29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-20B - GT 20 - IST/HIV/Aids, desafios e atores da assistência e prevenção |
31171 - ACESSO, USO E SIGNIFICADOS DA PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO (PEP) AO HIV ENTRE HOMENS BRASILEIROS: ANÁLISE INTERSECCIONAL DE ORIENTAÇÃO SEXUAL, GERAÇÃO E RAÇA/COR MARCIA THEREZA COUTO - USP, LORRUAN ALVES DOS SANTOS - USP, ANDREA FACHEL LEAL - UFGRS, AUGUSTO MATHIAS - USP, VIVIANE MASSA - USP, ALEXANDRE GRANGEIRO - USP
Introdução. Seja do ponto de vista dos determinantes sociais da saúde ou da perspectiva sócio-antropológica da saúde-doença, o campo da Saúde Coletiva há muito considera os marcadores sociais de classe, gênero e raça/etnia como referências importante na análise das diferenças e desigualdades em saúde. Mais recentemente, outros marcadores sociais, como orientação e geração sexual, têm sido incorporados como importantes referências empíricas e conceituais (Couto et al, 2019). Análises da epidemia do HIV na perspectiva da interseccionalidade estão ganhando terreno (Turan et al, 2019). A interseccionalidade desafia análises unidimensionais das identidades sociais, destacando a natureza múltipla das identidades, mutuamente constitutiva, interdependente, que reflete sistemas interconectados de desigualdades e privilégios que impactam as experiências dos indivíduos.
Objetivo. Apresentar uma análise interseccional que destaca o caráter mutuamente constitutivo, interdependente e múltiplo de marcadores sociais da diferença (raça-cor, orientação sexual e geração) entre homens (que se identificam como heterossexuais, homossexuais e bissexuais) no contexto de busca e uso da profilaxia PEP, a partir de três eixos: 1) conhecimento prévio como facilitador do acesso; 2) motivo de busca da profilaxia partir da percepção de risco; 3) significados e implicações do seu uso.
Metodologia: Os dados provêm do componente qualitativo de estudo demonstrativo da PEP (Grangeiro et al, 2015), reunidos em entrevistas em profundidade com 41 homens que procuraram voluntariamente o PEP em cinco serviços públicos de cidades com diferenças socioeconômicas e culturais (São Paulo, Ribeirão Preto, Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza), entre 2015 e 2016. Foi realizada análise temática de conteúdo, seguindo os passos de análise interseccional: 1) Impregnação do material empírico e delimitação dos temas de análise; 2) Descrição das categorias que emergem dos temas, buscando caracterizar sua diversidade interna; 3) Destaque como cada marcador opera nas categorias que emergiram dos temas segundo os parâmetros de desvantagens e privilégios; 4) Fixar para cada tema o(s) marcador(es) mais expressivos/explicativos e intersectar esse(s) com os demais, construindo a síntese preliminar para cada tema, identificando como a interação entre os marcadores potencializam ou amenizam as experiências de desvantagens e privilégios; 6) Síntese final a partir do cotejamento da síntese preliminar com a literatura sobre o objeto de investigação. O Software Nvivo foi utilizado como apoio na operacinalização da análise.
Resultados. Na análise, a orientação sexual, seguida da geração, foram os marcadores que diferenciaram os homens segundo as categorias analisadas. Não houve implicações associadas à raça/cor autorreferida. O “conhecimento prévio” foi marcadamente diferente de acordo com a orientação sexual e se cruzou com a geração, confirmando particularidades entre os jovens. O conhecimento prévio entre os bissexuais e homossexuais, especialmente os homens jovens, foi adquirido através das mídias sociais, relacionamentos sorodiscordantes e da web. Apenas metade dos homens heterossexuais, especialmente os adultos, tinham algum conhecimento prévio. As “razões para buscar o PEP” revelaram uma interseção entre orientação sexual e geração. A predominância de situações de risco entre os homens homossexuais e bissexuais foi causada por não usar preservativo e não saber o estado de HIV de possíveis parceiros. A divisão / deslizamento de preservativos foi um fator-chave entre os homens homossexuais, enfatizando o uso do preservativo como um recurso-chave nas relações heterossexuais casuais, especialmente entre homens adultos e profissionais do sexo. A orientação sexual não foi um fator significativo em "significados e implicações", mas a geração foi. Os jovens expressaram culpa, medo e recusa em compartilhar com os familiares.
Considerações finais. As descobertas ajudam a melhorar as análises interseccionais no campo do HIV, especialmente para estudos empíricos sobre prevenção combinada. Elas mostram que o acesso e o uso da PEP são influenciados pela orientação sexual e características geracionais, dentre os marcadores analisados.
Referências
Turan JM, Elafros MA, Logie CH, Banik S, Turan B, Crockett KB, Pescosolido B, Murray SM. Challenges and opportunities in examining and addressing intersectional stigma and health. BMC Med. 2019;17(1):7.
Grangeiro A, Couto MT, Peres MF, Luiz O, Zucchi EM, De Castilho EA, et al. Pre-exposure and postexposure prophylaxes and the combination HIV prevention methods (The Combine! Study): Protocol for a pragmatic clinical trial at public healthcare clinics in Brazil. BMJ Open. 2015;5(8):1–11.
Couto MT, de Oliveira E, Separavich MA, do Carmo Luiz O. La perspectiva feminista de la interseccionalidad en el campo de la salud pública: revisión narrativa de las producciones teórico-metodológicas. Salud Colectiva. 2019 Mar 9;15:e1994-.
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