28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-32C - GT 32 - Trabalho, Produção e Saúde |
30593 - A SAÚDE E O TRABALHO NA FIOCRUZ CEARÁ BUSCANDO A REDUÇÃO DAS INIQUIDADES DO PAÍS
LUCIANA PEREIRA LINDENMEYER - FIOCRUZ
CONTEXTUALIZAÇÃO
A Fiocruz é uma Instituição centenária que, em 2019, completa 119 anos de existência atuando na área da saúde com ampla contribuição na inovação, ciência e tecnologia para as mais diversas doenças observadas no país. Uma instituição como essa é referência nacional e internacional em várias temáticas e precisa acompanhar as políticas públicas que visam reduzir as iniquidades da sociedade. Uma dessas iniquidades que observamos são as oportunidades nos cursos de pós-graduação oferecidos pela instituição. Se concordamos com a política de cotas implementadas pelas universidades para reparar um erro histórico num país que viveu mais de 300 anos de escravidão, devemos nos posicionar e buscar medidas que valorizem essa política internamente. Atualmente temos, de acordo com a última pesquisa realizada em 2018 pela Associação dos Pós-Graduandos da Fiocruz, um total de 10 % de pretos e 33% de pardos no quadro de discentes, mais uma vez não correspondendo à maioria de negros que temos em nosso país.
DESCRIÇÃO
O relato de experiência visa apresentar o debate sobre as formas de racismo estrutural presente nas Instituições. Foram realizados encontros em dias alusivos a datas relacionadas ao Dia Internacional da Mulher(08 de março) e ao Dia de Luta contra o racismo/Consciência Negra (20 de novembro). A ação foi conjunta com o Comitê Pro-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz e foi realizada no ano de 2018, na Fiocruz Ceará, no município de Eusébio, Ceará. Os debates foram realizados com a professora Zelma Madeira, Coordenadora Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial do Estado Ceará no mês de março e posteriormente, em novembro, com a professora Cristiane Sousa da Silva, Professora do IFCE campus Jaguaribe e Coordenadora do Neabi/ Jaguaribe. Foram direcionados a todos os profissionais de todos os vínculos da Fiocruz Ceará.
PERÍODO DE REALIZAÇÃO
As ações foram realizadas no ano de 2018 e posteriormente aos eventos tivemos já dois editais de seleção pública para estágio curricular que contaram com vagas para negros, além da vaga para portadores de necessidades especiais, como a Lei já previa. A experiência deve ter continuidade e ser aprofundada no ano de 2019.
OBJETIVO
Discutir no âmbito de uma instituição de pesquisa, ensino e serviços na área da saúde quais os impactos gerados pelo racismo que atravessa nossa sociedade ao longo dos anos. Apresentar dados referentes a uma frase que escutamos muito de que “não existem negros no Ceará”. A partir desse entendimento de que existe uma reparação histórica necessária, avançar para que todos os editais que sejam publicados na Unidade prevejam reservas de vagas para negros, quer sejam em programas de pós-graduação, quer sejam em vagas de estágios curriculares.
RESULTADOS E APRENDIZADOS
Ambos os debates foram muito qualificados e trouxeram dados da realidade cearense para que todos os envolvidos nas ações de uma Instituição centenária como a Fiocruz pudessem entender a dimensão e o impacto de práticas de ruptura e superação do estado anterior.
As ações despertaram para a sensibilidade maior dos profissionais envolvidos na Fiocruz Ceará, sinalizando a disponibilidade de vagas de estágio curricular não obrigatório destinadas a candidatos negros.
Os editais de programas de pós-graduação também saíram com a previsão de vagas para cotas raciais e alcançamos um bom número de
A sensibilização deve continuar ocorrendo para que tenhamos em todos os editais a previsão de cotas, sem qualquer recuo ou esquecimento.
Um outro aprendizado importante é com relação aos profissionais cujos trabalhos exigem uma escolaridade mais baixa. Em ambos os momentos, foram muitos os questionamentos por parte de alguns colegas desse grupo, que não percebem práticas enraizadas na sociedade.
ANÁLISE CRÍTICA
O racismo é um tema de difícil permeabilidade quando estamos no mundo científico e acadêmico. Até mesmo os profissionais mais dedicados a pautas progressistas e que vêem a política de cotas raciais como uma reparação, podem ter sua visão deturpada quando estão na linha de frente. Analisamos que o Comitê Pro-equidade de Gênero e Raça da Fiocruz deve ter um papel relevante nessas discussões para que todos os próximos programas de forma voluntária prevejam vagas para negros. É uma mudança de cultura complexa, que muitos argumentos surgem para tentar impedir. Inclusive neste período tivemos a publicação de dois editais de cursos que não tiveram a previsão de vagas para negros e algumas justificativas foram apresentadas. Devemos aproveitar os espaços institucionais que estão sendo aprimorados, para fazer essa discussão de forma mais ampliada e com possibilidades reais de vermos uma mudança no próximo edital publicado. Cabe a nós estarmos vigilantes para que os processos de trabalho permitam a superação de práticas que não viabilizam a redução das iniquidades. No ano de 2019, pretendemos dar continuidade às ações e ampliar os debates sobre o tema.
|
