30/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-16D - GT 16 - Gênero, Sexualidade e Diversidade Sexual |
30749 - CONSTRUÇÃO DE NOVAS NARRATIVAS SOBRE GÊNERO E EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA ANA LÚCIA NUNES DE SOUSA - NUTES/UFRJ, REBECA PATRÍCIA MENDONÇA MACHADO - NUTES/UFRJ, GISELE DOS SANTOS COSTA - ESCOLA MUNICIPAL BRANT HORTA/SME-RJ, VIVIANE DE PAULA BEZERRA - NUTES/UFRJ
Contextualização
Atualmente, o Brasil enfrenta uma onda conservadora, expressa em ações como a finalização do Programa Mais Médicos; mudanças na política de atendimento à saúde mental; o desmonte do combate à AIDS; proibição do termo “violência obstétrica”, etc. Soma-se a isto o descrédito ao científico e a desvalorização do professor, corroborado pelo movimento e projeto de lei “Escola sem Partido”, que afeta diretamente a discussão sobre gênero. É neste contexto que se insere a realização deste projeto. Neste trabalho, apresentamos reflexões resultantes do projeto de extensão, em desenvolvimento, "Comunicação, educação e re-existências", no Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ e na Escola Municipal Brant Horta (EMBH). Buscamos dialogar sobre Ciências e a Saúde, utilizando oficinas de educação/comunicação como uma oportunidade para um fazer coletivo e permanente, estimulando a construção de narrativas diversas sobre ser e estar no mundo.
Descrição
Este trabalho iniciou-se em março de 2019, com a realização de encontros quinzenais na EMBH, englobando uma turma de 25 estudantes do Projeto Carioca II (Ensino Fundamental II) - criado para corrigir a defasagem idade-série, realocando estudantes em turmas de aceleração, na qual cursam duas séries do E.F. em um ano.
As oficinas debateram sobre gênero, sexualidade e afetividade, objetivando pensar a autonomia sobre o corpo e refletir sobre saúde pessoal e coletiva, sem forjar identidades, delimitar condutas e modificar corpos, desmistificando ideias normalizadoras em nome de uma saúde higienizadora e salvacionista (Ranniery, 2015). Para tal, trabalhamos com: 1) roda de leitura do livro “Sejamos todas feministas”, seguido de debate e produção de um livro mural pelas/os estudantes; 2) diálogo sobre sexualidade e cuidados com o corpo, promovendo a troca de experiências e noções de manutenção da saúde sexual e bem-estar, resultando na confecção de um fanzine sobre as principais IST’s e cuidados preventivos.
Objetivos: O objetivo geral é trabalhar a interface educação/comunicação, promovendo estratégias de resistência e re-existência em relação às construções de gênero na Escola. Os objetivos específicos são: 1) articular conteúdos, linguagens e práticas da interface comunicação/educação; 2) impactar positivamente na participação dos estudantes e da comunidade na Escola.
Resultados, aprendizados e análise crítica
Os resultados baseiam-se nos produtos desenvolvidos durante as oficinas (jornal mural e fanzines) e nos diários de campo da observação participante. Podemos apontar que as oficinas ampliaram o diálogo e participação na sala de aula, uma vez que estudantes que quase não se expressavam, tornaram-se ativos no processo. Acredita-se, portanto, que as dinâmicas acolheram os estudantes, em suas diversidades, através do exercício de uma escuta atenta e afetada (Fravret-saada, 2005).
A maior parte dos/as jovens percebe a importância de dialogar e combater as violências de gênero, relacionando o debate com suas vivências. Quando se aborda sexualidade, entretanto, revelam pouca familiaridade com o tema. Após a leitura do livro “Sejamos todos Feministas”, solicitamos que expressassem seus sentimentos e o grupo revelou tristeza, abandono, falta de perspectiva, etc. Efetivamente, o livro fazia um chamado a modificar os papéis de gênero definidos socialmente, no qual falar sobre sentimentos são atitudes destinadas às mulheres. Assim, percebemos que os/as estudantes procuraram colocar a mudança em pauta, em suas próprias práticas.
Ao propor atividades de produção artística, elas/eles são criativos e engajados. Porém, quando solicitamos produções orais ou escritas, alguns reclamam que não gostam de ler e escrever. A desmotivação, segundo a professora da turma, é verificada em todas as atividades, não sendo um problema específico do Projeto. Podemos considerar algumas variáveis para analisar a questão: escolarização deficiente; e a prática educacional realizada pela família, onde o papel parental comumente é desenhado a partir do modelo tradicional de divisão de gênero, com sobrecarga das mães trabalhadoras, perpetuando a iniquidade (Carvalho, 2000). No caso da expressão oral, outra hipótese é a de que os métodos utilizados nas oficinas não sejam os mais adequados para tratar temas que incidem sobre a vida privada dos jovens.
Outro aspecto que chamou a atenção é que ao realizar oficinas sobre outros temas, o gênero seja presença constante. Durante uma oficina sobre alimentação, por ex., houve a proposta de criar um livro de receitas. Os meninos consideraram-na “coisa de mulher”, indispondo-se com a atividade por não corresponder ao “universo masculino”. Este episódio reitera a importância da discussão sobre gênero, a fim de entender as significâncias que as/os estudantes carregam. Compreender a/o estudante e o mundo onde ele se insere torna mais fácil o diálogo e a troca de saberes, gerando uma produção com personalidade e significado coletivo (Freire, 2002)
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