29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-23B - GT 23 - Práticas Integrativas e Complementares: evidências de efetividade |
30331 - VIVÊNCIAS DE UMA USUÁRIA SOBRE OS SIGNIFICADOS DA HORTA NO ÂMBITO DE UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM JOÃO PESSOA: DIÁLOGOS DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COM A COMUNIDADE. ANTÔNIA ALVES MATIAS - COMUNIDADE JARDIM ITABAIANA, LÌLIAN RIBEIRO ALEXANDRE - UFPB, RITA DE CÁSSIA DA SILVA - UFPB, ANA CLAUDIA CAVALCANTI PEIXOTO DE VASCONCELOS - UFPB
O programa de extensão Praticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB), vinculado aos departamentos de Nutrição e de Promoção da Saúde da UFPB, vem desenvolvendo ações desde 2007 no âmbito da Atenção Primaria à Saúde (APS). Com ações apoiadas no referencial teórico-metodológico da Educação Popular, o PINAB busca com graduandos de diversos cursos e áreas, promover a saúde e a Segurança Alimentar e Nutricional de comunidades. A Unidade de Saúde da Família (USF) Vila saúde e as comunidades Jardim Itabaiana, Pedra Branca e Boa esperança, localizados no bairro do Cristo Redentor em João Pessoa-PB, constituem em alguns dos cenários de atuação do referido programa.
Dentre as várias frentes de inserção do PINAB, constam iniciativas ligadas à hortas, entendendo esses espaços como locais de produção de plantas medicinais e alimentos saudáveis, mas também como pólos de construção e multiplicação de saberes. No território foi construída uma horta comunitária, e a partir de 2016, por meio de um grupo operativo, com a participação de diversos extensionistas e alguns profissionais de saúde, além de pessoas da comunidade, foi implementada uma horta no cenário da USF. Tal iniciativa foi idealizada como forma de aproveitamento de espaços ociosos da unidade para o cultivo de plantas fitoterápicas e alguns alimentos, mediante a construção compartilhada, com ênfase no princípio organizativo da valorização do saber popular e dos fazeres comunitários locais.
Nesse contexto, o presente trabalho visa sistematizar a experiência da horta no espaço da USF, com enfoque na participação e vivências de uma moradora da comunidade, que vem exercendo um papel protagônico nesse processo- Antônia, aposentada, nascida e criada no interior do estado do Maranhão. Assim, buscamos a partir de uma entrevista, com questões abertas, apreender as percepções de dona Antônia sobre a sua inserção com as atividades ligadas a horta, evidenciando as repercussões dessas atividades sobre sua qualidade de vida.
O interesse de dona Antônia pela fitoterapia surgiu com sua família que tradicionalmente produzia e consumia remédios à base de plantas medicinais. Ela relata que na infância costumava acompanhar sua mãe quando ia benzer com plantas pessoas enfermas. Dessa forma, foi crescendo seu conhecimento sobre os diversos tipos de plantas, com as suas respectivas propriedades terapêuticas e usos.
Apesar de dona Antônia já ser usuária da USF Vila Saúde há muitos anos, ela relata que não tinha um vínculo forte com esse espaço. Até que em uma dessas visitas à USF, ela conheceu a proposta da horta através de uma extensionista do PINAB, que a convidou para colaborar com a iniciativa.
Porém, dona Antônia se mostrou receosa temendo não ser capaz de conseguir acompanhar as ações. Mas convidou a extensionista para sua casa, a fim de mostrar as plantas que cultiva no seu jardim. A partir dessa visita deu-se início a construção de um vínculo, possibilitando uma partilha de conhecimentos entre ela e os extensionistas. Desde então, dona Antônia passou a se envolver cotidianamente nas ações da horta.
Conforme ela relata, o espaço da horta, o cuidado com a terra e o cultivo das plantas, além da oportunidade de poder ensinar outras pessoas os procedimentos para a retirada de mudas e como utilizá-las de maneira adequada, trouxe novo ânimo e vitalidade para o seu dia a dia. Nesse sentido, a horta mudou a sua rotina, agregando outros propósitos à sua vida, na qual pode se sentir útil para sua comunidade. Tais aspectos contribuíram sobremaneira para que enfrentasse um processo de sofrimento mental (depressão).
Atualmente dona Antônia tem buscado se aprofundar quanto à fitoterapia, por meio de formações na área. No entanto, ela lamenta o fato de não ter o apoio de outros moradores para os cuidados e preservação da horta. Além disso, ressalta a limitação de materiais para a manutenção do espaço. O término da atuação do PINAB nessa iniciativa também consistiu em outra fragilidade nesse processo, visto que atualmente ela conta apenas com o suporte de alguns profissionais da USF para à manutenção da horta. Esses pontos alertam para a necessidade de se incrementar o apoio da gestão para ações dessa natureza, buscando contornar tais fragilidades.
A partir da experiência vivenciada com dona Antônia, entendemos que a horta no espaço de uma USF tende a ser uma ferramenta potente à luz da Política Nacional de Praticas Integrativas e Complementares, para o fortalecimento dos conhecimentos populares voltados à promoção da saúde da comunidade. Além disso, constitui uma iniciativa que pode favorecer um cuidado integral para além dos serviços convencionais, oportunizando espaços e atividades significativos, com momentos de escuta, de fortalecimento da autoestima e protagonismo, e a valorização da pluralidade dos conhecimentos e saberes.
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