28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-20A - GT 20 - IST/HIV/Aids, políticas públicas e inequidades |
30186 - PERCURSOS E DESAFIOS NO ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE HIV/AIDS EM CURITIBA/PR: RELFEXÕES A PARTIR DE UMA VIVÊNCIA PRÁTICA SOFIA RAFAELA MAITO VELASCO - FSP/USP, INAÊ DUTRA VALÉRIO - UFPEL, CÉSAR AUGUSTO PARO - IESC/UFRJ
Contextualização: A resposta de saúde pública ao HIV/AIDS no Brasil é conhecida por seu sucesso no fornecimento de terapia antirretroviral (TARV) para cada pessoa que vive com HIV no país desde 2013. As colaborações da sociedade civil, tais como a comunidade LGBT+ e o ativismo de ONGs, são algumas das principais razões para essa conquista.
Curitiba/PR apresenta uma resposta bem organizada ao HIV/AIDS, com uma das menores taxas de detecção de AIDS no Brasil. Sendo uma das primeiras Fast Track Cities do Brasil, a cidade demonstra um compromisso público no enfrentamento da epidemia de AIDS. Esta iniciativa destina-se alcançar as metas 90-90-90 do UNAIDS para o HIV até 2020. Uma das primeiras políticas de Curitiba para alcançar essas metas foi a descentralização do cuidado ao HIV para as unidades básicas de saúde (UBS) desde 2014. Porém, existe uma lacuna entre as pessoas diagnosticadas e as que aderem ao tratamento, representando 63,8% deste universo.
Descrição: Trata-se de um relato de experiência a partir do Curso Colaborativo de Saúde Pública da Universidade de Harvard em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os participantes foram 30 estudantes da área da saúde, sendo 16 pós-graduandos de diferentes universidades brasileiras e 14 da Universidade de Harvard. Estes foram divididos em subgrupos de seis estudantes (três brasileiros e três americanos) em cinco temáticas, sendo uma delas o HIV/AIDS, sob supervisão de dois especialistas da área. Dentre as atividades desenvolvidas, houve a participação em seminários teóricos, discussões em grupo sobre o enfrentamento a epidemia de HIV/AIDS e visitas guiadas aos serviços de saúde e movimentos sociais que possuem incidência sobre aspectos relativos à temática no município de Curitiba/PR.
Período de realização: 7 a 24 de janeiro de 2019.
Objetivo: Compreender a resposta ao enfrentamento HIV/AIDS do município de Curitiba/PR a partir das práticas desenvolvidas nos serviços de saúde e da incidência do movimento social neste processo.
Resultados: Na atenção básica, o processo de descentralização do cuidado ao HIV/AIDS para as UBS trouxe o desafio do manejo clínico para os profissionais deste nível. Para contribuir com a ampliação da clínica e favorecer que os médicos de família e comunidade possam ofertar uma assistência de qualidade, conta-se com equipes matriciais compostas por médicos infectologistas, que dão suporte técnico quando acionados. Desde sua implementação, essa estratégia tem conseguido diminuir o tempo de espera por consultas e o aprimoramento de encaminhamentos por meio do desenvolvimento conjunto de um modelo de estratificação de risco, aumentando acesso aos exames e tratamento.
No nível secundário, existe na cidade os Centros de Orientação e Aconselhamento (COA), que ofertam serviços de diagnóstico e tratamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (HIV, Hepatites B e C, clamídia, gonorreia e sífilis) para usuários da rede municipal. Uma destas unidades é especializada em homens que fazem sexo com homens e funciona em horário estendido, facilitando a presença do público-alvo. Outra inovação presente neste serviço é a possibilidade de solicitar o autoteste de HIV pela internet e retirar o exame de um armário de autoatendimento localizado na própria unidade ou na rodoferroviária da cidade. Esse serviço visa uma otimização do diagnóstico e início de tratamento, possibilitando a realização de exames em uma parcela da população que não frequenta usualmente as unidades de saúde.
No nível terciário, visitou-se um dos hospitais de referência na cidade, em que foi possível observar ainda a presença de agravamento da doença em sujeitos que não aderiram ao tratamento.
Também se visitou o Grupo Dignidade, ONG pioneira do Paraná na área da promoção da cidadania LGBT. São disponibilizados diversos serviços que complementam a rede pública de saúde, bem como buscam adaptar a abordagem para grupos específicos que estão em contextos de maior vulnerabilidade para a infecção ao HIV/AID, para os quais ainda há um acolhimento problemático nos serviços de saúde tradicionais. Destaca-se, neste sentido, a diversidade etária e de gênero do corpo profissional da instituição, que preocupa-se em atuar a partir da noção de educação entre pares. A ONG também busca atuar no componente social da epidemia, principalmente nas questões relativas ao tabu da sexualidade e da estigmatização de alguns grupos, realizando capacitação para os professores da rede estadual, bem como para o público universitário da área da saúde.
Aprendizados: as inovações advindas do serviço público e do movimento social organizado têm buscado abarcar as diferentes dimensões envolvidas no enfrentamento do HIV/AIDS.
Análise crítica: a adesão aquém das metas estabelecidas revela a necessidade de investimento na compreensão do perfil dos sujeitos que descontinuam o tratamento e as suas motivações, de modo que favoreça o aprimoramento das intervenções programáticas dos atores envolvidos.
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