno fértil de reflexão e que nos desafia a um constante repensar sobre esse “entre-lugares”.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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