28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-32C - GT 32 - Trabalho, Produção e Saúde |
30009 - UM SENTIDO PARA O TRABALHO EM SAÚDE: HISTÓRIA ORAL DE VIDA DE TRABALHADORES DE UM HOSPITAL PÚBLICO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO APARECIDA BASTOS PEREIRA - UNIFESP, DANTE MARCELLO CLARAMONTE GALLIAN - UNIFESP
Introdução: O trabalho em instituições públicas de saúde tem sido atualmente ressaltado como objeto de atenção devido a sua crescente precarização no que se refere às condições que lhe são impostas, e às repercussões na qualidade de vida e saúde do trabalhador. É evidente, no entanto, que mesmo em meio a uma vivência de sofrimento no seu cotidiano de trabalho, alguns trabalhadores sustentam um sentido para as suas práticas de cuidado, as quais conservam as qualidades do que Christophe Dejours denomina trabalho vivo, mantendo-se orientadas pela cooperação, autonomia, criatividade e capacidade de realização de ações transformadoras. Faz-se notório, contudo, que embora a experiência desses trabalhadores seja marcada pelo engajamento subjetivo com a sua atividade e com o outro, e lhes traga um sentido profundo de realização pessoal e profissional, mantém-se em certa medida invisível, visto que, por não ser na sua totalidade passível de avaliação objetiva, termina por não ter um reconhecimento social do seu valor. Observa-se, dessa forma, a evidência de um hiato entre o que se passa no cotidiano de trabalho das instituições públicas de saúde, e o discurso social de desqualificação dos serviços e trabalhadores públicos da saúde, que atende a interesses políticos e econômicos de diversas ordens. Efetivamente são muito divulgados os fracassos e erros dos profissionais de saúde pública, mas pouco se relata sobre as experiências em que esses criam e recriam o seu trabalho, sustentando uma prática de saúde que conserva a qualidade nas dimensões técnicas e relacionais. Objetivos: Compreender, a partir de relatos da história oral de vida de profissionais diretamente envolvidos no atendimento ao paciente, o que faz com que esses trabalhadores, apesar do sofrimento vivenciado em um cotidiano que impõe constrangimentos, sustentem um sentido para o trabalho no contexto das instituições públicas de saúde. Metodologia: Para tanto, optamos pela utilização de uma metodologia qualitativa denominada História Oral de Vida, tendo sido entrevistados quatro médicos, quatro enfermeiros e quatro assistentes sociais, trabalhadores de um hospital público localizado no Município de São Paulo, reconhecidos nas instituições em que atuam, tanto pelos pacientes que recebem os seus cuidados, quanto pelos demais trabalhadores, como profissionais que se ocupam de fazer bem feito o seu trabalho, empenhando-se para que tenha qualidades técnicas; que demonstram envolvimento e dedicação à sua prática, e que se revelam atento ao outro e com disponibilidade para escutar as suas necessidades. As narrativas produzidas nessas entrevistas foram interpretadas utilizando-se uma técnica denominada Imersão/Cristalização, que se baseia na Fenomenologia Hermenêutica. Resultados/ Discussão: Os resultados remetem-se à dinâmica do prazer e do sofrimento, como fenômenos dialéticos que se articulam em um movimento constante de confronto com o real do trabalho, indicando que os entrevistados identificam como fatores determinantes de sofrimento a sobrecarga de trabalho, associada ao excesso de demanda e à redução do quadro de pessoal; as condições precárias de trabalho que mobilizam sentimentos de impotência e dilemas éticos; a violência na relação com os usuários, demais trabalhadores e chefias; a falta de reconhecimento; a desvalorização social; a mecanização e indiferença na realização das ações de cuidado e a falta de comprometimento com a saúde pública no nível macropolítico. No entanto, é possível reconhecer nas narrativas, que esses trabalhadores sustentam um sentido para a sua prática em saúde, ao permitirem-se ser afetados pelo outro e comprometerem-se nas relações; ao indignarem-se, apostando na possibilidade de transformar a realidade, assumindo posições e opondo-se ao estabelecido; ao perceberem-se reconhecidos pelo outro no seu valor e necessidades; ao abrirem-se a novas experiências e situações de aprendizado e pela vivência de solidariedade no ambiente de trabalho. Conclusão/Considerações finais: Foi possível concluir, inicialmente, pela importância da criação de espaços de diálogo e compartilhamento de experiências no contexto das instituições públicas de saúde, considerando que, na situação da presente Pesquisa, a produção das narrativas pelos trabalhadores, em um espaço de escuta que as acolhia, constituiu-se em uma experiência significativa de produção de sentido para a sua prática de trabalho. Consideramos ainda, que o conhecimento efetivo da experiência desses trabalhadores pode fundamentar outros estudos, que investiguem os efeitos produzidos pelas ações de intervenção destinadas ao seu cuidado, permitindo questionar se efetivamente são experimentadas como significativas no que se refere ao atendimento das suas demandas.
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