29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-20B - GT 20 - IST/HIV/Aids, prevenção, diagnóstico e tratamento |
30935 - DILEMAS E CONTROVÉRSIAS DE MÉDICOS/AS E JOVENS VIVENDO COM HIV SOBRE INDETECTÁVEL = INTRANSMISSÍVEL. LUÍS AUGUSTO VASCONCELOS DA SILVA - UFBA, FILIPE MATEUS DUARTE - UFBA, MÔNICA LIMA - UFBA
INTRODUÇÃO: A dinâmica atual da epidemia de HIV/aids no Brasil tem chamado atenção para o crescimento da infecção entre homens jovens, principalmente gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). Outros elementos se destacam, como o otimismo com os novos tratamentos e as estratégias biomédicas de prevenção, ao passo que há diminuição em investimentos públicos em saúde, reforço de processos de estigmatização e discriminação e a retomada de um discurso “moral” no campo da prevenção ao HIV/aids. OBJETIVO: Pretende-se discutir alguns dilemas e controvérsias de jovens vivendo com HIV (JVHIV) e médicos/as infectologistas em torno da carga viral indetectável e intransmissibilidade do HIV, todas essas pessoas participantes do projeto sociabilidades de jovens vivendo com HIV/aids: os novos discursos biomédicos e seu impacto nas relações afetivo-sexuais. METODOLOGIA: Buscando conhecer aspectos do viver com HIV e relacionamentos de JVHIV entre 18 e 30 anos, considerando os avanços atuais das biotecnologias no tratamento e prevenção para HIV/aids, durante os meses de março a novembro de 2017, foram realizadas entrevistas em profundidade com 4 médicos/as infectologistas e 10 HSH em um serviço de referência para diagnóstico e tratamento em HIV/aids em Salvador, Bahia. Para a análise das narrativas, partimos de uma abordagem sócio-culturalmente orientada, ou seja, do pressuposto de que narrativas “pessoais” e “culturais” estão interconectadas. Nessa direção, é importante destacar que as narrativas, ainda que sejam produzidas e situadas em histórias particulares, dialogam e se interconectam entre si, na medida em que atualizam ou trazem outras vozes de nossa história e cultura. RESULTADOS/DISCUSSÕES: Neste GT, para além da normalização do HIV, trazemos narrativas de jovens e médicos/as sobre os dilemas e controvérsias em torno da carga viral indetectável, a despeito de evidências científicas que mostram que uma pessoa vivendo com HIV, quando em tratamento com antirretrovirais e atingindo carga viral indetectável, não transmite o vírus durante suas relações sexuais. Considerando aspectos dialógicos e performáticos, as narrativas em foco neste trabalho mostram que persiste uma imagem de risco/perigo associada às pessoas vivendo com HIV (PVHIV), mais especificamente jovens HSH, podendo potencialmente “relaxar” no cuidado à saúde, e rotinas de medicamento, com o risco sempre iminente de transmissão do vírus. Apesar de mudanças no cenário do HIV e de novos conhecimentos tecnocientíficos, as PVHIV ainda vivem sentimentos de culpa e medo por uma possível transmissão do vírus, apesar da carga viral indetectável e do reconhecimento internacional de que “indetectável = intransmissível”. É preciso, também, chamar atenção para a produção de novas bioidentidades, como é o caso do indetectável. Essas novas bioidentidades não são neutras, já que separam ou hierarquizam sujeitos/pacientes, o que remete também a um valor moral, principalmente quando alguns podem ser vistos como bem-sucedidos e outros como relaxados ou fracassados. No caso mais específico dos/as profissionais, há dificuldades (e dilemas) para se falar ou evidenciar esses novos avanços para seus/as pacientes. São discursos, portanto, que parecem reproduzir estigmas do HIV, ou a imagem de sujeitos “perigosos”, ao tempo em que responsabilizam o indivíduo pela autogestão do risco. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Finalmente, estas narrativas colocam questões éticas importantes, como também do direito à informação. No caso da carga viral indetectável, estas novas informações podem diminuir o sofrimento e as barreiras afetivas que ainda persistem entre pessoas/jovens vivendo com HIV. Por sua vez, para além das práticas biomédicas, é preciso combater as vulnerabilidades de indivíduos e grupos, no sentido de viabilizar ou valorizar vidas, ao tempo em que se colocam em pauta outras formas e modelos de cuidado à saúde, sem reduzi-lo às tecnologias biomédicas. O que abre a discussão sobre os múltiplos atores e situações que podem mudar ou interferir no cuidado à saúde.
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