28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-20A - GT 20 - IST/HIV/Aids, redes de Saúde e proteção social |
30974 - A EPIDEMIA DE HIV/AIDS ENTRE ADOLESCENTES E JOVENS HSH: PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UM SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA ESPECIALIZADA DIEGO DA SILVA MEDEIROS - UECE, MALENA GADELHA CAVALCANTE - UFC, EMANOELLA PESSOA ANGELIM GUIMARÃES - UECE, ROSALVO NEGREIROS DE OLIVEIRA JÚNIOR - UECE, JOÃO TADEU DE ANDRADE - UECE
Introdução: A epidemia de HIV/aids vive a quarta década com características distintas das observadas no início dos anos 80 do século passado. A resposta terapêutica deu um salto vistoso a ponto da síndrome, antes, sinônimo de morte, hoje, ser compreendida como um agravo crônico passível de ser controlado. A tecnologia de diagnóstico, tratamento e prevenção apresenta oferta variada e eficaz. No entanto, a epidemia apresenta variantes de acordo com o território onde se apresenta. O Brasil, reconhecido internacionalmente pela resposta à epidemia, apresenta características peculiares. Uma delas é o tema dessa pesquisa, a saber, o recrudescimento da epidemia de HIV/aids no público de adolescentes e jovens, HSH (homens que fazem sexo com homens), na faixa etária de 15 a 24 anos. O Boletim Epidemiológico lançado anualmente pelo Ministério da Saúde (MS) aponta até o triplo de notificações entre os anos de 2006 a 2016 nesta faixa etária. O cenário, portanto, requer que observemos o cotidiano dos serviços de assistência especializada em HIV/aids (SAE) para ouvir profissionais de saúde e usuários sobre a contemporaneidade da epidemia. Optamos por um serviço que atua próximo da atenção primária à saúde (APS), uma experiência do município de Fortaleza que agrega no mesmo espaço físico uma unidade de atendimento primário à saúde (UAPS), um centro de testagem e aconselhamento (CTA) e um serviço de assistência especializada em HIV/aids (SAE). Entrevistamos todos os profissionais de saúde que atuam no CTA/SAE sobre a percepção do avanço da epidemia entre adolescentes e jovens HSH e a possibilidade de intervenção neste cenário a partir do serviço em que atuam. Objetivos: Compreender as percepções dos profissionais de saúde do CTA/SAE sobre a contemporaneidade da epidemia de HIV/aids entre adolescentes e jovens HSH de 15 a 24 anos. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa. Utilizamos a metodologia da análise de conteúdo temática com a técnica da observação direta (visitas sistemáticas ao serviço), confecção de diário de campo, entrevistas semiestruturadas (audiogravadas e posteriormente transcritas). A pesquisa foi realizada entre abril de 2017 a abril de 2018. Resultados e discussão: O CTA/SAE é composto de 02 enfermeiras, 02 assistentes sociais, 02 infectologistas e uma coordenadora. O serviço atende pessoas de todo o município de Fortaleza, a maior porta de entrada é o CTA por meio da testagem rápida (TR), o equipamento centraliza parte significativa destas para HIV, sífilis e hepatite B e C. Os temas que emergiram nas entrevistas foram: “estigma e preconceito”; “cuidado”; “redes”; “comportamento dos usuários jovens”; “estrutura física e recursos humanos”; e “fluxograma”. O estigma e preconceito está presente no cotidiano do serviço na medida que condiciona o acesso e retenção ao serviço. A pessoa que vive com HIV/aids (PVHA) tem receio de ser reconhecida pela condição sorológica. O cuidado é construído de forma singular pelos profissionais de saúde, considera, todavia, elementos emocionais, demandas de saúde mental, questões familiares, a sexualidade como tabu, articulação com a prática de redução de danos. O entrosamento entre a equipe interdisciplinar favorece a resposta do serviço à multiplicidade de demandas para o cuidado. As redes de cuidado são produzidas pelos profissionais de saúde para responder às demandas das PVHA no serviço. Estas redes, portanto, dependem da mobilização dos profissionais que atuam em outros serviços, que conhecem profissionais de outros serviços, mesmo que aja, também, a orientação da política formal de saúde. O comportamento dos usuários jovens é marcado pela dificuldade de retenção ao serviço, principalmente dos assintomáticos que não se consideram “doentes”. O advento dos smartphones e os aplicativos de relacionamentos, as vivências em espaços de sociabilidade LGBT e os empecilhos para as práticas de prevenção à infecção são elementos presentes e observados pelos profissionais de saúde no cotidiano entre os jovens do SAE. A estrutura física e recursos humanos apresentam limitações para o atendimento com poucos consultórios e sala de coleta precária. Os profissionais de saúde, em sua maioria, são contratados de forma precária e são rotativos, limitando o vínculo. A educação permanente destes profissionais sobre a atualidade da epidemia é pouco referida. O fluxograma do serviço é singular e está articulado entre os profissionais de saúde para agilizar o fluxo dos PVHA no serviço. Considerações Finais: O cotidiano dos profissionais de saúde do SAE no encontro com os usuários jovens revela questões importantes sobre a contemporaneidade da epidemia de HIV/aids. A observação sistemática do território onde a política pública se apresenta viva, como o SAE, aponta a complexidade desta relação entre profissionais de saúde e usuários jovens. O aprimoramento da política pública e a compreensão dos desafios contemporâneos passam pela pesquisa qualitativa articuladas aos dados epidemiológicos.
|

|