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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-19A - GT 19 - Comunidades Virtuais e Saúde

30379 - A VOZ DOS USUÁRIOS NA REDE: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS QUE COMPARTILHAM EXPERIÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL
FERNANDO SCHIMIDT EL-JAICK - UFRJ, MÔNICA MONTEIRO PEIXOTO - UFRJ, OCTAVIO DOMONT DE SERPA JUNIOR - UFRJ


O grupo A voz dos Usuários surge em 2005, em um Centro Universitário de Saúde Mental do Rio de Janeiro, quando um grupo de usuários, frequentadores do Hospital Dia, foi convidado a oferecer aulas práticas em uma disciplina para a graduação em psicologia, por meio da transmissão de suas experiências de sofrimento psíquico. A iniciativa tinha como objetivo contribuir para a formação de profissionais mais sensíveis, além de colaborar para o enfrentamento do estigma. O grupo tem expandido suas atividades e atualmente realiza rodas de conversas com alunos de medicina, enfermagem e psicologia, além de atender convites de outras instituições. O grupo mantém um site, uma página no Facebook e um canal no YouTube, onde compartilham suas produções.

A oficina de filmagem surgiu em 2015, sendo realizada até hoje, tendo por objetivo criar um meio através do qual os usuários possam dividir com outras pessoas suas experiências. Os temas das filmagens são escolhidos pelos integrantes, preferencialmente relacionados à saúde mental, envolvendo aspectos de sua própria vivência de adoecimento. Isso permite que o público acesse um conhecimento vivo e corporificado, uma dimensão subjetiva do adoecimento psíquico. Todavia, outras narrativas também se fazem presentes na oficina como canções, poemas, e relatos voltados para temas diversos. A oficina se apresenta como um espaço de invenção e de expressão da subjetividade de maneira lúdica.

Podemos sintetizar o processo de filmagem em cinco tempos: criação, gravação, visualização da gravação, compartilhamento e o de repercussão do compartilhamento.

No tempo da criação o usuário elabora uma narrativa sobre determinado tema, que pode ser desenvolvido de diferentes modos: por improviso, via leitura de textos previamente preparados ou por uma mescla dos casos anteriores. Por vezes relatos de experiência de outros usuários da Saúde Mental ou de profissionais são assistidos durante a Oficina servindo como disparadores de novas narrativas. No tempo da gravação o profissional com a câmera se coloca apenas como um veículo, sem fixar o tempo de fala. Posteriormente, o material capturado é visto pelo seu autor e demais participantes da Oficina. Em alguns casos, duas ou mais pessoas gravam o vídeo juntas, estabelecendo um diálogo. Cabe ressaltar que nem tudo que é produzido é publicado no canal do YouTube. O usuário pode optar por não publicar devido a algum incômodo

pessoal, por ter repensado o tema ou para tentar gravar de novo. Em alguns momentos a publicação do vídeo foi questionada pelo grupo por apresentar conteúdo de foro extremamente íntimo ou por citar nomes de pessoas que não faziam parte da Oficina. A publicação passa pelo crivo dos participantes, mediante autorização de cessão de imagem. Além disso, o usuário pode retirar seu vídeo do canal no momento que desejar. Por fim, os integrantes conversam sobre o vídeo, leem os comentários dos internautas, que só são publicados mediante autorização do grupo, e veem o número de visualizações de cada vídeo.

Assistir na tela sua própria imagem e escutar o registro da sua voz podem causar uma sensação de estranheza nos participantes. Em algumas ocasiões, o próprio autor do vídeo percebeu o conteúdo apresentado como pesado e perturbador, causando sensações de desconforto ou de exposição, levando a experiências de comoção e instabilidade emocional. A participação de profissionais da saúde mental na oficina permite o acolhimento desse mal estar eventualmente causado pela atividade.

Observamos que a oficina traz alguns benefícios, como empoderamento, sensação de utilidade, valorização da própria narrativa e ampliação dos vínculos sociais. Mas também consideramos os possíveis riscos tais como: sentimentos persecutórios relacionados ao que foi dito na gravação e sensação de exposição ou de estar sendo julgado, que são mediados pelo profissional que acompanha a oficina de modo a circunscrever esta experiência subjetiva em um ambiente o mais seguro possível. Naturalmente, muitas questões escapam ao controle, como o alcance de visualização do vídeo e seus eventuais compartilhamentos.

Um dos integrantes da Oficina cita o texto de Freud de 1919 intitulado ‘O Estranho’ para falar sobre a experiência de estranheza com o vídeo. Nesta obra Freud conta que ao ver sua imagem refletida durante uma viagem de trem, a princípio antipatiza com o que vê, achando que outra pessoa está entrando no seu vagão. Para seu espanto, posteriormente ele percebe que este estranho invasor é ele próprio.

Neste sentido, o que é mais estranho em nós mesmos, nossas expressões, falas, gestos e posturas, pode ser aquilo que temos de mais familiar e autêntico. É com esse sentimento de inquietante estranheza ao ver-se capturado por uma gravação e enquadrado numa tela que todos nós, usuários dos serviços de Saúde Mental ou não, somos levados a experienciar este estrangeiro que habita dentro de nós mesmos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900