29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-19A - GT 19 - Novas Mídias - Possibilidades |
30450 - PERSPECTIVAS DO AUTOCUIDADO NO CONTEÚDO DO BLOG DA SAÚDE A PARTIR DA PERCEPÇÃO DE REMANESCENTES QUILOMBOLAS ROSELI PEREIRA NUNES BASTOS - UFS
INTRODUÇÃO
Nunca antes se buscou tanta informação sobre saúde na internet. Em consulta ao Google Trends verificou-se que entre janeiro e abril de 2019 a palavra-chave ‘saúde’ teve popularidade entre intensa e muita intensa em todos os estados do país, sinalizando a relevância de buscas sobre saúde. Infere-se este fato como uma ação que, em alguma medida, coaduna com o intuito do sujeito para o autocuidado. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2013) define-o como “a capacidade de indivíduos, famílias e comunidades para promover a saúde, prevenir as doenças e manter-se saudável e cooperar com a doença e incapacidades com ou sem o apoio do prestador de cuidados de saúde”. Aspecto referenciado na Constituição Federal de 1988, artigo 196, tendo a saúde como “direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Reportado para realidades com difícil acesso aos serviços de saúde pública e facilidade de uso da internet, como identificado no bairro remanescente de quilombolas Porto D’Areia (SE), a relevância da ‘qualidade’ da busca e do consumo por informações em saúde na internet ganha destaque, sobrelevando a importância de fontes oficiais, como o Blog da Saúde, quanto à disponibilização de conteúdos em prol do autocuidado.
OBJETIVOS
Descrever as percepções de moradores da comunidade remanescente quilombola, Porto D’Areia (SE), acerca do autocuidado no conteúdo do Blog da Saúde.
METODOLOGIA
Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, realizada no bairro Porto D’Areia, localizado na zona urbana do município de Estância (SE), certificado pela Fundação Palmares, em 10 de julho de 2009, como comunidade remanescente de quilombolas, sendo o primeiro bairro do interior sergipano oficialmente reconhecido. A coleta de dados ocorreu em duas etapas. Na primeira, quinze moradores com idades e gênero variados, foram entrevistados sobre uso da internet, busca e consumo de informações sobre saúde, e o entendimento deles sobre autocuidado. Na sequência, de forma conjunta lhes foi apresentado o conceito formal para autocuidado e, a partir disso, foi procedida visualização do layout e conteúdo do Blog da Saúde. As percepções dos participantes, a partir de indagações da pesquisadora, gravadas, transcritas e analisadas conforme premissas da análise de conteúdo em Bardin.
DISCUSSÃO E RESULTADOS
As informações sobre saúde buscadas e consumidas na internet se destacaram como interesse dos quinze participantes, os quais substituem, ou já substituíram, o auxilio médico-hospitalar pelas informações. Dificuldade de acesso à unidade de saúde, descontentamento com serviço prestado e “facilidade de ter a informação na mão” foram as justificativas mais recorrentes. Sobre o conceito de autocuidado, apenas dois expressaram conhecimento pertinente, e após a explicação todos afirmaram que, em alguma medida, utilizam saberes populares e/ou da internet com vistas a ações que coadunam com o autocuidado para si ou terceiros. Três participantes salientaram preferência por conteúdos de autoria médica ou de sites populares, sejam especializados ou não em saúde. O Blog da Saúde não era conhecido por nenhum. Diante do conteúdo gerenciado pelo Ministério da Saúde, os respondentes se disseram confusos com o layout da página: oito abas direcionadoras às categorias, no centro imagens ligadas às categorias, na lateral ícones para conteúdo audiovisual e redes sociais. Quanto ao conteúdo, o predomínio de informações sobre ações governamentais (ministério e secretárias) foi apontado como prejudicial por dificultar a compreensão da informação destaque. Também foi considerado negativo a linguagem técnica, o tamanho dos textos e a repetição dos assuntos nas abas. Apenas nos conteúdos do canal do Ministério da Saúde no youtube e nos áudios do podcast “Pausa para a Saúde”, os participantes compreenderam as informações, tendo em vista possíveis inferências relativas ao autocuidado.
CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A internet está no cotidiano dos moradores de Porto D’Areia e conteúdos sobre saúde figuram entre os de maior interesse. Apesar de reconhecerem armadilhas nas informações, não utilizam critérios quanto à fonte consultada. A propensão para o formato audiovisual do Blog da Saúde coaduna com a fragilidade das literacias digital em saúde, pois a linguagem oral alcança as pessoas iletradas ou com pouca compreensão de textos escritos. A percepção dos respondentes quanto ao Blog destaca recorrência da comunicação institucional e distância entre o conteúdo e as minorias. Suscita-se a necessidade de que espaços de comunicação oficial apropriem-se das diversas realidades e fomentem um processo informacional efetivamente comprometido com o propósito de promoção da saúde dos usuários, baseado no incremento dos processos voltados para o autocuidado.
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