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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-20B - GT 20 - IST/HIV/Aids, prevenção, diagnóstico e tratamento

29793 - TODO CARNAVAL TEM O SEU FIM: A FADIGA DA CAMISINHA OU A FADIGA DA PREVENÇÃO?
VICTOR LIRA ROCHA - UCSAL


INTRODUÇÃO
No Brasil, entre 2007 a 2018, foram notificados 247.795 casos de infecção pelo HIV. Sendo 52,6% dos casos na faixa etária de 20 a 34 anos. Em relação aos adolescentes, no mesmo período observado, verificou-se que 59,6% dos casos em homens foram decorrentes da exposição homossexual e bissexual; 36.9% em exposição heterossexual; e 2,6% se deram de usuários de drogas injetáveis (UDI). Em contra partida, as mulheres apresentaram 96,8% dos casos em exposição heterossexual e 1,6% em UDI (BRASIL, 2018).
Apesar do número jovens adultos ser a grande maioria dos casos de infecção pelo HIV, a notificação de casos entre adolescentes e jovens (de 15 a 24 anos) aumentou aproximadamente 700%. A elevação no número de notificações de infecção pelo HIV se deve as campanhas de conscientização cada vez mais “acanhadas” e/ou insuficientes.
Deste modo, foi criada a campanha nacional “Pare, Pense e Use Camisinha” para a prevenção ao HIV direcionada para o público masculino na faixa etária de 15 a 39 anos no Carnaval de 2019. Entretanto, esta não foi bem recepcionada pelos ativistas do movimento de Aids no Brasil que apontaram retrocesso.

OBJETIVO
Analisar as justificativas da campanha de prevenção “Pare, Pense e Use Camisinha” do Carnaval de 2019 e suas consequências, à luz dos Direitos Humanos, na resposta à Aids.

METODOLOGIA
Optou-se por uma abordagem metodológica triangular, na qual o corpus para análise foi constituído dos seguintes documentos: publicações oficiais do Ministério da Saúde; conteúdo de matérias jornalísticas da mídia digital e da peças da Campanha “Pare, Pense e Use Camisinha” (2019). Vale salientar que a categoria de análise do corpus baseou-se à luz no referencial epistêmico dos Direitos Humanos.

RESULTADOS
A campanha “Pare, Pense e Use Camisinha” (2019) leva em consideração os dados crescente de infecção pelo HIV em homens jovens no último boletim epidemiológico (2018). Entretanto, a campanha em nenhum momento faz alusão a qual população de homens refere-se (heterossexuais, gays, homens que fazem sexo com homens - HSH - ou transexuais), dando um tom genérico à informação. Portanto, não deixa explicito os gays e HSH como a população-chave mais vulnerável à infecção do HIV. Desta forma, o discurso do Ministro da saúde sobre elaborar 'uma campanha que não ofendesse as famílias brasileiras', refere-se ao fundamento judaico-cristã na constituição familiar, responsável pela perseguição e estigma à estes indivíduos.
Some-se a isto, a campanha reforça um machismo estrutural ao focar somente no público masculino e no preservativo masculino, de forma a invisibilizar as mulheres na representação da campanha. Ademais, há a objetificação do corpo feminino como desejo sexual masculino e de infidelidade, que pode ser verificado na letra da música “Jenifer”, utilizada na campanha.
Por fim, a campanha não aborda sobre as estratégias de prevenção combinada, como foi abordada na campanha anterior “#VamosCombinar: Prevenir é Viver o Carnaval” (2018). O atual governo trata os novos casos de infecção do HIV em homens jovens de forma genérica, reducionista, sem representatividade, que reforça estereótipos machistas e não se baseia em princípios de Direitos Humanos que são norteadores das políticas públicas do HIV/Aids, demonstrando a falta de conhecimento do histórico da epidemia, dos dados epidemiológicos e das realidades das populações-chave.

CONCLUSÃO
Apesar dos avanços tecnológicos e das conquistas alcançadas nestas últimas décadas, o país enfrenta diversos obstáculos que ainda não foram superados, a exemplo: a queda de repasse de investimentos em prevenção para ONGs; o conservadorismo do Congresso Nacional que traz danos na política de prevenção ao HIV/Aids; informação de forma inadequada e com linguagem inacessível, por vezes tecnicista, para o entendimento da população jovem.
A primeira fonte de informação que os jovens buscam sobre sexualidade e prevenção é na família, na escola e/ou nas mídias digitais. A família e à escola não tem dado conta do diálogo sobre a prevenção e especificidades do contexto epidemiológico e social do HIV/Aids. Assim, a atual campanha torna-se defasada, por não compreender as juventudes e a evolução das novas tecnologias de prevenção, no qual deve-se assegurar o livre arbítrio de exercer sua sexualidade, atreladas aos seus direitos sociais.
Como na música da banda brasileira Los Hermanos ‘Todo Carnaval tem o seu Fim’ o que fica após a “ressaca” deste Carnaval não é a fadiga sobre o preservativo ou da prevenção pelos jovens, mas a fadiga do Estado que limita a participação social e de investimentos para a elaboração de políticas públicas efetivas de conscientização e prevenção ao HIV/Aids.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento Nacional de DST/Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico – HIV e AIDS. Brasília - DF, 2018.
Portal da Saúde do Ministério da Saúde. Disponível em: Acesso em: 01 mai 2019.

local do evento

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