30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-32I - GT 32 - Trabalho Rural 2 |
30300 - EDUCAÇÃO POPULAR E AGROECOLOGIA NO ÂMBITO DAS CONFERÊNCIAS DE SAÚDE: O CASO DO MUNICÍPIO DE CONDE/PB PRISCYLLA ALVES NASCIMENTO DE FREITAS - NUPLAR/UFPB, ADARLAM TADEU DA SILVA - MST, DEBORAH ZULEIDE DE FARIAS MELO - SECRETARIA DE SAÚDE DE CONDE/PB, PAULA GABRIELA ELIAS CHIANCA - NUPLAR/UFPB, ANA CLAUDIA CAVALCANTI PEIXOTO DE VASCONCELOS - DPTO. DE NUTRIÇÃO/UFPB, VANDERSON GONÇALVES CARNEIRO - NUPLAR/UFPB
O Observatório Nordestino de Políticas de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (OBSERVASSAN/UFPB) é uma iniciativa que vem sendo realizada a partir da experiência do Projeto SISAN Universidades, com o objetivo de desenvolver ações de extensão e pesquisa na perspectiva do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Trata-se de uma parceria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Nesse contexto, mediante a experiência com a educação popular, movimentos sociais e a relação com o tema do DHAA, o OBSERVASSAN foi convidado a participar da 11ª Conferência Municipal de Saúde (CMS) de Conde, na Paraíba. O Conde vem construindo um caminho de mobilização e capacitação para o aumento da produção de alimentos orgânicos. No processo de pré-conferências de saúde, a Secretaria de Saúde do município identificou nos relatos dos usuários dos serviços de saúde o adoecimento e exposição a situações de risco de parte da população devido ao uso excessivo de agrotóxicos no processo de trabalho da área rural. Em alguns distritos sanitários essa demanda se sobrepõe inclusive à dificuldade do acesso ao serviço, chamando atenção da gestão, que vem buscando alternativas intersetoriais para o enfrentamento dos efeitos dos agrotóxicos nas condições de saúde da população, sobretudo nas comunidades rurais. O presente trabalho traz a experiência da atividade realizada no decorrer da CMS. A proposta surgiu de uma iniciativa da gestão municipal e do Conselho Municipal de Saúde (e foi executada em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e a Associação de Produtores Orgânicos de Conde - Conde Orgânico). Foi pactuada com a gestão uma proposta de tenda agroecológica, cujas atividades estariam previstas na programação oficial da Conferência e ocorreriam ao longo do evento. As abordagens foram apoiadas no referencial teórico-metodológico da Educação Popular (EP) sistematizado por Paulo Freire, e a programação foi montada a partir de seus princípios: amorosidade, problematização, diálogo, autonomia, partilha de saberes e compromisso com um projeto social democrático e popular. A atividade foi iniciada com uma dinâmica trazendo informações sobre o uso de agrotóxicos e seus impactos na saúde, seguida de uma conversa sobre a realidade vivenciada pelos participantes no município. Participaram da atividade aproximadamente vinte e cinco delegados da CMS, na maioria agricultores, do segmento dos usuários. No horário do almoço foi exibida uma versão editada do filme O Veneno Está na Mesa II, e as pessoas interessadas foram convidadas a visitarem a tenda para dialogar sobre a temática da agroecologia. A atividade foi muito rica, na medida em que as informações apresentadas dispararam relatos de inúmeras situações vivenciadas pelos participantes nos seus territórios. Ao mesmo tempo em que expressavam suas vivências ligadas ao impacto dos agrotóxicos, alguns usuários mais experientes trouxeram relatos acerca das suas estratégias de sobrevivência e resistência frente a essa realidade imposta pelo modelo do agronegócio. Tais estratégias incluíram desde a redução de danos por meio do uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual, até a transição para o sistema de manejo agroecológico. Ainda, a discussão fomentou o diálogo sobre a determinação social do processo saúde-doença e a importância daquele espaço de controle social e participação popular. Essa iniciativa consistiu em uma oportunidade para a articulação do OBSERVASSAN, tanto com a gestão municipal, como com entidades ligadas à sociedade civil, a exemplo da Associação Conde Orgânico, fundamental para apontar caminhos alternativos à produção com veneno, representantes das comunidades quilombolas, das tribos tabajaras, movimento LGBT. Metodologicamente, a principal dificuldade evidenciada foi no sentido de abordar, na perspectiva da educação popular, um tema tão complexo como o uso de agrotóxicos, em um intervalo de tempo limitado. Acreditamos que para acontecer uma prática em que as discussões são conduzidas pelos próprios grupos populares, cujos conhecimentos discutidos e desenvolvidos são os conhecimentos que nascem da sua maneira de pensar e explicar a sua vida e sua luta, é necessária a construção e manutenção de um vínculo com aquele grupo, ressaltando que a educação é um processo contínuo e permanente, demandando tempo e fortalecimento das relações sociais. Politicamente, foi desafiador iniciar uma sensibilização acerca do uso de agrotóxicos, visto que não havia uma presença massiva dos movimentos sociais na CMS. O movimento social presente foi o dos índios Tabajara, que contribuíram significativamente e protagonizaram as discussões, juntamente com algumas lideranças quilombolas. A atividade consistiu em um primeiro contato com os usuários do município, e possibilitou a formação de laços que virão a ser consolidados nas atividades futuras sobre o tema.
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