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28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-32B - GT 32 - Crise, precarização do trabalho e políticas de saúde

30820 - DESEMPREGO E SUICÍDIO NO BRASIL NUM CONTEXTO DE CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL
ANTONIO ANGELO MENEZES BARRETO - UFBA


INTRODUÇÃO
Em 2008, uma crise financeira se instaurou nos EUA, em decorrência do estouro da bolha imobiliária, que acabou minando muitas das instituições financeiras neste país, além de prejudicar consideravelmente boa parte do sistema financeiro mundial. O desemprego estrutural em escala global é um desfecho que se tem verificado em virtude da crise do sistema capitalista, tendo surgido como o aspecto cada vez pior dessa crise estrutural. É por entender a determinação social da saúde, que muitos estudos vêm avaliando mudanças no comportamento suicida relacionadas a crises econômicas e/ou a associação destes comportamentos com preditores socioeconômicos. Neste sentido, considerando que o Brasil vive uma crise econômica, desde 2014, com elevação das taxas de desemprego, e que o governo federal vem adotando políticas de austeridade fiscal, torna-se relevante estudar o eventual impacto da crise, caracterizada pelo desemprego, sobre o suicídio, importante indicador da situação de saúde/doença de uma população.

OBJETIVOS
Caracterizar o perfil de suicídio, na população brasileira, em um período de crise econômica (2008-2016) em contraste com um período pré-crise (2000-2007);
Analisar as tendências das Taxas de Mortalidade por suicídio em pessoas ocupadas e em pessoas desocupadas, ao longo do período 2000- 2016.

METODOLOGIA
Estudo de corte transversal, cuja população são indivíduos com 18 anos ou mais, residentes nos municípios brasileiros. Os dados sobre suicídio foram coletados do SIM para o período de 2000-2016. Os óbitos foram codificados segundo a CID-10: lesão autoprovocada intencionalmente (X60 a X84), intoxicação exógena de intenção indeterminada (Y10 a Y19) e sequela de lesões autoprovocadas intencionalmente (Y87.0). Dados populacionais foram coletados da PNAD e da PNAD Contínua, que se encontram disponíveis publicamente em formato anônimo no portal do IBGE. As taxas de mortalidade por suicídio (TMS) por 100.000, foi calculada pela divisão entre o número de óbitos por suicídio (ocupados/desocupados) e o número da população de pessoas ocupadas/desocupadas. As seguintes covariáveis foram avaliadas: (1) sexo; (2) grupo de idade; (3) raça/cor; (4) estado civil; e (5) situação de trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 165.529 casos de suicídio, 68.168 no período de 2000-2007 e 97.361 no período de 2008-2016. A proporção dos óbitos por suicídio foi maior no sexo masculino em ambos os períodos: 78,15%, no período pré-crise; e 78,12%, no período de crise econômica. No período pré-crise o grupo de 25-39 anos apresentou a maior proporção de suicídios, enquanto que no período de crise foi o grupo de 40-59 anos. A distribuição dos casos por raça/cor revelou maiores proporções entre pessoas brancas em ambos os períodos. Já a distribuição por estado civil apresentou maiores proporções entre as pessoas solteiras em ambos os períodos.
No período de 2000-2007 a TMS para ocupados diminuiu 26,9%, enquanto que para desocupados a TMS aumentou 450,0%. Já no período de crise a TMS para ocupados aumentou 26,5%, enquanto que para desocupados a TMS aumentou 125,4%. Entre as pessoas desocupadas, o maior valor da taxa de mortalidade foi no ano de 2014 (TMS = 3,02/100.000).
No período de 2008-2016, foi possível observar um aumento no número de pessoas desocupadas entre os anos de 2008 e 2009, diminuindo entre os anos de 2009 e 2012, e voltando a aumentar a partir de 2012. Achados similares foram encontrados no estudo realizado por Chang et al. (2013) ao investigar o impacto da crise global de 2008 nas tendências internacionais do suicídio.
Os autores (CHANG et al., 2013) também identificaram que a faixa etária que apresentou maior aumento entre os países americanos foi de 45 a 64 anos. Estes são achados compatíveis com os nossos resultados, visto que na nossa análise descritiva, o grupo de idade com maior percentual de casos de suicídio foi de 40 a 59 anos (33,13%).
Na Itália, as taxas de mortalidade por suicídio permaneceram estáveis entre os anos de 2000 e 2010, embora a razão entre os suicídios masculinos devido a problemas financeiros e o número total de suicídios masculinos tenha aumentado (de 6,42% em 2008 para 7,59% em 2010) (MATTEI et al., 2014). Ainda que os nossos resultados tenham demonstrado que as taxas de mortalidade por suicídio tenham aumentado entre 2008 e 2016, o que difere dos achados de Mattei et al. (2014) no intervalo de 2008 a 2010 para a população italiana, é possível identificar em ambos os estudos um aumento nos casos suicídios relacionados a manifestações/consequências da crise, a exemplo do desemprego.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É indiscutível que a crise do capital e as contradições da sua estrutura material de reprodução social, econômica e política, impactam negativamente nas condições de trabalho e na saúde das pessoas. Outros estudos são necessários para analisar a relação entre crise econômica, o sofrimento psíquico decorrente das relações de trabalho e resultados de saúde, no contexto brasileiro.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

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