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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-16D - GT 16 - Gênero, Sexualidade e Diversidade Sexual

29892 - EDUCAÇÃO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA: COMO ESCAPAR ÀS ARMADILHAS DO "BOM ADESTRAMENTO"
ALINE VERAS MORAIS BRILHANTE - UNIVERSIDADE DE FORTALEZA, ANA KARLA RAMALHO PAIXÃO - UNIVERSIDADE DE FORTALEZA, YURI FONTENELLE LIMA MONTENEGRO - UNIVERSIDADE DE FORTALEZA


INTRODUÇÃO
O estudo da sexualidade humana torna-se oportuno para lidar com diferentes problemas sociais: infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), gravidezes inoportunas e violência associada ao gênero(1)(2)(3)(4). Tendo em vista os dois primeiros problemas, desde 1996 o estudo da sexualidade humana passou a compor transversalmente os Parâmetros Curriculares Nacionais(5). Contudo, observa-se que esta inserção negligencia a compreensão da sexualidade humana sob uma perspectiva histórico-cultural(5)(6).
Assim, emerge a problemática: como abordar a educação sexual na adolescência sem cair na pedagogização nem reproduzir relações de poder-saber(7)? Este estudo parte da consideração do poder social do discurso(8), da compreensão da linguagem como máquina simbólica-ideológica(9) e da concepção pedagógica Freiriana(10),(11),(12) a fim de ressaltar os interesses e resistências dos jovens estudantes de escola pública sobre a educação sexual, contextualizando-as com as estruturas de poder e as mudanças sócio-históricas em andamento.
OBJETIVOS
Analisar as perspectivas e as expectativas de adolescentes da rede pública sobre a educação sexual.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada em escolas públicas da Secretaria Executiva da Regional VI de Fortaleza, Ceará. Participaram vinte estudantes do ensino médio de 14 a 18 anos que foram selecionados durante visitas para reconhecimento de campo por exercerem posição de liderança em seus grupos e cujos pais assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
Utilizou-se saturação para fechamento da amostragem teórica(13). Os dados foram coletados no período de julho a outubro de 2016 mediante entrevistas semiestruturadas e analisadas a partir da análise do discurso fundamentado na intercessão entre o pensamento Foucaultiano e os Estudos Culturais de vertente pós-estruturalista(14).
O trabalho obteve aprove do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Fortaleza sob o número 435/2011.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo oito homens e doze mulheres. Destes, quatro homens e três mulheres estavam namorando e quatro homens e mulheres, respectivamente, já tinham tido algum intercurso sexual. Quanto à orientação sexual, quatorze se declararam heterossexuais, quatro homossexuais, uma adolescente se declarou bissexual e um adolescente não soube definir seu objeto de interesse sexual.
A sociedade moderna está ciente da importância de abordar questões de sexualidade na adolescência, contudo, o discurso dos adolescentes aponta que essa abordagem tem se caracterizado pela falta de referências teórico adequado e produção do medo, comprometendo o caráter preventivo da ação educativa.
A ancoragem da educação sexual no binômio saúde-doença compromete a credibilidade do docente perante os adolescentes, para os quais o sexo é associado ao prazer e as ISTs não fazem parte do cotidiano. “[...]veio uma enfermeira aqui, mostrou várias fotos horrorosas de pênis com feridas e verrugas. [...] desculpa, mas é bom. Sexo é bom, é gostoso. Não conheço ninguém que ficou igual àquelas fotos.” (A1).
A ênfase no controle de natalidade, ao ignorar os múltiplos sentidos possíveis de uma gestação na adolescência e/ou fora de um núcleo familiar centrado no matrimônio heteronormativo, tornam a proposta ineficaz e promotora de exclusão e vulnerabilidade na medida em que responsabiliza a mulher adolescente pela gravidez. “Olha minha irmã se casou com 16 anos e aí? Ela quis engravidar. [...] no caso dela pelo menos a gravidez fez ela criar juízo.” (A4).
Ainda, a falta de embasamento para abordar a sexualidade humana reproduz a violência de gênero à medida que a ação educativa se alia a narrativas hegemônicas e à lógica heteronormativa. “Eu fiquei ofendido sim! Ele tá falando que tem que ter respeito [...] aí solta que pra ser gay não precisa ser afetado. E ser afetado é um problema?” (A15).
Observa-se a persistência de práticas educativas verticalizadas, que remetem a educação bancária, aquela em que apenas se reproduz os conhecimentos, fazendo do sujeito um ser passivo, visto como aquele que não tem condições de ser protagonista de sua própria história (12).
É exatamente essa conotação que causa estranheza aos adolescentes, para quem é nítida a diferença entre o sexo produtor de prazer das suas vivências e o sexo adoecedor e limitante das aulas de Educação Sexual, que insistem em se concentrar nas doenças sexuais e na saúde reprodutiva. Essas técnicas remetem ao bom adestramento que, segundo Foucault(15), consistem basicamente em vigiar e punir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como escapar às armadilhas do “bom adestramento”? Para além de programas curriculares, a Educação Sexual pautada nos princípios da educação popular Freiriana, promotora de cidadania, deve ser aberta ao debate. Além disso, uma discussão epistemológica prévia entre os docentes visando aprofundar saberes acerca dos princípios tangenciais à sexualidade humana pode frutificar ações que fujam à lógica controladora.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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