29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-16C - GT 16 - Violência Obstétrica e outros saberes no cuidado da gestação e parto |
30632 - AUTONOMIA NO PARTO EM UM HOSPITAL DA REDE CEGONHA EM SANTA CATARINA MARTHA COLVARA BACHILLI - FURB, ERNANI TIARAJU DE SANTA HELENA - FURB, MAIRA LISBOA DE MENEZES BRANDAO - UFRJ
Introdução
A Rede Cegonha é um programa que visa fazer frente às exigências de melhora da assistência obstétrica no país, de maneira a diminuir a mortalidade materna e neonatal. Engloba as ações de cuidado pré-natal, parto, puerpério, logística e cuidado com o bebê. O modelo obstétrico presente no texto da implantação da RC aproxima-se das demandas de grupos organizados em favor da humanização do parto e nascimento no país, com ênfase no trabalho de enfermagem obstétrica, no manejo não farmacológico da dor, no estímulo à presença do acompanhante e da doula e no uso de evidências científicas atualizadas para garantir parturição segura e significativa das mulheres pelo SUS. Uma das demandas encontradas na literatura é pela autonomia nas decisões pelo parto, apontada como condição para a singularização das vivências e a parturição segura e significativa, conforme recomendação da OMS. Uma visão alternativa ao conceito bioético vigente de autonomia é usada como referencial teórico neste trabalho. Autonomia Relacional, baseada nos estudos e teorias feministas, é a categoria analítica da pesquisa em questão. As teorias feministas de autonomia se contrapõem às da bioética corrente, na medida em que criticam a autonomia como vista pelos principialistas como uma propriedade que deve ser guardada e protegida nas relações interpessoais. Neste sentido, acreditam que a autonomia feminina tem aspectos relacionais, que levam em consideração as relações sociais, opressões de gênero, aspectos de classe e raciais, de maneira que esta é percebida como uma construção. A autonomia, assim, é vista como uma aquisição, episódica ou programática, constituída a partir das relações entre os sujeitos e suas interfaces de diálogo. É uma abordagem considerada imprescindível para o cuidado centrado na pessoa, de modo que a educação dos profissionais de saúde, da comunidade e da gestante pode garantir espaços de diálogo que permitam, no parto, as vivências de segurança, empoderamento e protagonismo buscados pelas mulheres e de difícil aplicabilidade prática na assistência atual.
Objetivo geral
Desvelar o grau de autonomia possível às parturientes dentro do contexto concreto de um hospital da Rede Cegonha no município de Blumenau.
Objetivos específicos
Descrever situações onde ocorreram perda ou ausência de autonomia por parte das parturientes
Apontar as relações de cuidado entre as mulheres e os demais atores do parto
Relatar a experiência da preparação até o atendimento do parto
Metodologia
Pesquisa de abordagem qualitativa, com entrevistas abertas e assuntos norteadores, realizadas com mulheres que pariram no único hospital que atende SUS na cidade de Blumenau, Santa Catarina. Os dados foram coletados e sistematizados em categorias empíricas e analisados à partir do referencial teórico escolhido, a autonomia relacional, em Minayo. As falas de 5 mulheres foram compiladas, transcritas e, posteriormente, submetidas a análise de conteúdo, em Bardin.
Resultados e Discussão
As entrevistadas descreveram vivências de cuidado ímpares, porém permeadas pela ideia de que não foram questionadas, estimuladas a opinar ou ouvidas a respeito das suas expectativas em relação aos procedimentos ou ao parto em si. Aparentes modificações em ambiência ou em trabalho em equipe ainda não conseguiram ser lidos como um acréscimo de qualidade na assistência e o fato de haver uma obrigatoriedade de usar tecnologias humanizadas para facilitar a parturição só encontrou eco e foi considerada benéfica quando a mulher já tinha informações prévias, um plano de parto ou uma doula. Por outro lado, o fato de desejar uma cesariana e não ser atendida foi enfatizado por uma das entrevistadas como uma violação de direitos humanos e descrito como um entrave para a vivência satisfatória do parto. Todas apontaram a necessidade de se garantir um espaço mínimo de debate entre a mulher e a equipe assistente, de maneira que todos tenham um momento para discutir os acordos necessários ao cuidado, para discutir desejos manifestos e para orientações, especialmente sobre as fisiologia do trabalho de parto e o manejo da dor, além de procedimentos que possam ser necessários durante o trabalho de parto. Em todos os casos, a mulher apenas considerou autônomas as decisões alinhadas à política da RC e as que foram construídas previamente, mediadas por informação recebida por terceiros, construídas em grupos temáticos ou através de tecnologia/aplicativos.
Conclusões
É necessário reconhecer os jogos de poder - institucionais e entre os atores do parto - para que o diálogo, necessário e urgente, possa ser concretizado de maneira satisfatória, com o cuidado centrado na mulher sendo o objetivo das modificações na assistência. O uso da tecnologia, dos espaços de construção coletiva de conhecimento para o parto seguro e significativo e a educação de profissionais e instituições para o respeito a autonomia, numa perspectiva relacional, podem ser a resposta aos desafios encontrados nesta pesquisa.
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