29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-19C - GT 19 - Novas Mídias e Saúde |
29872 - “ENVELHECENDO EM UMA COMUNIDADE”: UM LABORATÓRIO VIRTUAL DE PESQUISA, EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE NILTON BAHLIS DOS SANTOS - EBS/IOC/FIOCRUZ, FERNANDA CAMPELLO NOGUEIRA RAMOS - EBS/IOC/FIOCRUZ
Introdução/Apresentação: Pode se considerar que a presente pesquisa é o desdobramento da pesquisa inicial denominada “Comunidades Virtuais como Base do SUS”, realizada na Fiocruz entre 2006 a 2008, assim como de uma série de outras pesquisas complementares relacionadas ao tema, no contexto das práticas interativas, partindo da idéia de que a Internet e as redes sociais permitem a transformação destas comunidades em amplos espaços de educação não formal. Elas se oferecem como um grande laboratório para pensar e resolver vários problemas relacionados à saúde, que é o resultado do exacerbamento da abordagem biomédica, a qual gerou uma clivagem entre profissionais e “pacientes”, técnicos e “usuários”, educadores e “aprendizes”, conhecimento científico e “leigo”, enfim entre a teoria e a vida. Desde então, os participantes e pesquisadores do Grupo de Pesquisa Teorias e Práticas Interativas, que desenvolveram essas atividades, criaram e participaram em diversas redes sociais, aprenderam que as comunidades virtuais criam novas sociabilidades e podem viabilizar comunidades auto-sustentáveis, onde se pode conviver, trocar experiências em um clima de solidariedade. Mas não puderam realizar o projeto de criar uma comunidade na escala necessária para melhor pensar esses problemas até o momento que, em uma pesquisa sobre envelhecimento, se viabilizou essa possibilidade.
Objetivo: Nosso objetivo é pensar uma comunidade virtual como um possível laboratório vivo, em escala real, com participação de todos agentes relacionados a um propósito específico (no caso Envelhecimento): pesquisadores, educadores, técnicos e pessoas comuns, com suas dinâmicas, linguagens e práticas específicas. Espera-se que o laboratório, sirva à educação não formal, pesquisa e promoção da saúde, nas próximas fases do projeto.
Metodologia: “Envelhecimento em Comunidade” é um grupo público criado em 05/09/2016 (https://www.facebook.com/groups/1764220020525286/). No início de 2017 chegou a 1.000 membros, em junho 60.000, e terminou 2017 com 100 mil. Hoje tem 127 mil membros em diversas cidades e países, cerca de 70% com mais de 45 anos.
Como “work in progress”, a comunidade se tornou um espaço de observação, onde idosos interagem, falam sobre suas vidas e seus envelhecimentos, sentimentos, percepções, saberes, demandas e permitem observar a influência do convívio em comunidade no seu bem estar e recuperação do interesse pela vida.
Discussão: A grande questão nesta primeira fase foi a sua expansão e estabilização, pelo menos provisória, onde se procurou manter o mínimo de moderação deixando a palavra livre para os membros. Isto fez aparecer no interior da comunidade todas as contradições existentes na nossa sociedade e na terceira idade, se colocando a questão se é possível conformar uma “identidade” a partir de tantos lugares, tempos e experiências diversas, onde se possa simplesmente conviver, ter amizades, aprender a cuidar da saúde, melhorar a alimentação, viver melhor, pensar seus problemas e oportunidades, aprender coisas novas, ser acolhido (e acolhimento é fundamental na promoção da saúde), viabilizar encontros, e ocasionalmente, experimentar uma relação afetiva. A observação de postagens e comentários mostra a dificuldade dos membros da comunidade para lidarem com as diferenças, tendo havido questionamentos sobre a participação de pessoas com menos de 60 anos, embates de gênero e preconceitos quanto a idade, nacionalidade, cor, raça, etnia, religião.
Conclusões/Resultados: As contradições, que já apareciam em uma comunidade com tanta diversidade, mesmo tendo objetivos comuns, foram agravadas com o período eleitoral quando repercutiram em seu interior as tensões e confrontos que permeiam nossa sociedade, o que inclusive ocasionou uma redução de cerca de 5.000 membros. Atualmente essa situação vem sendo enfrentada com uma intervenção baseada em metodologias de educação não formal e em rede, e já se conseguiu a re-estabilização momentânea da comunidade e a volta ao patamar de membros anterior. No momento estamos aprimorando essa intervenção, mas já podemos dizer que temos uma comunidade em vida, um imenso laboratório que nos permite desenvolver ações de promoção da saúde na comunidade e observar e estudar inúmeras questões.
Ocorre porém que, por seu ineditismo, ainda engatinhamos nas metodologias capazes de pesquisar em ambientes deste tipo. Existem aplicativos para extrair dados desses ambientes, mas eles não conseguem apreender as interações que se desenvolvem. Por outro lado existem processos praticamente espontâneos de auto-enquetes na comunidade, quando membros fazem perguntas e criam situações capazes de levantar opiniões de centenas de membros. Mas ainda temos muito a estudar para aproveitar as possibilidades de pesquisa que se abrem para nós com a existência deste laboratório. Essa será a segunda fase da Pesquisa.
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