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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 15:00 - 16:30
EO-19B - GT 19 - Educação On Line e Saúde

30778 - ATIVISMO CONTRA GORDOFOBIA: EXPERIÊNCIAS DE ATIVISTAS YOUTUBERS COM OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE.
CLAUDIA VALÉRIA CARDIM DA SILVA - UERJ/INSTITUTO DE NUTRIÇÃO, SUELY FERREIRA DESLANDES - IFF/FIOCRUZ


Introdução:
Nos últimos anos a obesidade e os desafios no seu manejo tem se constituído pauta central nas políticas públicas no Brasil (DIAS et al, 2017). Concomitante a este cenário, têm sido crescentes os debates realizados acerca de estigmas e preconceitos direcionados aos corpos gordos, seja através da comunidade acadêmica ou por distintos atores, via canais de comunicação e movimentos ativistas. As redes sociais digitais sob diferentes plataformas, têm propagado expressivas manifestações normativas dos corpos e comportamentos. Essas redes têm ganhado novos contornos através da internet dinamizando numa velocidade jamais imaginada, informações e conexões ao redor do mundo (MARTINO, 2015). Assim, a internet, forte aliada da liberdade de expressão, de acesso e produção criativa de conhecimento, também tem sido cenário de discriminação, apologia à violência e aos discursos de ódio, tendo como um dos grupos alvo, as pessoas gordas (http://inpress30.com.br/project/skol). Nesse contexto, a denúncia das práticas discriminatórias em geral, e especialmente aquelas praticadas por atores sociais cuja missão é a produção do cuidado, como é o caso dos profissionais de saúde, tem se constituído pauta importante do ciberativismo contra gordofobia.
Objetivos:
Este trabalho objetiva analisar os discursos ciberativistas contra a gordofobia, tomando como foco as discriminações perpetradas por profissionais de saúde.
Metodologia: O trabalho faz parte de um grupo de estudos intitulado "Internet: espaço de disseminação e de enfrentamento de violências contra crianças e adolescentes". Adotamos como lócus de análise o discurso produzido por dois canais de influencers, ativistas do Youtube: uma ativista mulher (que chamaremos de “Canal A”) e um ativista do sexo masculino (“Canal B”). O presente trabalho considerou as redes sociais digitais como campo de investigação social e empregou os métodos e técnicas qualitativas adaptadas à internet. Estes estudos assumem a internet como ‘meio’, tanto no sentido da tecnologia de comunicação, como também âmbito de interação, lugar de encontros sociais e universo de relações (BARROS, 2017). Foram selecionados em cada canal os vídeos lançados de janeiro de 2018 a maio de 2019 que constavam no título e descrição, temas relacionados à gordofobia, ao corpo, peso, saúde, atividade física e dieta.
Resultados e discussão:
Os canais analisados mostraram um perfil diferenciado no discurso ativista. As narrativas na visão geral, observadas nos vídeos do Canal B, mostraram mais citações e pautas referentes aos direitos e acessibilidade das pessoas gordas. De forma mais contundente, o Canal B relata a longa “carreira das dietas” e as inúmeras experiências frustradas para emagrecer: “Se você não sabe, eu vou à nutricionista desde os 15 anos e desde então, eu só engordei e eu fiz diversas dietas, eu já parei de comer, eu já fiz reeducação alimentar e dieta lowcarb...eu fiz tudo que uma pessoa gorda faça pra tentar emagrecer.”
A interação com os profissionais de saúde evidencia um rol de violências psicológicas e simbólicas materializadas em discursos normativos e de ameaças. A condição de gordo é tratada como um ultimato à vida.
“Na 1ª consulta esse médico já me fez uma conta dizendo que provavelmente, minha vida duraria mais ou menos uns dez anos a mais, quer dizer,com trinta e poucos, quarenta anos, eu morreria.”
“Ir ao médico pra mim é, sempre foi ouvir ameaças absurdas de que eu não iria conseguir viver minha vida.”
No Canal A, depoimentos de pessoas convidadas reforçam o caráter de intervenção médica abusiva sobre o corpo gordo. “Eu cheguei lá, era um cirurgião e aí falei, ah, ok...tenho um peito pequeno...só que do nada quando tirei a roupa pra fazer a avaliação, ele começou a me rabiscar inteira e apresentou a oportunidade de fazer a lipoaspiração... acabei me rendendo e fiz”
Os relatos observados reforçam estigmas e preconceitos e intervenção normativa sobre os corpos gordos. Confirma-se o exercício disciplinar sobre esses corpos, posto em prática por diferentes agentes e instituições, guiado por padrões estéticos, morais e normativos da saúde (FOUCAUT, 1999).Tais achados dialogam com pesquisa de Foster (2003), realizada com médicos da atenção primária nos Estados Unidos, que identificou percepções gordofóbicas que potencialmente impactam no olhar pouco acolhedor na dinâmica do cuidado.
Considerações finais:
Os relatos manifestos no material analisado, permitem a reflexão sobre o sofrimento que o discurso e prática dos profissionais de saúde impõem no cuidado das pessoas gordas, apontando a urgência de caminhos de escuta e diálogo e a busca de um novo olhar sobre esses indivíduos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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