28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-23A - GT 23 - PICS e Educação Popular na formação profissional e no cuidado em instituições de ensino |
31579 - FORMAÇÃO EM MEDICINAS TRADICIONAIS COMPLEMENTARES E INTEGRATIVAS (MTCI) NAS GRADUAÇÕES EM SAÚDE NO CONTEXTO NORTE-AMERICANO: REFLEXÕES PARA AS PICS NO BRASIL? GABRIELLA CARRILHO LINS DE ANDRADE - ENSP/FIOCRUZ, DENISE CAVALVANTE DE BARROS - ENSP/FIOCRUZ, MARILENE CABRAL DO NASCIMENTO - UFF
A despeito da discussão conceitual acerca das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), termo adotado pelo Ministério da Saúde, é possível relacioná-las às Medicinas Tradicionais Complementares e Integrativas (MTCI), nomenclatura utilizada pela Organização Mundial de Saúde, no cenário internacional. Apesar de incentivos internacionais e nacionais para inclusão dessas práticas, saberes e cuidados não convencionais nos sistemas de saúde, a literatura brasileira aponta como um desafio a formação de recursos humanos para exercer as PICS no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, ainda que o contexto político, econômico, social e cultural norte-americano tenha características distintas da realidade brasileira, e ainda mais especificamente no que concerne aos modelos de educação e saúde dos dois países; entende-se que o histórico de incentivo à inserção das MTCI no ensino universitário de lá pode oferecer possibilidades para refletir o caso do Brasil, justificando lançar um olhar para fora para pensar o dentro. O presente resumo é um fragmento da construção de uma tese de doutorado em saúde pública. Dessa maneira, objetivou-se analisar a experiência norte-americana de formação em Medicinas Tradicionais Complementares e Integrativas com foco nas graduações em saúde. Para tanto, foi feita uma revisão de literatura nas seguintes bases de dados: BVS, Scielo, Oasis IBICT e BDTD, com palavras-chave para a temática relacionando MTCI e ensino. O resultado inicial retornou com 934 documentos, porém, após leitura de título e resumo e corte temporal (a partir de 2000, ano subsequente à formação do Consortium of Academic Health Centers for Integrative Medicine), 23 artigos completos compuseram o corpus analítico, onde excluiram-se os referentes a outros países que não os Estados Unidos da América (EUA), que abordavam a pós-graduação ou cursos específicos na área. A partir da leitura exaustiva dos artigos, procedeu-se uma categorização com base no que propõe a análise de conteúdo temática. A primeira categoria identificada, “Histórico de incentivo para inserção de MTCI no ensino universitário” mostrou que a necessidade de formação dos profissionais de saúde com MTCI se deu principalmente pelo uso crescente dessa abordagem como cuidado em saúde, bem como pela insatisfação da população com a biomedicina. Em 1998, foi criado o National Center for Complementary and Integrative Health (NCCAM), atual National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH), para condução de pesquisas científicas sobre MTCI, treinamento de pesquisadores e disseminação de informações na área, para o público e para profissionais de saúde. Em 1999, o NCCAM, buscando disseminar tais informações lançou o programa de auxílio “R25 CAM Education Grant Program”, para o encorajamento da inserção de MTCI nos currículos das escolas médicas, de enfermagem e afins. Dessa forma, foram 15 projetos financiados com subsídio de educação para pesquisa, de 2000-2003. Da segunda categoria, “Barreiras e desafios para inclusão de MTCI nos currículos”, ressalta-se que tal processo esbarrou em questões como poder e hierarquia nas instituições, passando pelo fato de que os territórios educacionais são divididos por disciplinas, bem como a constatação das visões tradicionais de ensino e métodos de avaliação até ao dado de que os cursos em saúde existem com cronogramas superlotados. E ainda, deve-se sublinhar o enorme desafio encontrado de desenvolvimento do corpo docente. Quanto as “Características gerais dos currículos com MTCI”, terceira categoria, viu-se que os objetivos dos currículos são formar profissionais que possam se comunicar sobre o uso desses outros saberes e práticas com os indivíduos que estejam atendendo; possam estar familiarizados com as modalidades mais usuais para que consigam discutir suas possibilidades de uso; saibam fazer encaminhamentos de maneira segura daqueles interessados em utilizar as MTCI e que conheçam as maneiras de obtenção de informações confiáveis sobre as mesmas. No geral, o conteúdo curricular envolvia: contextualização das MTCI; pesquisas e evidências clínicas das principais modalidades segundo o NCCIH; questões metodológicas enfrentadas quanto à eficácia e segurança; identificação de estratégias de autocuidado; reconhecimento do valor do cuidado pessoa-centrado e conhecimento com provedores de MTCI. A quarta e última categoria, “Estratégias, avanços e aprendizados da integração curricular com MTCI”, revelou a importância de minimizar o preconceito e abrir espaço para discussão das controvérsias sobre a área; de incluir a experimentação práticas das MTCI; o enfrentamento do aprendizado das pesquisas clínicas e da busca pelas evidências na área. Foi possível concluir então que, a experiência norte-americana pode contribuir com alguns elementos para reflexão sobre o contexto de formação de PICS no Brasil, bem como, ratificou-se a graduação como sendo o momento mais oportuno para o aprendizado inicial sobre as MTCI/PICS.
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