28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-1A - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: pesquisas, experiências e vivências na direção de um conhecimento emancipatório. |
29877 - ECOLOGIA DE SABERES NA CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ
ANA FLÁVIA QUINTÃO FONSECA - ESP-MG, JULIANA LÚCIA COSTA SANTOS MORAES - ESP-MG, MARILENE BARROS DE MELO - ESP-MG, RAQUEL APARECIDA FERREIRA - IPQRR FIOCRUZ MINAS, CELIA MARIA FERREIRA GONTIJO - IPQRR FIOCRUZ MINAS
A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença infecciosa que ocorre na Terra Indígena (TI) Xakriabá, localizada no norte de Minas Gerais. O inseto transmissor e os reservatórios da doença fazem parte do ecossistema da região, compondo sua fauna silvestre. Diante disso, intervenções ambientais e controle do inseto transmissor são pouco viáveis e de recomendação limitada. Questões culturais e sociais se somam na configuração do impacto da doença na saúde das pessoas acometidas pela “ferida brava”. Assim, a prevenção e o controle desse agravo na comunidade são estratégias extremamente importantes, mas de complexa implementação, configurando importante desafio aos serviços de saúde locais e à comunidade.
Objetivos Esse trabalho teve como objetivo desenvolver estratégias de prevenção e controle da LTA em todas as aldeias da TI Xakriabá.
A partir da construção coletiva de uma cartilha sobre a LTA na TI, realizada em pesquisa anterior com representantes das duas aldeias de maior casuística da doença, esse trabalho buscou ampliar a discussão e a compreensão sobre a endemia nas demais aldeias da TI, devido à possibilidade de expansão da doença no território. Assim, foram elaborados materiais educativos complementares à cartilha inicial, considerando as especificidades de cada aldeia da TI com relação à LTA. Esse trabalho foi desenvolvido na perspectiva do referencial teórico e metodológico da pesquisa-ação e contou com a participação de representantes da comunidade indígena Xakriabá como, professoras e professoras indígenas, agentes indígenas de saúde, agentes indígenas de saneamento, além de representantes do serviços de saúde atuantes na TI como gestores, enfermeiros e técnicos das 37 aldeias da TI. O trabalho foi realizado nos cinco polos de saúde, que aglutinam essas 37 aldeias, devido à impossibilidade de trabalhar em cada uma das aldeias. Em um primeiro momento foi utilizada a ferramenta de Diagnóstico Rural Participativo Mapa Falado, onde os participantes construíram mapas de seus territórios, discutindo a distribuição espacial da doença, associando sua incidência às questões ambientais e sociais. As informações produzidas durante a elaboração dos cinco mapas falados foram analisadas pela técnica da análise de conteúdo. A partir dessa análise foram elencados os principais temas que surgiram durante a construção dos mapas, compondo uma matriz de prioridades. Os participantes estabeleceram uma hierarquia entre os temas da matriz , priorizando aqueles que julgavam ter maior relação com a LTA. Essa técnica subsidiou a próxima etapa do trabalho, a oficina de elaboração dos materiais educativos sobre a LTA.
O produto final desse trabalho foi uma bolsa de materiais educativos contendo cartilhas, jogos, brincadeiras, músicas e versos. Os materiais foram criados nas oficinas, colocados em formato de impressão e validados pela comunidade. Depois foram impressos e distribuídos em todas as aldeias da TI. Além do material educativo, foram disponibilizados para a comunidade os mapas falados, que foram trabalhados graficamente e impressos em formato de banner. A criação desses produtos evidenciou a construção do conhecimento sobre as características do ciclo da doença, ao longo do período da pesquisa, possibilitando a elaboração de estratégias de controle e prevenção da LTA a partir da vivência, experiência e olhar da comunidade sobre essa endemia em seu território, considerando fatores culturais, sociais, econômicos e ambientais da TI Xakriabá. Durante a devolução dos materiais foi possível observar que a técnica do Mapa Falado foi incorporada em algumas atividades das escolas visitadas.
Os participantes receberam muito bem os materiais elaborados e impressos, relatando se reconhecer nos mesmos. Assim, observa-se que as estratégias de prevenção e controle da LTA desenvolvidas pelo povo indígena Xakriabá possuem um potencial de maior apropriação e utilização por parte da comunidade, do que as recomendações oriundas apenas dos serviços de saúde. Diante da diversidade de atividades e informações contidas nos materiais, eles possuem ampla possibilidade de utilização nos espaços escolares e em atividades coletivas das Unidades de Saúde. Essa experiência demonstrou que a construção de estratégias para temas desafiadores do campo da saúde requer a consideração dos saberes e práticas das comunidades envolvidas, na perspectiva da ecologia de saberes.
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