29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-20B - GT 20 - IST/HIV/Aids, desafios e atores da assistência e prevenção |
30282 - PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO NO RS: FARMACEUTICALIZAÇÃO DA POLÍTICA E CIDADANIA DE CONSUMO ADRIANO HENRIQUE CAETANO COSTA - UNICEF, TONANTZIN RIBEIRO GONÇALVES - UNISINOS
A pesquisa teve como objetivo geral investigar o uso da PEP na visão dos homens expostos ao HIV por relações sexuais e dos profissionais de um serviço de saúde da Região Metropolitana de Porto Alegre. Nesse sentido, partimos da política nacional de HIV/aids, atualmente, chamada de Prevenção Combinada, que, prevê o emprego conjunto de estratégias comportamentais e biomédicas para ações de prevenção ao HIV. Entende-se que o uso de ART como estratégia preventiva detém um grande potencial de atingir populações em contextos de maior vulnerabilidade, sendo uma alternativa eficaz frente às dificuldades de manter o uso consistente de preservativos. Porém, debates têm surgido quanto à excessiva ênfase no uso de medicamentos em detrimento da real combinação com ações de cunho programático. Nesse sentido, partimos da visão macro da política de Aids no Brasil e buscamos debatê-la a partir dos conceitos de globalização farmacêutica e cidadania biológica. O trabalho de campo, com base em uma pesquisa etnográfica multisituada, na região metropolitana de Porto Alegre/RS, nos permitiu olhar, pelo fio condutor da política pública de saúde, como ela é traduzida nos serviços de saúde, e como ela é traduzida nos serviços de saúde, no atendimento dos usuários e no uso que estes fazem dela. A partir de entrevistas com profissionais de saúde, usuários homens e observações mais extensas em um dos Serviço de Assistência Especializado, percebemos a ênfase em algumas tecnologias da Prevenção Combinada a saber, a oferta do teste rápido e de aconselhamento para a PEP, sendo que o preservativo, embora presente, não dialogava com as demais estratégias de prevenção. A ênfase do serviço na garantia de medicamentos para os usuários tinha como consequência a falta de consideração das peculiaridades, do contexto social, das práticas e da subjetividade dos mesmos. No contexto da implantação da PEP constatou-se que os profissionais entrevistados percebiam a importância da PEP como estratégia de prevenção HIV/aids. Ainda assim, alguns profissionais apontaram que, atualmente, a ênfase nas estratégias biomédicas sobrepujava intervenções sociais e programáticas, contraditoriamente, verificando-se a fragilidade de ações dos serviços voltadas para as populações-chave. Por outro lado, a implementação da PEP esbarrava em questões morais como o temor da banalização do uso da estratégia pelos usuários e a sua culpabilização pela situação de exposição sexual consensual. Constatou-se, nas falas dos homens, que estes percebiam o discurso moralizante dos profissionais e que, muitas vezes, não estavam abertos para compreender as outras questões que são postas para além da escolha do uso ou não do preservativo, como exemplo, as questões da ordem da social e sexual. Estimulada por um cenário de globalização farmacêutica, a forma como a PEP era acessada e ofertada enseja a articulação de uma cidadania biológica que implica o direito à prevenção, nesse caso por meio do direito de consumir a medicação. Porém, o acesso a tal direito é perpassado por condicionamentos morais atrelados às categorias de risco e pelo contexto social dos usuários, abrindo margem para a reprodução de iniquidades em saúde. Discute-se que a Prevenção Combinada está dando conta apenas de alguns aspectos da vulnerabilidade individual e não está conseguindo acessar as interrelações com as dimensões sociais e programáticas, nem no atendimento dos usuários individualmente, nem em ações extramuros. Conclui-se que, para além de uma execução técnica, os profissionais de saúde na “ponta” exercem uma função simbólica, informadas pelo contexto que estão inseridos, pelas percepções, pela cultura organizacional e pelas interações cotidianas com os demais colegas e usuários. Portanto, é essencial direcionar o olhar a aqueles que, nos mais diversos contextos políticos, econômicos, sociais e culturais atuam, moldam, traduzem e transformam a linha de frente das políticas públicas de saúde.
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