28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-23A - GT 23 - Promoção da saúde - políticas, práticas e vivências |
30981 - A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA SAÚDE A PARTIR DE GRUPOS COMUNITÁRIOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA. ANANA AZEVEDO CHAVES - UFMS, BRUNO DINIZ VILA - UFGD, DÉBORA LUZIANA MARCON DE MELLO - UFMS, JOICE LOURENÇO DA SILVA - UFMS, MARIA EUGÊNIA FARIA TAVARES - UFMS
Este trabalho propõe discutir a necessidade da criação de espaços coletivos na atenção primária utilizados para construir o cuidado integral e o empoderamento da população em saúde a partir de uma experiência vivida durante o período de aproximadamente um ano (março de 2017 à maio de 2018), em uma residência de medicina e família e comunidade no sertão da Paraíba.
Os princípios que regem o modelo de saúde brasileiro desde a constituição de 1988 contrapõe-se à concepção biomédica da medicina centrada na doença, construída para favorecer os paradigmas econômicos historicamente vigente.
As diretrizes do Sistema Único de Saúde carregam os ideais que contemplam as conquistas do movimento sanitário da luta pela ampliação dos direitos sociais. Transferem a responsabilidade de prover saúde para o Estado, sendo um sistema universal, descentralizado, permitindo o acesso a qualquer indivíduo com equidade, e prevê a participação popular em todos os graus hierárquicos de construção de políticas públicas em saúde. (BRASIL, 1988).
Pressupõe-se que a saúde é um bem coletivo e não apenas individual, um sistema integrado por inter-relações pessoais, sociais, política, econômica, ecológicas e psicológicas e não por ausência de doença, ou um “bem-estar pleno” como preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946). Para alcança-la, faz-se necessário promover a participação popular para uma construção coletiva em saúde. Este complexo emaranhado de relações não permite que um indivíduo se dissocie de seus pares, de seu território e das leis que orientam o trânsito de suas ações.
O programa saúde da família (PSF) surge em 1994 em contraposição a uma assistência à saúde no modelo biomédico que compreende o indivíduo de forma isolada de seu contexto familiar e dos valores sócio culturais, fragmentando-o, descontextualizando-o de sua realidade familiar e comunitária. (BRASIL, 2000). Objetivou-se através desse programa o exercício de urna nova prática racionalidade, “partindo de uma premissa solidária e construída de forma democrática e participativa, capaz de transformar os indivíduos em verdadeiros atores sociais e sujeitos do próprio processo de desenvolvimento” (BRASIL, 2000, p.).
No contexto da estratégia de saúde da família, com o objetivo de favorecer o cuidado integral, bem como a melhoria do acesso e acolhimento e a participação da população no processo de construção da saúde individual e comunitária em uma unidade de atendimento primário na cidade de Patos da Paraíba, a equipe local passou a organizar os horários de atendimento à população a fim de abrir espaços para realizar trabalhos em grupos. Iniciamos o processo com reuniões de equipe, pois está mostrava-se desmotivada e resistente às novas propostas trazidas pela residente de medicina de família e comunidade. Os diálogos se deram de forma horizontal com objetivo de compartilhar conhecimentos e saberes e construir juntos novas ideais.
Juntos idealizamos um primeiro projeto intitulado “Ocupe seus conselhos”, o qual visou a construção de um conselho local de saúde para a promoção de um espaço em que a população trouxesse suas demandas críticas e necessidades relacionadas à saúde. As reuniões com a comunidade aconteciam a noite e no salão paroquial. Essas reuniões também foram realizadas em cada micro-área liderada por seus agentes de saúde. Junto a esse projeto, criamos o grupo EMAGRECER, o qual em conjunto com os profissionais do núcleo de apoio a saúde da família, realizávamos encontros semanais em espaços no campos da Universidade Estadual da Paraíba que se localiza dentro da comunidade. Criou-se uma rotina de atividade física com o educador físico; fazíamos encontros para produzir alimentos saudáveis com a nutricionista; nos reuníamos para falar sobre amor, imagem corporal, entre outros temas. Produzimos também o “grupo do Sono” com objetivo de diminuir o uso de medicamentos psicotrópicos desnecessários e o projeto “Percursos em saúde” que visava ampliar os recursos terapêuticos locais com introdução das práticas integrativas como proposta de cuidados.
Percebemos que o trabalho coletivo diminuiu os espaços entre comunidade e equipe fortalecendo o vínculo entre estes e favorecendo os ideais da estratégia de saúde da família. Chegamos mais próximos a diretriz do cuidado integral e otimizamos o tempo de trabalho da equipe reduzindo o número de consultas individuais.
Os grupos interagiam entre si fortalecendo as redes de cuidados comunitária. Através deles, criou-se a possibilidade de diálogos entre comunidade e gestão municipal em relação às necessidades apresentadas pela população de recursos para promoção da integralidade do cuidado, além de promover a saúde como direito a partir de um conceito ampliado.
Por fim, os resultados obtidos durante o ano de vivência nos levam a reforçar o potencial organizativo e formativo dos grupos comunitários como um modelo de cuidado em saúde.
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