30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-32H - GT 32 - Saúde e precarização social do trabalho |
31247 - ENTRAVES E PERSPECTIVAS DO AGIR EM SAÚDE DO TRABALHADOR NO DISCURSO DO NASF-AB ANDREIA MARINHO BARBOSA - UFPB, ROBSON DA FONSECA NEVES - UFPB
Introdução
A Saúde do Trabalhador (ST) é um campo da Saúde Coletiva que tem o trabalho como um dos principais Determinantes Sociais de Saúde (DSS). Nesse sentido, as ações de ST são desenvolvidas com enfoque na integralidade do cuidado ao trabalhador, tendo este no centro dessa relação não apenas como alvo de intervenções, mas como um agente de reconhecimento da realidade e capacidade de transformá-la1.
O Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) foi criado em 2008 com objetivo de contribuir com a integralidade do cuidado ofertado pelas equipes de Saúde da Família (eSF) por meio da inserção de diferentes profissionais na Atenção Primária à Saúde (APS) que atuam como apoiadores matriciais das chamadas equipes de referência – eR2. Entretanto, nem sempre o Nasf-AB tem contribuído para a integralidade do cuidado ao usuário-trabalhador assistido pelas eSF3.
Por isso, conhecer o discurso dos profissionais do Nasf-AB sobre a ST é importante para entender quais desafios esses profissionais têm enfrentado em seu cotidiano prático que dificultam o desenvolvimento de ações voltadas aos usuários-trabalhadores acompanhados na APS, bem como compreender as facilidades que potencializam sua atuação nesse campo.
Objetivo
Analisar os entraves e as perspectivas concernentes à ST no discurso dos profissionais de saúde do Nasf-AB.
Metodologia
Pesquisa qualitativa com perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso de origem francesa, realizada na nona Região de Saúde do estado da Paraíba com 13 profissionais de saúde do Nasf-AB que foram entrevistados entre novembro/2018 e fevereiro/2019. Posteriormente, o material empírico obtido foi analisado por meio da aplicação de três perguntas heurísticas que visaram identificar o conceito-análise no corpus; como o texto o constrói; e a que discurso pertence, respectivamente4. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados e discussão
Tomando como conceito-análise a posteriori o agir em ST, o texto expõe sentidos relacionados aos gestores como os principais responsáveis pelos impasses e possibilidades dessa atuação no Nasf-AB. Mesmo que existam entraves relacionados à acomodação da equipe em desenvolver ações de ST, e das eSF e usuários em demandarem cuidados voltados para esse campo, seriam aspectos superados se houvesse interesse por parte da gestão em operar a ST.
O discurso é de uma relação de poder da gestão sobre os profissionais do Nasf-AB, com submissão desses profissionais as condições de trabalho que são impostas. Frente aos entraves, esses profissionais esperam do órgão de autoridade maior o fornecimento de recursos para que os trabalhadores da saúde cuidem dos outros trabalhadores, especialmente no que diz respeito aos conhecimentos sobre a temática.
Os resultados aqui corroboram com a literatura em que a preponderância de interesses políticos locais sobre as reais necessidades de saúde da população, acaba por não priorizar o olhar para a ST na APS5, consequentemente, coopera para que os profissionais de saúde desincorporem de suas práticas as dimensões do trabalho e ambiente, fragmentando a realização das ações e comprometendo a integralidade do cuidado6.
Para que as práticas de ST possam ter andamento na APS, é importante que a gestão forneça condições e qualificação para as equipes atuarem7. Assim, o Nasf-AB enquanto apoiador técnico-pedagógico e clínico-assistencial das eSF pode auxiliá-las na execução das ações de ST na APS, bem como pode obrar junto a população5.
Considerações Finais.
O agir em ST ainda é um desafio para o Nasf-AB, que tem como principal entrave a condicionalidade de seu trabalho a organização gestora municipal. Dessa maneira, o fornecimento de meios para execução das ações em ST por esse órgão é apontado como um caminho para efetuar o cuidado integral aos usuários-trabalhadores na APS.
Referências
1. Mendes R, Dias EC. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Rev. Saúde Pública, 25(5): 341-49, 1991.
2. Campos GWDS, Domitti AC. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. saúde pública, 23(2): 399-407, 2007.
3. Coelho JG, Vasconcellos LCFD, Dias EC. A formação de agentes comunitários de saúde: construção a partir do encontro dos sujeitos. Trab. Educ. Saúde, 16(2): 583-604, 2018.
4. Souza SAF. Análise de discurso: procedimentos metodológicos. Manaus: Instituto Census, 2014. 57p.
5. Amorim LDA, et al. Vigilância em Saúde do Trabalhador na Atenção Básica: aprendizagens com as equipes de Saúde da Família de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Ciênc. saúde coletiva, 22(10): 3403-13, 2017.
6. Pessoa VM, et al. Sentidos e métodos de territorialização na atenção primária à saúde. Ciênc. saúde coletiva, 18(8):2253-62, 2013.
7. Souza TS, Virgens LS. Saúde do trabalhador na Atenção Básica: interfaces e desafios. Rev. bras. Saúde ocup., 38(128): 292-301, 2013.
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