30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-32I - GT 32 - Trabalho Rural 2 |
30621 - MULHERES CAMPONESAS NA RESISTÊNCIA, LIBERTAÇÃO E EMPODERAMENTO FRANCILENE MENEZES DOS SANTOS - MST, GISLEI SIQUEIRA KNIERIM - FIOCRUZ -BSB, ÉRIKA PATRÍCIA BARBOSA DE LIMA - MST, PAULO AUGUSTO MATIAS DA SILVA - MST, MONIQUE DE SOUSA PAIXÃO - UNIFAVIP WYDEN
Surgiu da luta das mulheres da Associação do Assentamento Normandia do Movimento Sem Terra (MST), localizado na BR 104, no Município de Caruaru - PE. Este possui um “Centro de Formação Paulo Freire”, uma escola multisseriada, uma Cooperativa para fortalecer a articulação comercial dos produtos do assentamento da reforma agrária, uma Associação com fins organizativos dos trabalhadores e de seus processos de produção. A Agroindústria trabalha com raízes e tubérculos e carnes todos os produtos com beneficiamento à vácuo. Os Pães e Bolos Artesanais são especialmente preparados por esse grupo de mulheres que produzem de forma sistêmica pães e bolos, sendo bolos de macaxeira, mandioca, chocolate, limão, laranja e os pães de leite, abóbora, beterraba, integral e milho. A produção é toda feita no Assentamento na cozinha desenvolvida para essa atividade.
No ano de 2017, surge no Assentamento Normandia a realização de uma Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho (CEPVSAT),foi decorrente da experiência do Programa de Promoção à Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Gerência Regional de Brasília da Fundação Oswaldo Cruz e em parceria com a o Instituto Aggeu Magalhães – Fiocruz Pernambuco e a Rede de Médicos e Médicas Populares. Este curso tem uma relação estreita com a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PNSIPCFA), que aborda a educação permanente e educação popular em saúde com foco de ação para as populações do campo; e assim como da implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora com a Secretaria de Vigilância em Saúde (PNSTT) do Ministério da Saúde. Essa formação-ação CEPVSAT foi realizada com o intuito de contribuir para a qualificação de profissionais de saúde, durante o curso foi solicitado aos educandos a preparação de projetos de intervenção junto à comunidade local do campo.
Sendo assim, a intervenção realizada foi feita junto com o grupo das Mulheres Boleiras do Assentamento Normandia, em Caruaru-PE, território localizado no bioma do semiárido e castigado devido à seca prolongada e as grandes mudanças ambientais presentes, fator que contribuiu na redução da capacidade produtiva do Assentamento e de deslocamento das agricultoras para o trabalho explorador no ramo da confecção como única alternativa de renda local. Trata-se de um grupo formado por 7(sete) mulheres, que está estruturado por meio de uma organização coletiva, que produz de forma sistêmica pães e bolos artesanais, nos quais utilizam as matérias-primas advindas da agricultura camponesa local, comercializam alimentos saudáveis pensando no bem-estar e no prazer dos que consomem seus produtos. Nossa intervenção veio para mudar a realidade dessas mulheres e de suas famílias, com o intuito de corroborar com o desenvolvimento da autonomia do grupo de mulheres camponesas do Assentamento, tendo como ponto de partida o empoderamento destas por meio do fortalecimento da organicidade do grupo e de ações de melhoramento na sua produção de alimentos.
Anteriormente, este grupo estava vinculado ao trabalho seriado de facções têxtil do polo industrial de confecções, este processo de trabalho é caracterizado por vínculos trabalhistas precários, desresponsabilização por parte das empresas (custos, garantias, etc.), produções seriadas próximas ao trabalho escravo com jornadas exaustivas, problemas de adoecimentos/acidentes dos trabalhadores e com baixa remuneração. A mudança do processo de trabalho representa um empoderamento feminino, a mulher torna-se provedora da família com uma geração de renda e o desenvolvimento de um empreendedorismo com liberdade de produção e comercial. A mulher passa a ter uma nova qualidade de vida, com mais autonomia, com melhoria de autoestima, novas habilidades produtivas, comerciais e políticas.
A metodologia proposta no curso de Especialização tem como objetivo promover um debate acerca da promoção do estabelecimento de Territórios Saudáveis e Sustentável (TSS) e incentivar o desenvolvimento de projetos de intervenção nos territórios onde os alunos vivem, aproximando a produção acadêmica da realidade local para propor soluções e propostas de intervenção. Essa intervenção partiu por meio da Educação Popular em Saúde na qual existe a participação ativa da comunidade, numa perspectiva dialógica, emancipadora, humanizada, que reconhece os saberes populares para enfrentar os problemas de saúde (BRASIL, 2007).
O processo de organização e comercialização por meio da intervenção educativa das boleiras, agregou valor aos produtos e trabalhou com a cooperação entre elas trazendo consequentemente, melhorias para a estrutura das famílias, e para organização do Assentamento, para o protagonismo e a emancipação das mulheres do campo. Fortalecendo a agricultura das mulheres camponesas em ambientes saudáveis e sustentáveis, com boas práticas na produção dos alimentos e geração de renda.
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