29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-20B - GT 20 - IST/HIV/Aids, desafios e atores da assistência e prevenção |
29966 - MEDO E DISCRIMINAÇÃO: INFLUENCIAS NO SUPORTE SOCIAL DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS EM BISSAU, GUINÉ-BISSAU AMIRY MONTEIRO SANCA - UFRGS, SARA FEISTLER - UFRGS, DEISE LISBOA RIQUINHO - UFRGS
Introdução: cada doença possui suas caraterísticas peculiares, tanto no campo fisiológico como no sociocultural. No entanto, existem doenças que carregam significados e simbologias socioculturais capazes de gerar estigmas e discriminação aos indivíduos que as possuem(1). Destaca-se o Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS como uma das doenças mais estigmatizadas do mundo contemporâneo, se não a mais estigmatizada. Nesta ótica, as Pessoas vivendo com HIV/AIDS – PVHA possuem não somente o desafio de enfrentar a doença na esfera fisiopatológica, como também na esfera social. Contudo, o primeiro desafio parece ser menos difícil de enfrentar do que o segundo, uma vez que existem medicamentos para suprimir a carga viral a níveis indetectáveis, enquanto que não existe nenhum mecanismo com efeito imediato para suprimir o estigma e a discriminação que existe contra a PVHA, assim, levando-as a despertar o sentimento de medo ao estigma e discriminação. Objetivo: descrever a influência do medo da discriminação na construção da estrutura de suporte social e emocional para o enfrentamento de HIV/AIDS em pessoas vivendo com HIV/AIDS em Bissau, Guiné-Bissau. Método: pesquisa descritiva, exploratória, de abordagem qualitativa, realizado no Centro de Tratamento Ambulatorial do Hospital Nacional Simão Mendes – HNSM em Bissau, Guiné-Bissau, entre janeiro e abril de 2019. Participaram da pesquisa as pessoas em tratamento de HIV/AIDS. Os critérios de inclusão foram: ser guineense, residir em Bissau, ter domínio da língua portuguesa ou crioula e ter idade igual ou superior a 18 anos e o critério de exclusão: apresentar algum comprometimento psíquico e/ou de comunicação. A coleta de dados se deu por meio da entrevista semiestruturada, gravada e, posteriormente, transcrita na íntegra. O roteiro da entrevista incluiu aspectos sociodemográficos; experiências do viver com HIV/AIDS; a busca pelos cuidados em saúde e as redes de apoio. Os dados foram organizados e categorizados com o auxílio do software NVivo12 em categorias temáticas de acordo com Minayo(2) e interpretados à luz da literatura e contexto investigado. O Projeto foi aprovado pela Direção-geral do HNSM e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Parecer nº 3.060.595). Resultados e discussão: Durante as entrevistas com os 15 participantes do estudo, foi possível perceber por meio das reações e emoções a existência do medo da discriminação intrafamiliar e social, que, posteriormente, foram revelados por meio das falas. Também, foi constatada a fragilidade da estrutura de suporte social e emocional caracterizada pela ausência, ou pouca participação/apoio dos familiares e amigos no enfrentamento de HIV/AIDS. Silva et al. chegaram a mesma conclusão e ainda reforçam que as PVHA optam por manter sigilo sobre seu diagnóstico tanto por medo de não serem aceitos pelas pessoas, como por medo de causar sofrimento nas mesmas, assim, evitando a possibilidade da desagregação dos laços familiares e sociais, considerado pela maioria como fundamental(3). Jesus e colaboradores apontam que o apoio familiar é uma das formas mais importante de suporte social para as pessoas situação de vulnerabilidade, no entanto, as maiores dificuldades enfrentadas por PVHA é o estigma no meio intrafamiliar, e, consequentemente na sociedade(4). Conclusão: a opção das PVHA em não contar aos familiares e amigos, ou contar para um número reduzido de pessoas sobre o diagnóstico de HIV/AIDS pode ser compreendida como forma de evitar possíveis estigmas no seio intrafamiliar e social. No entanto, tais atitudes tendem a resultar na ausência ou fragilidade da estrutura de suporte social e emocional para o enfrentamento de HIV/AIDS, uma vez que os familiares e amigos constituem a principal estrutura de suporte social e emocional. A ausência ou fragilidade da estrutura de suporte social e emocional tende a influenciar diretamente no autocuidado da PVHA e, consequentemente, na qualidade sua qualidade de vida.
REFERÊNCIA
1. MONTEIRO, Simone; VILLELA, Wilza Vieira. Estigma e Saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2015; 31(2):436-440. [acesso em 22 maio 2019]. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311XRE010215
2. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.
3. Silva, Jacqueline Barbosa et al. Os significados da comorbidade para os pacientes vivendo com TB/HIV: repercussões no tratamento. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2015; 25(1): 209-229. [acesso em 22 maio 2019]. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312015000100012
4. JESUS, Giselle Juliana de et al. Dificuldades do viver com HIV/Aids: Entraves na qualidade de vida. Acta Paul Enferm. 2017; 30(3):301-7. [acesso em 15 maio 2019]. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700046
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