29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-20B - GT 20 - IST/HIV/Aids, desafios e atores da assistência e prevenção |
31272 - (DES)CONHECIMENTO E ACEITABILIDADE DA PREP ENTRE ADOLESCENTES LGBT: POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA ESSA NOVA TECNOLOGIA DE PREVENÇÃO AO HIV MARCELO EDUARDO PFEIFFER CASTELLANOS - UFBA, LUÍS AUGUSTO VASCONCELOS DA SILVA - UFBA, LEO PEDRANA - UFBA, RENATA LÚCIA E SILVA E OLIVEIRA - UFBA, FILIPE MATEUS DUARTE - UFBA, LAIO MAGNO - UESB, INÊS DOURADO - UFBA, GRUPO PREP15-19 - SALVADOR - UFBA
INTRODUÇÃO: O Brasil registra um aumento progressivo da taxa de detecção de HIV entre adolescentes e jovens, principalmente entre homens que fazem sexo com homens (HSH) e travestis e mulheres trans (TrMT). Também enfrenta novos e antigos desafios relativos tanto à acessibilidade, oferta e qualidade da atenção/cuidado, prestados nos serviços de saúde, quanto à redução de iniquidades sociais que atuam nessas situações. Nesse cenário, surgem novas tecnologias de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) que, no rol da prevenção combinada, deve cumprir um importante papel no controle da epidemia de HIV/aids, no Brasil e no mundo. OBJETIVO: Pretende-se discutir o conhecimento e aceitabilidade de uso da PrEP entre jovens HSH e TrMT, na cidade de Salvador (BA), a partir de dados produzidos na pesquisa PrEP15-19. METODOLOGIA: Foram realizadas, em Salvador, 16 entrevistas semiestruturadas e 2 grupos focais com 11 jovens HSH e 5 TrMT, de 17 a 19 anos, abordando diferentes aspectos do conhecimento e aceitabilidade do uso da PrEP; todos foram gravados, transcritos e submetidos à análise de conteúdo. RESULTADOS: Poucos indivíduos conheciam a PrEP, previamente à pesquisa. Após uma breve explicação, muitas/os permaneceram com dúvidas sobre as diferenças entre PrEP e PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV) e sobre a rotina de sua utilização, requisitando a adoção de linguagens mais próximas do público jovem LGBT e ampliação da escuta e esclarecimento de dúvidas. As poucas informações prévias sobre a PrEP foram obtidas, pelas/os adolescentes, principalmente, nas redes sociais (online) e espaços de interação LGBT. Para essas/es jovens, as escolas não realizam atividades de educação sexual e as poucas atividades realizadas priorizam abordagem biológica e heteronormativa que reforça esteriótipos. Os serviços de saúde não são descritos como uma boa fonte de informação sobre PrEP ou infecções sexualmente transmissíveis. Apesar do pouco conhecimento, ambos os grupos demonstraram elevada aceitabilidade de uso da PrEP, vinculada à intensa confiança na sua ação protetiva e, consequente, diminuição do medo de se infectar com o HIV, em: 1) relacionamentos sexuais com indivíduos “potencialmente infectados”; 2) falhas acidentais da camisinha; 3) não intenção de uso, uso irregular ou discrecional da camisinha; 4) contextos especialmente desfavoráveis ao uso regular da camisinha, como o da prostituição como estratégia de sobrevivência (TrMT) ou o das “mais novinhas” (iniciação sexual com poucas informações sobre prevenção). É interessante notar que muitas/os entrevistados afirmam que o uso da PrEP (e seu efeito protetivo) pode contribuir para a diminuição do estigma que vincula Aids à população LGBT. A despeito da alta aceitabilidade, as/os adolescentes apontam para barreiras que devem ser consideradas, na oferta ampliada da PrEP: 1) possível desconfiança de sua eficácia; 2) dificuldade para manter rotina de uso contínuo; 3) medo de ser identificada/o como promíscuo e/ou HIV positivo (principalmente para HSH); 4) medo de efeitos colaterais, como feminilização do corpo (imaginada pelos HSH) e interações medicamentosas com hormônios utilizados pelas TrMT. Entre as possíveis consequências negativas, se destaca o consenso sobre o risco da redução do uso da camisinha e exposição a outras DST. DISCUSSÃO: Os dois grupos apontaram limites da efetividade da camisinha na prevenção do HIV/aids e acreditam que o uso da PrEP diminuiria o risco de exposição a esse vírus, em situações em que se colocam diferentes desafios e graus de autonomia para o uso regular e efetivo da camisinha. A contribuição da PrEP no controle da epidemia de HIV/aids é vista como um caminho para diminuir o peso do estigma em relação às identidades dissidentes, ainda tradicionalmente percebidas como principais “responsáveis” pela epidemia e como “sujeitos do risco”. Ademais, também, estaria associada à liberdade sexual e ampliação da busca por prazer. A falta de informações prévias sobre a PrEP, a dificuldade para distinguir PrEP e PEP e a possível intenção de uso isolado da PrEP (quando considerada uma “pílula” mágica ou barreira intransponível para o HIV) são alguns dos desafios a serem considerados na possível disponibilização desse medicamento a adolescentes no SUS, no contexto da “prevenção combinada”. CONCLUSÕES: Ainda que pouco conhecida, entre adolescentes, a PrEP possui elevado potencial de aceitabilidade, portanto as perspectivas aportadas pelas/os jovens entrevistadas/os podem ser consideradas para transformar essa potencialidade em efetividade. A possível disponibilização do medicamento às/aos jovens HSH e TrMT, através do SUS, deve priorizar: a oferta de informação e comunicação que resulte oportuna e adequada (linguagem,); o respeito à autonomia e liberdade de experimentação sexual dos adolescentes; a ênfase na “prevenção combinada” e o enfrentamento de contextos de vulnerabilidade por eles vivenciados.
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