28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-32C - GT 32 - Trabalho, Produção e Saúde |
30956 - O TRABALHO COMO BASE DO ADOECIMENTO: UM DEBATE NECESSÁRIO JACIARA DOS SANTOS SILVA - FIP, MARIA ADRICIA PAULO SANTANA DE OLIVEIRA - FIP
APRESENTAÇÃO/INTRODUÇÃO
A crise capitalista dos anos 1970, com o declínio do modelo fordista-taylorista, ocasionou profundas mudanças no mundo do trabalho, com severos impactos para a classe trabalhadora, sobretudo em razão das novas formas de exploração e banalização do trabalho e, consequentemente, com rebatimento na vida e no processo de adoecimento da classe trabalhadora, em virtude das formas mais desregulamentadas e flexíveis de trabalho.
Com a reestruturação produtiva do capital, o número de trabalhadores formais vem diminuindo continuamente, dando lugar a formas mais desregulamentadas de trabalho. Além da redução do papel do Estado no mercado, que ocasionou privatizações e terceirizações, a crise deu em ocasião ao aparecimento de uma gama de trabalhadores multifuncionais e outros submetidos a formas precárias de trabalho ou em situação de desemprego estrutural. Dentre estes/as trabalhadores/as, destaca-se a categoria de Assistentes Sociais que, inserida na divisão social e técnica do trabalho, também vem sofrendo com esses impactos.
OBJETIVOS, METODOLOGIA
Este estudo investigativo tem o objetivo de analisar o processo de adoecimento de Assistentes Sociais inseridas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) localizada no Município de Patos-PB. Para cumprir com este objetivo, foi desenvolvida uma pesquisa de campo de cunho quali-quantitativo, tendo como referência autores contemporâneos que se orientam pela Teoria Social de Marx. A coleta de dados foi realizada durante o mês de abril de 2019 com o universo de Assistentes Sociais inseridas na referida Unidade de Saúde. No tocante aos instrumentos de coleta de dados, a pesquisa utilizou a observação sistemática, a entrevista estruturada, o formulário e o diário de campo. Com relação aos instrumentos de análise de dados, recorreu-se, em um primeiro momento, à tabulação, seleção e codificação dos dados e, no segundo momento, a interpretação dos dados mediante a utilização da análise de conteúdo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os dados analisados foi possível identificar a predominância do seguinte perfil socioeconômico e funcional das Assistentes Sociais: todas as entrevistadas se identificaram com identidade de gênero feminina, com idade entre 30 e 39 anos, solteira, não sindicalizada, formada na década de 2010 em instituição pública, na modalidade presencial, inserida no mercado de trabalho por meio de seleção simplificada, sem assinatura na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), com jornada em regime de plantão 24h e com ganho salarial em torno de 02 ½ Salários Mínimos.
Com relação ao processo de adoecimento, as Assistentes Sociais ressaltaram que os vínculos trabalhistas precarizados, o agravamento das expressões da questão social e os impactos que a contrarreforma do Estado na Política de Saúde em curso, se constituem em fator condicionante de processos de adoecimento que, com inflexões através de pressões psicológicas causadas pelo constante temor da demissão, do desemprego e da necessidade de sempre atender as exigências postas pela instituição de saúde, como forma de evitar possíveis retalhações.
Isto, obviamente, pode levar a problemas de saúde de ordem psíquica, como depressão, estresse, cansaço, desmotivação, tristeza, sentimento de sobrecarga, ansiedade, etc. que causam repercussões no metabolismo e podem, de fato, gerar processos de adoecimento também de ordem física, como mencionado no decorrer do estudo. O assédio também foi uma constante no depoimento das Assistentes Sociais entrevistadas, demonstrando ser um elemento ainda bastante presente na realidade da profissão e que pode gerar repercussões na saúde do/a trabalhador/a.
CONCLUSÕES∕CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com as análises de Pereira (2018) com a precarização do trabalho, caracterizada pela sobrecarga de atividades, subcontratações, baixos salários e restrição de direitos, não se pode mais afirmar que às modalidades de adoecimento dos trabalhadores são questões fortuitas, mas determinadas pelas condições em que desempenham sua profissão. A autora também observa que as dificuldades financeiras decorrentes das escassas remunerações e da preocupação constante com demissão incidem diretamente sobre o âmbito emocional e psíquico desses profissionais, ocasionando impactos psicológicos que podem, sim, gerar processos de adoecimento.
Além do adoecimento psíquico, a possibilidade de ocorrência de processos físicos de adoecimento de Assistentes Sociais diante da precarização de seu trabalho, o que decorre, principalmente, em razão das pressões e demanda de atividades, gerando sensações de cansaço e esgotamento, além da incidência de estresse, doenças ocupacionais, como Lesões por Esforços Repetitivos (LER), e outras expressas em forma de sofrimento psíquico, como a ansiedade, a depressão e transtornos psicossomáticos que não repercutem de modo negativo somente sobre o trabalho por eles/as desempenhados/as, mas também sobre sua qualidade de vida.
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