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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-32E - GT 32 - Trabalho, ambiente e território

30225 - VISLUMBRES DO JORNAL A SIRENE: TRABALHOS ROMPIDOS A PARTIR DO ACIDENTE DE TRABALHO AMPLIADO-BARRAGEM DO FUNDÃO/MG
SIMONE SANTOS OLIVEIRA - FIOCRUZ, SERGIO PORTELLA - FIOCRUZ, DENIZE NOGUEIRA - FIOCRUZ, NATHALIA FIGUEIREDO - UERJ / FIOCRUZ, MAYARA PORCINA DE OLIVEIRA - UERJ / FIOCRUZ


Introdução
Em cinco de novembro de 2015, o Brasil viveu o maior acidente de trabalho ampliado, o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão (MG) pertencentes a mineradora Samarco. O acidente crime transformou o Rio Doce, em uma corredeira de lama, que se espalhou por 800 km entre Minas Gerais e Espírito Santo, provocando inúmeras perdas inestimáveis para o ambiente e seus moradores. Dezenove pessoas morreram, sendo treze trabalhadores, muitas tiveram que deixar seus lares, empregos, comunidade, família e vizinhos, deixando, para além da lama, muitos rastros de sofrimento psicossocial, cultural e comunitário. Para além dos trabalhadores da Samarco, outros trabalhadores que exerciam atividades econômicas a partir do Rio Doce ficaram sem meio de sobrevivência. Apesar da grande repercussão nacional e internacional, os moradores atingidos lutam, até hoje, para reconquistar seus direitos que lhes foram brutalmente retirados. Para tanto, como um de suas formas de manifestação, criaram um jornal visando denunciar todos os transtornos vivenciados com o desastre e o descaso com suas vidas e problemas causados pelo rompimento da barragem. Certamente, a escolha desse tipo de mídia, um canal independente e autônomo não é por acaso, os atingidos produzem um discurso singular, carregado de sua vivência local, anterior e posterior a tragédia que carreou suas vidas e seus sonhos. Para externalizar isso, precisam ter voz, precisam de um local onde possam falar sem censuras. As mídias tradicionais, por aspectos econômicos e sociais comumente excluem suas narrativas, que não são de seu interesse.
O jornal A Sirene surge então como uma forma de garantir protagonismo aos atingidos, aqueles que verdadeiramente viveram o desastre em seus diversos aspectos. Importante destacar também a utilização da plataforma virtual como forma de difusão de informações após o desastre, que tem a possibilidade de ir além do local, do nacional, alcançando uma proporção mundial.
Objetivo:
Analisar as narrativas sobre trabalho e saúde, dos atingidos pelo maior acidente de trabalho ampliado expressas no Jornal A Sirene.
Metodologia:
Destacamos nesta pesquisa considerações feitas pelos atingidos acerca de temas relacionados à Saúde e Trabalho em trinta e quatro edições do Jornal A Sirene, no período de fevereiro de 2016 a dezembro de 2018. O jornal é produzido mensalmente pelos atingidos do desastre em colaboração com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) mensalmente, todo dia cinco do mês, dia em que ocorreu o desastre. Procuramos, dessa forma, analisar como essas questões estão sendo retratadas aos olhos dos sirenistas.
Resultados e discussão:
O acidente expõe graves deficiências em planejamento e em práticas de operação de mineração, com uma ênfase especial nas leis de licenciamento ambiental, de normas de segurança, procedimentos de supervisão e fiscalização, redução de risco e ausência de participação pública em todas estas etapas.
As dimensões desse conflito, entre as empresas Samarco/BHP/Vale e a população atingida, dizem respeito a diversos aspectos da vida dos atingidos, principalmente deles serem reconhecidos como um. Com o estado ausente, todo o processo de reparação foi comandado pela empresa. Ela mesma acabou determinando quem são os atingidos, quem recebeu indenização e qual o valor da mesma com a constituição da Fundação Renova.
Sirenista é termo que identifica os atingidos e seus apoiadores, como contraponto às expressões assistidos e beneficiários utilizadas pela mineradora Samarco nas estratégias de comunicação. Assim reforça-se a imagem de protetora da instituição.
“A memória do rompimento segue viva como uma ferida aberta, assim como os danos na vida e na saúde da população atingida, que continua sendo afetada em toda região da bacia do Rio Doce. Os costumes foram alterados, o trabalho suspenso, a convivência em comunidade perdida”.
As narrativas dos atingidos são uma tentativa de ampliação da leitura do mundo interpelada pela linguagem. Contar a história de si, refazer a si mesmo por meio da construção e reconstrução de sentidos. São diversas as modalidades de trabalhos rompidos: pedreiros, empregadas domésticas, vendedoras, garimpeiros, taxistas, meeiros de quintais, manicures, artesãs, bordadeiras, pescadores, cortadores de cana, trabalhadoras e trabalhadores rurais, entre outros. Todos que viviam no trajeto da lama e sofreram mudanças nas condições de trabalho, no modo de vida, nas relações sociais, familiares e comunitárias.
Considerações Finais:
Diante da intensa expansão da indústria extrativa mineral, cria-se um ponto de inflexão entre o desenvolvimento econômico nacional e os impactos socioambientais locais. As promessas de alavancar desenvolvimento econômico, a qualquer custo, por parte dos estados e das empresas não cessam. Questiona-se, a propósito, quem irá arcar com as consequências socioambientais locais e quais serão as contrapartidas oferecidas para mitigar os impactos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900