30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-19D - GT 19 - Novas mídias e Promoção da Saúde |
30126 - LITERACIA DAS MÍDIAS DIGITAIS NA SAÚDE: UMA AVALIAÇÃO COM JOVENS DE MANGUINHOS NICOLE FAJARDO MARANHA LEÃO DE SOUZA - FIOCRUZ
INTRODUÇÃO
As tecnologias digitais de informação e comunicação têm alterado profundamente o modo como vivemos e como nos relacionamos. Ao mesmo tempo em que oferecem aos usuários oportunidades inéditas de acesso, escolha, produção e compartilhamento de conteúdo (CASTELLS, 2003), as conexões digitais os tornam mais suscetíveis a riscos (EISENSTEIN et al., 2019), inclusive no campo da saúde. A desinformação (FALLIS, 2015) e as outras “desordens da informação” (WARDLE; DERAKHSAHN 2017), que oferecem dados incorretos, fraudulentos, incompreensíveis ou obsoletos, podem levar os cidadãos a tomarem decisões prejudiciais à própria saúde (POWELL et al., 2011) ou às políticas públicas de saúde.
Para que cada indivíduo constitua, em si mesmo, um sistema de filtragem que analise criticamente as informações que circulam nas mídias digitais, é necessário o desenvolvimento de novas e variadas competências e habilidades individuais (LIVINGSTONE; VAN COUVERING; THUMIN, 2008), que vão além do mero domínio instrumental dos dispositivos tecnológicos digitais. Na pesquisa acadêmica, essas habilidades são usualmente enquadradas em diferentes campos científicos sob o termo “literacia” (literacy). A “literacia em saúde” se refere às habilidades que determinam a capacidade dos indivíduos para acessar, compreender e utilizar as informações para promover e manter uma boa saúde (NUTBEAM, 1998). Uma de suas dimensões é a “literacia crítica”, ou seja, o emprego de habilidades cognitivas avançadas para analisar criticamente as informações e utilizá-las para um maior controle sobre situações da vida. Trata-se de uma capacidade pouco comum (SHEG, 2016) inclusive entre os “nativos digitais” (PRENSKY, 2001), ou seja, jovens nascidos a partir de 1980 que cresceram rodeados pelas tecnologias digitais e que dominam plenamente as novas linguagens.
OBJETIVOS
Refletindo esse cenário no que diz respeito à desinformação sobre saúde, nos questionamos: qual o grau de literacia crítica dos nativos digitais em relação às mensagens sobre saúde que circulam na Internet? Como isso pode ser medido?
Partindo desta reflexão, o objetivo da pesquisa é desenvolver um instrumento para avaliar o nível de literacia crítica dos jovens nas mídias digitais, em relação às informações sobre saúde, a partir de um estudo de caso.
METODOLOGIA
Optamos por realizar uma pesquisa avaliativa e participativa, de modo que o instrumento fosse construído conjuntamente com alguns dos jovens participantes da pesquisa, utilizando para isso a “Translação do Conhecimento” (BARBOSA; PEREIRA NETO, 2017).
O desenvolvimento do instrumento de avaliação qualitativo inspira-se no banco de tarefas criado em 2016 pelo History Education Group (SHEG) da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que avaliou “a habilidade para julgar a credibilidade da informação que inunda os smartphones, tablets e computadores dos jovens” (SHEG, 2016).
Esta pesquisa conta com a participação de estudantes do Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro na comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro (RJ). Em um estudo de PEREIRA NETO et. al (2019), 90% dos alunos deste colégio afirmaram que procuram por informações sobre saúde na internet. Seis etapas integram o estudo: pesquisa bibliográfica; pesquisa exploratória com questionário eHEALS (NORMAN; SKINNER, 2006) e grupo focal; desenvolvimento do instrumento avaliativo; aplicação e experimentação do instrumento; organização e interpretação dos dados empíricos; e devolutiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta pesquisa ainda não foi finalizada e, portanto, ainda não há resultados a serem debatidos. No entanto, o contexto sociocomunicacional e as evidências científicas analisadas até este momento apontam para um cenário complexo caracterizado por: altos índices de conectividade à internet e às redes sociais digitais; problemas relacionados à desinformação sobre saúde na internet; baixa capacidade de julgamento dos nativos digitais em relação aos conteúdos acessados ou recebidos pelas mídias digitais; e necessidade de investimento em formação crítica para um engajamento do cidadão nas culturas participativas da sociedade midiatizada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para um engajamento consciente e ético no complexo e saturado ambiente informacional contemporâneo, é preciso que cada indivíduo desenvolva habilidades sociais e culturais pra acessar, interpretar e usar, de forma crítica, as informações recebidas ou acessadas pelas mídias digitais. Um dos intuitos desta investigação é contribuir para agregar conhecimento sobre essa temática e subsidiar novos estudos, debates e políticas públicas que possam orientar reformulações de programas de promoção da saúde, especialmente nos campos da educação e comunicação em saúde.
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