29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-9B - GT 9 - Drogas e populações vulnerabilizadas |
30928 - DANDO VOZ ÀS MULHERES: UM GRUPO FEMININO NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁCOOL E OUTRAS DROGAS
BEATRIZ GEIZIANE DA CUNHA RODRIGUES - UFPB, MILENA BARBOSA DA SILVA - UNIPÊ, MARIA DANDARA LOPES FERREIRA - UFPB, MIKAELLY DUARTE LEITE - UFPB
Contextualização: A Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem como cenários de prática os serviços substitutivos do município de João Pessoa, dentre eles o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD III). Ao vivenciar e analisar o cotidiano neste serviço observamos que o número de mulheres atendidas era bastante inferior ao número de homens, não havendo espaço para discussão e atendimento referente ao universo feminino. Historicamente, o reconhecimento da condição da mulher enquanto problemática social foi construído por meio de muita luta dos grupos formados por mulheres feministas, resultando em inúmeras conquistas. Todavia, ainda hoje, discutir políticas públicas e o uso de substâncias psicoativas por mulheres é dar ênfase a um tema pouco abordado que perpassa os estigmas sociais. Descrição: O inicio do processo de construção do grupo se deu mediante a consideração do número de mulheres no serviço em cada dia da semana, a fim de definir-se o dia mais propício para sua realização visando atender o maior número de mulheres. Após a definição do dia e turno mais adequado, houve a divulgação do grupo nas oficinas terapêuticas informando a data e turno do primeiro encontro. Na primeira reunião, contamos com a presença de três mulheres. Iniciamos o encontro com uma dinâmica de apresentação onde cada uma falou seu nome e uma atividade prazerosa e significativa para si. Na ocasião, uma usuária relatou a sua vivência de violência doméstica. Em seguida, questionamos as usuárias do serviço sobre quais temas elas gostariam que fossem abordados no grupo, a fim de que pudéssemos planejar os próximos encontros considerando suas necessidades e desejos. Dentre os temas sugeridos estavam: autoestima, violência contra a mulher, e realização de passeios. Para finalizar, realizamos um momento de relaxamento. O grupo constituía-se como um espaço aberto, ou seja, a cada encontro novas participantes poderiam juntar-se às demais. A periodicidade do grupo era semanal, acontecendo nas quartas-feiras no período da tarde com previsão de duração de uma hora. Diante da necessidade de aprofundamento na temática sobre violência doméstica, realizamos dois encontros abordando este tema. Foram relatadas várias histórias tristes e de muito sofrimento, mas que eram acolhidas pelo grupo com muita empatia. Em um desses encontros houve a discussão acerca dos diversos tipos de violência contra a mulher e apresentação da rede de apoio existente no município. Em outra ocasião, realizamos uma discussão acerca das funções masculinas e femininas no cotidiano, pedimos para que elas elencassem o que seria “Coisas de mulher e coisas de homem”, e como resultado as mulheres prepararam um cartaz com frases de empoderamento feminino, destacando que o lugar da mulher é onde ela quiser. Notamos que o uso de drogas surgia no grupo como um fator secundário, como uma estratégia para suportar as pressões e estigmas sociais. Período de realização: O grupo iniciou-se no dia 14 de Abril de 2018, e era realizado semanalmente, nas quartas-feiras. Considerando que o grupo de residentes que implementaram o grupo estaria neste serviço apenas até o mês de Junho de 2018, todo o trabalho desenvolvido no grupo de mulheres foi repassado a outra equipe de residentes a fim de dar continuidade ao trabalho iniciado. Objetivo: O presente trabalho visa relatar a experiência de um grupo de residentes na implementação de um grupo de mulheres no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD III) no município de João Pessoa, a fim de fortalecer o protagonismo feminino num espaço de saúde majoritariamente masculino. Resultados: O grupo de mulheres no CAPS ad possibilitou um espaço onde as mulheres se sentiam mais a vontade para compartilhar as dificuldades diárias e trocar experiências, contribuindo para o alívio de estresse e angústia. Aprendizados: A sensibilização pessoal vivenciada pelo grupo de residentes nos possibilitou percorrer caminhos desconhecidos e buscar novos conhecimentos acerca de gênero e uso de substâncias psicoativas, visando descobrir novas formas de intervenção profissional. Análise crítica: O estigma social vivenciado pela mulher pelo uso de drogas é bastante notório, resultando em culpa constante e dificultando a procura pelos serviços de saúde, contribuindo para que o número de mulheres nos serviços seja menor se comparado aos homens. Considerando a complexidade entre o universo feminino e o uso de drogas, faz-se necessário a formação de um olhar e assistência em saúde integral, valorizando as peculiaridades femininas que transcendem os fatores relacionados à reprodução.
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