30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-32I - GT 32 - Trabalho Rural 2 |
31616 - POTENCIAL DE BIOACUMULAÇÃO DE AGROTÓXICOS NO ORGANISMO HUMANO: UMA ANÁLISE DOS AGROTÓXICOS AUTORIZADOS NO BRASIL CLENIO AZEVEDO GUEDES - UFPE, GEOVANNA HACHYRA FACUNDO GUEDES - UFPE, SOLANGE LAURENTINO DOS SANTOS - UFPE, ALINE DO MONTE GURGEL - IAM-FIOCRUZ/PE
Apresentação: O impacto negativo do grande consumo de agrotóxicos no Brasil têm sido evidenciado na contaminação ambiental e na exposição de populações rurais em todo Brasil, expondo os mecanismos e as consequências desse processo de contaminação ampliada, os limites e os desafios para as políticas ambientais e de promoção da saúde. O presente trabalho apresenta parte de um estudo das vulnerabilidades socioambientais relacionadas à exposição aos agrotóxicos desenvolvido pelo Grupo de pesquisa do Laboratório de Saúde, ambiente e trabalho do instituto Aggeu Magalhães – FIOCRUZ/PE, que vem analisando, dentre outros aspectos, as propriedades físico-químicas de todos os agrotóxicos autorizados no Brasil e os potenciais efeitos à saúde humana.
Introdução: Com à expansão do agronegócio e a flexibilização da função regulatória do Estado, associado à recente flexibilização da legislação trabalhista e previdenciária, tende-se a desproteger ainda mais o ambiente e a população dos efeitos nocivos inerentes aos agrotóxicos, principalmente àqueles segmentos de maior vulnerabilidade, como trabalhadores e moradores de áreas rurais.
Os modos de utilização de grande parte destes agrotóxicos favorecem sua presença e permanência em diversas matrizes ambientais como ar, água, solo e sedimentos, contaminando diretamente não apenas os trabalhadores expostos, mas também pessoas de diferentes faixas etárias que residem próximas as áreas onde os mesmos são pulverizados. Também podem ser afetadas outras espécies de animais em contato com o ambiente contaminado, além de haver contaminação de alimentos expostos a esses compostos. Igualmente, os produtos derivados das culturas pulverizadas podem apresentar resíduos de agrotóxicos, incluindo aqueles que passam por algum tipo de processamento.
Uma das características relevantes relacionadas à intoxicação por agrotóxicos é sua capacidade de um de se acumular no organismo, conhecida como bioacumulação. A bioacumulação e biomagnificação de agrotóxicos em organismos vivos, particularmente em animais de topo de cadeia como o homem, pode levar ao surgimento de intoxicações agudas e crônicas, sendo particularmente importante nos casos onde há exposição frequente, como em exposições ocupacionais, levando a um acúmulo de substâncias tóxicas nas células lipídicas. Objetivo: Caracterizar o potencial de bioacumulação dos agrotóxicos registrados no Brasil e sua relevância para a saúde humana.
Metodologia: Os agrotóxicos com uso autorizado no Brasil foram identificados a partir da revisão de suas respectivas monografias, disponíveis no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e suas propriedades físicoquímicas e toxicocinéticas foram sistematizadas a partir de consulta aos bancos de dados de toxicologia Pesticide Properties DataBase, Pubchem e Hazardous Substances Data Bank (HSDB). Em relação à tendência de bioacumulação em organismos vivos, os agrotóxicos foram classificados considerandose o logaritmo do coeficiente de partição octanolágua (logKow), que indica o balanço entre lipofilicidade e hidrofobicidade dos compostos, considerandose a natureza lipídica das membranas biológicas. Os agrotóxicos foram classificados com alto potencial de bioacumulação (logKow > 3), intermediário (entre 2,7 e 3) e baixo (< 2,7). Resultados: Dos 532 agrotóxicos autorizados no Brasil, 41,92% tinham elevado potencial de bioacumulação, 3,20% potencial intermediário, 31,20% baixo potencial e para 23,68% não havia dados disponíveis. A maioria dos agrotóxicos com elevado potencial bioacumulativo pertence ao grupo dos piretróides (13,1%), seguido pelos organofosforados (9,0%). Discussão: O acúmulo de agrotóxicos no organismo representa um risco para a saúde humana, pois sua permanência nos tecidos vivos pode desencadear efeitos negativos para a saúde, particularmente para grupos populacionais vulnerabilizados como trabalhadores e crianças, especialmente lactentes considerando a secreção de agrotóxicos pelo leite materno. O consumo de alimentos de origem animal contaminados com agrotóxicos de elevada lipofilicidade também pode desencadear a biomagnificação, ampliando os riscos para a saúde dos grupos expostos.
Conclusão: O elevado potencial de bioacumulação apresentado por vários agrotóxicos com uso autorizado no Brasil indica riscos para a saúde humana, alertando à necessidade de se pautar a redução e mesmo eliminação do uso dessas substâncias na agricultura.
Considerações Finais: A população brasileira está sob elevado risco de manifestar todos os efeitos tóxicos fartamente descritos na literatura científica, pelo elevado consumo de agrotóxicos sendo o Brasil considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
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