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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-23B - GT 23 - PICS, auto conhecimento e equilibrio emocional

30385 - O USO DAS PRATICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES PELAS FORÇAS ARMADAS: UM ESTUDO CULTURAL SOBRE O CUIDADO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO
NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP, DANIELA DROGUETTI CHRISTOVAM - UNICAMP


O Uso de Práticas Integrativas e Complementares (PIC) pelas Forças Armadas representa um evento de cultura contemporânea em saúde, de predomínio norte-americano, desencadeado a partir dos limites do modelo biomédico em atender o enorme contingente de militares que desencadeiam Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) ao longo de conflitos bélicos contínuos nos últimos cem anos. No Brasil essa aproximação se deu oficialmente em 2009, com a publicação da Portaria NR 07/DGP, das Normas do Exercício da Acupuntura no Âmbito do Serviço de Saúde do Exército. O objetivo do estudo é analisar sistematicamente a literatura indexada sobre o uso de PIC pelas forças armadas, e, produzir uma análise crítica dos resultados com a contribuição dos Estudos Culturais (EC) através do Circuito de Cultura (CC) como referencial critico-metodológico. Foi utilizado como método a Revisão Sistemática da Literatura indexada nos bancos de dados: BVS, Pubmed, Scopus, Web of Science, Embase, ProQuest Central, ProQuest Military, Academic Search Premier, JStor e Sage, com as palavras-chave: “complementary and alternative medicine”, “integrative medicine” e “military or veterans”. Não foram encontradas publicações brasileiras no total de 538 artigos inicialmente identificados sobre o tema nas dez bases de dados investigadas. Após a aplicação dos filtros e remoção dos artigos duplicados foram identificados 97 artigos sobre o uso de PIC pelas forças armadas. Os resultados apontam que entre os 97 artigos selecionados que investigam o uso de PIC pelas forças armadas, 43 discutem o TEPT ou questões associadas a saúde mental, como depressão, ansiedade e estresse, compondo a categoria de maior relevância no estudo. A partir desse achado, a categoria de TEPT e saúde mental foi discutida em profundidade através da análise crítica dos EC. A hierarquia militar alia-se ao funcionalismo biomédico na produção de saúde e permite a entrada das PIC no meio militar de forma a utiliza-la como recurso de adaptação ao sofrimento traumático enquanto expropria sua cultura integrativa e singular, exercendo assim, um predomínio sobre as culturas biomédica e alternativa, tanto na perspectiva da produção de pesquisa quanto na perspectiva de regulação e consumo de PIC. As pesquisas são produzidas por instituições militares, acadêmicas e privadas e apresentam uma prevalência metodológica que reproduz o padrão hegemônico biomédico centrado na eficácia e na efetividade, reforçando o modelo funcionalista. A maior parte dos artigos é produzida por pesquisadoras do sexo feminino que apresentam vinculo institucional militar. Os militares representam culturalmente as PIC como uma alternativa ao uso excessivo de medicamentos em resistência a seus efeitos colaterais e sua baixa resolutividade. A definição do TEPT pelas bases biomédicas, não são discutidas a partir das representações culturais de ordem holística, assim como, o diagnostico segundo epistemologias alternativas. Os artigos que abordam o Trauma Moral ou a Lesão Moral visibilizam a subjetividade do sofrimento e do abandono dos militares com trauma sendo que essas expressões não são associadas diretamente ao TEPT. Enquanto a expressão TEPT reproduz uma série de representações biomédicas focadas no militar, as expressões que resgatam a “dor moral” dão visibilidade ao sujeito em sofrimento profundo. A capelania foi apontada como PIC ao configurar o “cuidado da alma”, estabelecendo representações culturais de confiança e segurança advindas da colonização cristã norte-americana, que apesar de não ter sido representada diretamente pela literatura, foi apontada como religião predominante entre os veteranos. A literatura indexada apresenta-se como um recorte da cultura contemporânea que reproduz representações culturais do campo da saúde na cultura do campo acadêmico. Assim, o modelo biomédico é representado como legitimo e verdadeiro e para que esse traço da contemporaneidade seja sustentado é necessário que muitos outros modelos de cuidado sejam silenciados e desvalorizados. Apesar da regulação produzida pelo complexo militar-biomédico sobre a legitimidade das PIC, a existência permanente de conflitos bélicos norte-americanos produz um aumento do estresse pós-traumático nos militares em combate, fortalecendo a produção e o consumo de PIC pelas FA.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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