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29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-16C - GT 16 - Violência Obstétrica e outros saberes no cuidado da gestação e parto

30249 - PRÁTICAS E CUIDADOS DURANTE O PARTO DE MULHERES DA ETNIA KAMBIWÁ
LEONILDO SEVERINO DA SILVA - UFBA, ENILDA ROSENDO DO NASCIMENTO - UFBA


1 INTRODUÇÃO

A saúde da população indígena não pode ser compreendida sem a avaliação dos contextos sociocultural e ambientais no qual ela se insere. Sendo assim, partimos do pressuposto de que as práticas e cuidados durante o parto dessas mulheres são influenciadas a partir dos diferentes contextos culturais (tradicional e profissional); e de que o atendimento adequado das demandas de saúde implica na adoção de cuidados culturalmente congruentes direcionados a essa população por parte de serviços e de profissionais de saúde, que levem em consideração os aspectos intrínsecos das diferenças étnicas existentes.
Este estudo tem como objetivo analisar as práticas e cuidados durante o parto de mulheres da etnia Kambiwá considerando suas especificidades étnicas.

2 MÉTODO

Trata-se de recorte da dissertação de mestrado denominada Práticas e Cuidados em Saúde Reprodutiva de Mulheres da Etnia Kambiwá. O estudo é descritivo de abordagem qualitativa que se utilizou da etnoenfermagem como proposta metodológica, além da teoria transcultural do cuidado.
Foi realizado na aldeia Baixa da Alexandra, habitada por indígenas da etnia Kambiwá; situa-se em Ibimirim, município pertencente ao Sertão do Moxotó, em Pernambuco. A coleta de dados foi realizada no período de setembro de 2012 até maio de 2014.
Foi desenvolvida conforme todas as normatizações contidas na resolução 466 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012), e 304/2000 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2000).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao analisarmos as experiências das mulheres Kambiwá sobre o parto, observaremos uma mudança de paradigma transgeracional.
Considerando este domínio feminino como um empoderamento presente num sistema de parto tradicional, observa-se que isso é marcado pelo xamanismo. As mulheres experientes sejam elas chamadas de parteiras ou assistentes, conhecem as práticas xamânicas (rezas e ervas) e as utilizam para solucionar problemas durante a gravidez e o parto.
O uso de ervas por meio de práticas xamânicas confere uma sabedoria popular que transcende o universo do parto medicalizado, pois parte da experiência vivida, e da comprovação da eficácia, não pela ciência mas, pela vivência de cada mulher neste processo junto àquelas nas quais ela confia pela alteridade que possuem, logo, as parteiras ou assistentes.
Sobre estes mecanismos de controle sobre o parto, verifica-se que mesmo no hospital, foi possível a manutenção de práticas xamânicas. Este espaço de interseção criado na relação de contato entre diferentes práticas curativas e de autocuidado, apesar de criar tensões e paradoxos em muitos casos, também permitem a multiplicação das escolhas por itinerários terapêuticos, possibilitando, assim, a concretização de “respostas híbridas”, das quais envolvem tanto elementos das terapêuticas tradicionais como do modelo hospitalar.
As interferências, de acordo com o modelo de saúde acessado pelas mulheres no decorrer das gerações, são responsáveis pela incorporação de novas concepções culturais. Essas interferências provocadas pela “pluralidade terapêutica” disponível, implicaram numa remodelação do cuidado no parto, pois no hospital, uma delas relatou: “tem o remédio adequado”. Já quando se dispõem os dois sistemas de saúde (tradicional e profissional) em questionamento, o sistema tradicional tem “um tal de chá de cidreira, mas pra mim não achei resultado nenhum”, tal como relatado, reitera uma desvalorização das práticas tradicionais.
Diante desse cenário terapêutico híbrido, observa-se uma série de contradições em relação ao paradigma dominante na atenção obstétrica. Algumas acreditam na necessidade de algum auxílio medicamentoso, sejam práticas xamânicas ou “injeção de força” no parto. E se os cuidados com o processo de parto não forem adequados, a criança pode ir a óbito, bem como a própria mulher.
Partindo da reflexão dos relatos das índias Kambiwá, observa-se o parto interpretado como fenômeno fortemente predisposto a manifestações mórbidas e desfavoráveis, necessitando de ações imediatas de controle e de artificialização, constituindo-se na instrumentalização do processo de nascimento humano, tal como vem se apresentando na sociedade pós moderna – hospitalar e tecnocrático.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das práticas e cuidados durante o parto de mulheres da etnia Kambiwá, permite-nos afirmar que, dentro do contexto cultural são construídos recursos terapêuticos com sentidos que lhes são peculiares. Essa especificidade confere aos povos indígenas uma atenção diferenciada, que deve ser garantida por profissionais de saúde.
Deve-se ter cautela para não desapropriar o parto das mulheres indígenas, e torná-lo um ato de domínio profissional, susceptível de ocorrer apenas no hospital, pela “segurança” idealizada que o mesmo oferece através do conhecimento, da tecnologia e dos medicamentos, no entanto, pode vir carregado de “violências” tutelando as indígenas e destituindo-as de subjetividades.

local do evento

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