29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-20B - GT 20 - IST/HIV/Aids, desafios e atores da assistência e prevenção |
30092 - BARREIRAS DE ACESSO PARA HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS À TESTAGEM E TRATAMENTO PRECOCE DO HIV NO CENTRO DE ORIENTAÇÃO E ACONSELHAMENTO DE CURITIBA VANDA LÚCIA COTA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA (ENSP), MARLY MARQUES DA CRUZ - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA (ENSP), SOLANGE KANSO - CONSULTORA INDEPENDENTE
Curitiba foi escolhida para um projeto de ciência de implementação, o A Hora é Agora (AHA), por ter epidemia de HIV/Aids concentrada em homens. O AHA visava ampliar o acesso dos homens que fazem sexo com homens (HSH) à testagem do HIV e ao tratamento precoce. Esse estudo diz respeito a uma das estratégias de testagem e vinculação do AHA, o Centro de Orientação e Aconselhamento (COA) e representa um dos objetivos da pesquisa “Avaliação do acesso de homens que fazem sexo com homens (HSH) à testagem e tratamento precoce do HIV no Centro de Orientação e Aconselhamento (COA) de Curitiba, Brasil”.
Objetivo: Analisar os principais aspectos facilitadores e as barreiras para o acesso à testagem no COA e vinculação ao tratamento precoce do HIV para os HSH de Curitiba.
Trata-se de um estudo de caso de abordagem qualitativa no qual foram utilizadas as técnicas de análise documental, observação de campo e entrevistas com informantes-chave (EIC): usuários, profissionais de saúde e gestores. Foram elaborados roteiros para observações de campo e EIC. Foi realizado análise de conteúdo e triangulação. A seleção dos participantes para as EIC se deu de forma intencional para obtenção das categorias específicas de participantes considerados importantes para atingir os objetivos da pesquisa.
Essa pesquisa procurou identificar as principais barreiras e facilitadores para o acesso dos HSH no COA; as barreiras que os HSH podem encontrar em Curitiba; as barreiras que impedem os HSH de se testarem e as barreiras que impedem os HSH diagnosticados de iniciarem o tratamento.
Todos os entrevistados assinaram o termo de consentimento. Essa pesquisa foi aprovada nos comitês de ética da ENSP e da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba.
Os profissionais de saúde citaram como principal barreira para os HSH no COA, o horário de atendimento e a falta de equipe. Para se chegar aos HSH de Curitiba, os profissionais citaram falta de acesso, humanização, escassez de profissionais capacitados nos serviços e preconceito. Os usuários citaram falta de informação, medo, homofobia, vergonha e preconceito.
Estudo realizado com HSH em Brasília revelou que o acesso ao serviço público de saúde é limitado, não há privacidade, com isso os indivíduos são submetidos a estigma, à violência, no mínimo simbólica ou então está orientado ao público heterossexual (Pimenta & Merchan-Hamann, 2011). Ou seja, configuram-se como serviços pouco humanizados e acolhedores por desrespeitarem a diversidade social e sexual dos grupos mais vulneráveis.
Quanto às barreiras para se testar, na visão dos profissionais e gestores estão: preconceito, falta de acesso das pessoas que vivem nas periferias, dificuldade no acolhimento nos serviços de saúde e a questão da aceitação da sexualidade. Os usuários apontaram como barreiras a falta de profissionais capacitados, a disponibilidade de tempo para se testar, dificuldade de acesso, medo de sofrer preconceito e da exposição, medo do resultado, vergonha, falta de informação e estigma.
Os achados do estudo de Wijngaarden et al. (2018) realizado nas Filipinas, em 2016, mostraram que as pessoas deixam de se testar ou adiam fazer o teste por medo do que acontecerá uma vez infectado, o medo do estigma sexual e do HIV, o medo dos efeitos colaterais dos antirretrovirais e o medo dos custos altos com saúde após o teste positivo para o HIV. Esses medos estão presentes e impõem barreiras subjetivas concretas que levam usuários a não se testarem, a não aceitarem seus resultados e a não iniciarem o tratamento.
Os usuários diagnosticados HIV+ citaram como barreiras para testar e tratar imediatamente, o medo da medicação e dos efeitos colaterais, falta de informação, vergonha e quando a pessoa quer “desistir da vida”.
Os benefícios já amplamente reconhecidos da introdução precoce da terapia antirretroviral, segundo Marsicano et al. (2014) parecem ser negligenciados pelo estigma e medo de ser positivo. As principais barreiras que o projeto AHA modificou foi a do acesso ao diagnóstico, possibilitando que o usuário, mesmo distante do Centro de Curitiba pudesse ter acesso ao teste, além de testar e tratar, pois o projeto possibilitou que o usuário iniciasse o tratamento de forma precoce, com a ajuda de profissional treinado para acompanhar o usuário desde o diagnóstico até o início do tratamento. As barreiras citadas levam a conclusão de que há necessidade de mais informação sobre o HIV/Aids para toda a população, não somente para população-chave. Informações sobre o tratamento são também fundamentais para que as pessoas tenham conhecimento antes mesmo de um possível diagnóstico.
Esse estudo trouxe uma necessidade de maior aprofundamento no tema estigma, haja vista que o estigma está presente não apenas na doença e nas categorias (HSH, trans/travestis), mas também na situação de vulnerabilidade em que cada indivíduo se encontra, como a sua condição socioeconômica e as barreiras de acesso e tratamento que essas condições podem trazer.
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