28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-32B - GT 32 - Trabalho, ambiente e saúde |
31535 - AS RELAÇÕES DE GÊNERO INFLUENCIAM OS PROCESSOS DE INCAPACIDADE PARA O TRABALHO E RETORNO AO TRABALHO? JORGE HENRIQUE SANTOS SALDANHA - UFBA, JORGE ALBERTO BERNSTEIN IRIART - UFBA, MÔNICA ANGELIM GOMES DE LIMA - UFBA, ROBSON DA FONSECA NEVES - UFPB
Introdução:
Incapacidade para o trabalho é um conceito relacional resultante da interação de múltiplas dimensões que se influenciam mutuamente através de diferentes níveis ecológicos (Lederer, 2014) e pode ser descrita quando um trabalhador não é capaz de se manter ou retornar ao trabalho por causa de uma lesão ou doença (Loisel, Anema, 2013). É também o resultado de uma decisão de um trabalhador que, por razão cultural, administrativa, social, psicológica ou potencialmente física, não retorna ao trabalho.
A discussão em torno do papel das questões de gênero para compreensão da incapacidade prolongada relacionada à dor musculoesquelética já vem se consolidando entres os pesquisadores interessados na temática de incapacidade para o trabalho e retorno ao trabalho. Tendo em vista que a incapacidade relacionada ao trabalho tem sido associada a outras doenças e agravos, como acidentes e questões relacionadas à saúde mental, entendemos ser necessário sistematizar a literatura da área de forma mais ampla, buscando conhecer diferenças e semelhanças destes processos em distintos agravos à saúde relacionados ao trabalho.
Objetivo:
Este estudo buscou sistematizar estudos qualitativos que tratam das diferenças de gênero nos processos de incapacidade para o trabalho e retorno ao trabalho, buscando conhecer como a categoria gênero media os processos de incapacidade para o trabalho e retorno ao trabalho.
Método
Uma revisão sistemática da literatura qualitativa (Noblit, 1988) foi conduzida para recuperar os estudos de interesse para essa revisão, visando sintetizar a evidência qualitativa existente que proporcionasse a construção de teoria explicativa de como as questões de gênero atuam sobre os processos de incapacitação para o trabalho e retorno ao trabalho.
Uma busca sistemática foi realizada em bases de dados de distintas áreas de conhecimento PubMed, BIREME, Scielo, EMBASE, PsycInfo, CINAHL, Scopus, SOCINDEX, no período de março de 2018. A string de pesquisa utilizada para todas as bases de dados foi: gender AND "work disability" OR "sick leave" OR absenteeism OR presenteeism OR "return to work" AND “qualitative research”. Foram incluídos artigos originais de pesquisa qualitativa publicados em revistas indexadas; Estudos com trabalhadores com incapacidade para o trabalho relacionada a doenças e agravos relacionados ao trabalho; Estudos publicados entre 2008 e 2018; Estudos em Inglês, Português e Espanhol.
Resultados
A busca nas bases de dados reportou 1282 artigos. Foram incluídos ainda 4 artigos encontrados por busca manual. Após a limpeza do banco, os títulos e resumos de 953 artigos foram lidos, dos quais 52 passaram a compor a lista de artigos elegíveis para a revisão. Após a leitura completa, restaram 14 artigos que foram incluídos na revisão final para sistematização dos resultados.
A sistematização dos artigos encontrados aponta para 6 dimensões do processo de incapacitação para o trabalho e retorno ao trabalho que são fortemente mediados pelas questões de gênero: Manter-se trabalhando; Cuidados com a casa, com a família e atividades pessoais e de lazer; Experiência de Incapacidade e Autoimagem; Legitimação do adoecimento e busca de Reconhecimento no trabalho; Organização do trabalho; Ajuda de familiares, colegas e profissionais de saúde e do seguro. Estas dimensões dizem respeito a ajustes que os trabalhadores precisam fazer para manter-se trabalhando, às dificuldades encontradas no processo de trabalho, elementos da sobrecarga encontrada no trabalho, diferenças entre homens e mulheres no processo de se manter em atividade de trabalho, manter os cuidados com a casa, com a família, às atividades pessoais e de lazer, passando pelas experiências dos sujeitos com o processo de incapacitação para o trabalho e as relações com familiares, colegas de trabalho, profissionais de saúde e da seguridade/seguro social nos durante os processos de incapacidade e retorno ao trabalho.
Discussão e Considerações Finais
A explicitação de que os processos de incapacidade para o trabalho e retorno ao trabalho estão mediados pelo gênero em várias dimensões reforça a perspectiva de olhar estes processos de forma mais complexa, agregando novas dimensões que contribuam para compreendermos como se dão os processos de incapacidade para o trabalho, como trabalhadores e trabalhadoras decidem parar de trabalhar e quais são as dimensões que eles levam em maior consideração nesses momentos de decisão.
A literatura aponta desigualdades de gênero nessas decisões relacionadas aos processos de incapacitação para o trabalho, mostrando que esses processos guardam relação com as diferenças de gênero encontradas na sociedade em geral e no mundo do trabalho de forma mais particular. As decisões de homens e mulheres sobre manter-se trabalhando, estar afastado ou buscar o retorno ao trabalho, estão mediadas pelas suas compreensões dos papéis de gênero e das cobranças que a sociedade os impõem sobre os papéis de gênero que devem cumprir.
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