29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-23C - GT 23 - Corpo, movimento, humanização e cuidado |
30469 - A RESSIGNIFICAÇÃO DO CUIDADO NA FISIOTERAPIA ATRAVÉS DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA GEOVANA RITA SANTOS NASCIMENTO DE CARVALHO - UNIBRA, REBECA DE CASTRO OLIVEIRA - IAM/FIOCRUZ-PE
Contextualização: Em um país marcado por desigualdades profundas, assimetrias de visibilidade e possibilidade de expressão entre as pessoas, pensar o cuidado perpassa pela busca de dar voz a essas perspectivas subjetivas e/ou negligenciadas, tendo o cuidado como um “direito de ser” e legitimado através do respeito com as individualidades de etnia, crença, classe social e gênero apresentadas por cada sujeito. No entanto, dentro do campo da fisioterapia, esse olhar ampliado encontra uma barreira dentro do modelo hegemônico de cuidado pelo qual se baseiam as raízes históricas da fisioterapia. Esse modelo associa a fisioterapia unicamente a reabilitação, com atuação focada no movimento em sua função cinesiológica,esquecendo a dimensão de outros movimentos que são essenciais como, por exemplo, o que se refere ao mover da vida, que leve a transformação, a mudanças, o movimento social no que diz respeito à saúde, e não apenas a doença. E é na visão ampliada do processo saúde-doença fornecida pelas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) que acontece uma quebra deste padrão reabilitador, com abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de promoção e recuperação da saúde e prevenção de agravos, com ênfase na escuta acolhedora e na integração do ser humano com a sociedade. Descrição: Trata-se de um relato de experiência da participação de estudantes do 9º e 10º período da graduação de fisioterapia de uma faculdade particular em atividades relacionadas às PICS, realizadas em uma Unidade de Cuidados Integrais à Saúde (UCIS) da cidade do Recife, Pernambuco, através do estágio supervisionado. A unidade especializada em PICS, composta por profissionais das mais diversas formações, está inserida na atenção básica a saúde e oferta trabalhos para a população. As estudantes vivenciaram atividades como a oficina de alimentação saudável, yoga, meditação, dança circular, lian gong, oficina de fitoterapia, reiki, oficina do brincar e automassagem. Também foram realizadas rodas de diálogo a respeito das evidências científicas sobre as PICS entre as estudantes e a preceptora de estágio, e uma sala de espera com os usuários da unidade com temas voltados para a conscientização do autocuidado. Período de realização: A vivência se deu a partir do dia 11/02/2019 até o dia 26/03/2019. Objetivo: Promover uma reflexão quanto o conceito de cuidado e como ele tem sido colocado em prática dentro da área da saúde com enfoque na fisioterapia, apresentando as PICS, como alternativa para o desenvolvimento de uma nova forma de cuidar. Resultados: A imersão no estágio na UCIS promoveu uma desconstrução do padrão reabilitador vigente na fisioterapia logo no primeiro momento da vivência, com a sugestão de participar de todas as práticas como usuário, ou seja, deixar de lado o jaleco e com ele as premissas acadêmicas. O ciclo de estágio foi vivenciado juntamente com a população atendida pela unidade, desarmando qualquer tipo de sensação de superioridade frente aos demais usuários, além de fornecer uma dimensão real dos desafios encontrados por eles. No decorrer das práticas, a inserção das estudantes nas atividades da unidade facilitou a criação de vínculo com os usuários, facilitando a compreensão de que a adoção das PICS é um ato de firmar uma identidade de cuidado, oposta a prática de cuidado biomédico, fragmentado, objetivando a melhora da saúde e da qualidade de vida. Os usuários intitulam o ambiente como sua segunda casa devido à sensação de acolhimento que ele traduz, capaz de promover uma transformação nas relações pessoais, com construção de vínculos de apoio e solidariedade. Os usuários entendiam a importância da autonomia para o seu próprio cuidado, saiam totalmente renovados e confiantes após uma vivência de dança circular, aprendiam métodos naturais e eficazes de tratamentos fitoterápicos, a pararem e se observarem com a prática da meditação; todos com o intuito de promover o bem-estar físico e mental. Aprendizados: A ressignificação do cuidado fisioterapêutico por meio das PICS se dá pelo aprendizado de que o paciente é um ser biopssicosocial e por isso, para alcançar a resolutividade de suas demandas, o fisioterapeuta precisa assumir o desafio diário da escuta. Assim é possível desenvolver um plano de tratamento que incorpore o acolhimento de todas as determinantes sociais daquele indivíduo, transgredindo o olhar limitado da reabilitação. Análise Crítica: As necessidades em saúde são extremamente dinâmicas e isto exige que os profissionais de saúde sejam capazes de desenvolver estratégias de cuidado ampliadas. No entanto, o conhecimento teórico adquirido ao longo da graduação nem sempre promove a importância desse olhar integral. Experiências de estágio como esta viabiliza a conscientização de futuros fisioterapeutas sobre a relevância do vínculo terapêutico, da integralidade do cuidado e da interdisciplinaridade para melhorar a assistência e a qualidade de vida dos pacientes.
|

|