30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-19D - GT 19 - Novas mídias e Promoção da Saúde |
30844 - INCLUSÃO DIGITAL E EMANCIPAÇÃO DE USUÁRIOS - “EU QUERO ENTRAR NA REDE”, UM BLOGUE SOBRE SAÚDE MENTAL CONSTRUÍDO POR PESSOAS EM SOFRIMENTO PSÍQUICO BRUNA VANESSA DANTAS RIBEIRO - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ANDRÉ DE FARIA PEREIRA NETO - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ANA PAULA GULJOR - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, CHRISTIANE SAMPAIO - CAPS II - CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CARLOS AUGUSTO DA SILVA ‘MAGAL‘
O final do século XX foi marcado pelo surgimento e fortalecimento do virtual. No século XXI todos os âmbitos da vida cotidiana passaram a ser perpassados, direta ou indiretamente, pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), não seria diferente com a saúde. Porém, o crescente uso da internet por pacientes, profissionais de saúde e familiares ainda é perpassado pela intensa exclusão digital.
Este resumo trata do relato de experiência do projeto “Eu quero entrar na rede: Um Blogue sobre saúde mental construído por pessoas em sofrimento psíquico”, realizado na Fundação Oswaldo Cruz. Serão tratados a contextualização, método e resultados parciais.
O projeto utiliza o Blogue como ferramenta digital de articulação e espaço de fala para pessoas em sofrimento mental, tendo como objetivo a discussão de temas que buscam desconstruir estigmas e promover a inclusão digital de usuários do Centro de Atenção Psicossocial Carlos Augusto da Silva Magal (CAPSII Magal), localizado no bairro de Manguinhos, na cidade do Rio de Janeiro.
A comunidade de Manguinhos fica na região norte da cidade, sendo marcada por um contexto de violência em seu sentido mais amplo e violação dos direitos fundamentais de seus moradores. A produção do projeto reflete não apenas características psíquicas ligadas ao sofrimento mental dos usuários, mas também apontam para tal contexto de exclusão social: os participantes são todos moradores de área de risco, com baixo nível de escolaridade, baixa renda e sem emprego fixo. A partir dessa realidade, o projeto trabalha a inclusão digital como forma de articulação para a inclusão social.
Coordenado pelo professor Paulo Amarante, o projeto foi aprovado no Edital para Projetos de Divulgação Científica da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (VPEIC/FIOCRUZ) e é realizado através da parceria potente entre o Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (LAISS), o CAPS-Manguinhos e o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS). O “Quero entrar na Rede” reúne uma equipe multidisciplinar, que inclui profissionais da área da saúde e das ciências humanas e sociais.
O projeto tem duração de 10 meses, com início em outubro de 2018 e finalização em julho de 2019. Uma vez por semana são realizados encontros mediados no LAISS, com 10 usuários do CAPS, um profissional do Laiss e um acompanhante terapêutico do Caps. Os participantes recebem mensalmente uma bolsa de pesquisa no valor de R$100 cada, que busca aumentar a autoestima e a adesão dos participantes. Os usuários foram selecionados no CAPS tendo como critério a estabilidade no tratamento e habilidades de computação básicas, necessárias para a capacitação para a o uso das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e a produção de conteúdo.
Através da metodologia da “Translação do Conhecimento”, que atua na interface entre o conhecimento acadêmico formal e o conhecimento fruto da experiência, o trabalho desenvolvido no projeto busca valorizar os saberes dos indivíduos em sofrimento mental, construindo um processo terapêutico a partir da troca de conhecimento entre profissionais, usuários e sociedade e da divulgação dos conteúdos fruto dessa troca. Dessa forma, o projeto se organiza a partir de uma perspectiva de emancipação dos usuários, que valoriza as experiências profissional, pessoal e social dos indivíduos envolvidos.
Tendo como base os pressupostos teóricos Paulo Freire, é trabalhada uma metodologia pedagógica que parte do conhecimento prévio dos indivíduos e do trabalho colaborativo, valorizando os saberes individuais e coletivos dos indivíduos que, têm liberdade e são incentivados a construir em conjunto o projeto.
Foram realizadas atividades de diagnóstico de competências para uso de ferramentas digitais, oficinas de nivelamento, rodas de conversa e processos de produção de conteúdo que se pautam na valorização da autonomia dos usuários. A produção de conteúdo é feita de forma coletiva abarcando temas que perpassam a vida dos usuários e que eles compreendem como importantes para seu estado mental: tratamento, violência, ser mulher, esportes, cultura, etc. De acordo com o planejamento o Blog estará no ar no mês de junho de 2019, já contando com conteúdo previamente produzido pelos usuários com o apoio de um mediador.
Todas as atividades, do planejamento até a realização, são registradas e geram documentos que podem servir de base para novos projetos. Foram produzidos: relatórios individuais e coletivos, instrumentos de avaliação de competências, modelos de cronograma, que podem servir de base para o desenvolvimento futuro de projetos semelhantes.
A experiência tem mostrado como o uso da TICs e uma abordagem calcada na Translação de Conhecimento pode gerar processos de produção e divulgação de conhecimento significativos, promovendo a inclusão digital e social e, consequentemente, possibilitando a emancipação dos usuários.
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