28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-1A - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: pesquisas, experiências e vivências na direção de um conhecimento emancipatório. |
30965 - MULHERES DA LUTA PELA TERRA NA BACIA DO RIO DOCE E SUAS PRÁTICAS DA MEDICINA POPULAR CIBELE LIMA DOS SANTOS - FIOCRUZ - MINAS, POLYANA APARECIDA VALENTE - FIOCRUZ - MINAS, MARIA TEREZINHA BRETAS VILARINO - UNIVALE, DENISE NACIF PIMENTA - FIOCRUZ MINAS
Introdução
A experiência colonial do século XVI, inaugura a criação de uma economia mundial, bem como a emergência do primeiro grande discurso do mundo moderno que inventou e subalternizou populações indígenas, povos africanos, muçulmanos e judeus (Costa e Grosfoguel,2016). Nesse sentido, para Santos (2007) o pensamento moderno ocidental é abissal, provoca distâncias absurdas entre o conhecimento científico hegemônico e os saberes populares. Em contraposição a essa perspectiva eurocêntrica, ao longo das últimas décadas, produções teóricas advindas essencialmente das chamadas “zonas periféricas” questionam as narrativas ocidentais da modernidade. Essas interpretações e práticas políticas e culturais colocam-se como uma possibilidade de restituição da fala e da produção teórica e política de sujeitos que até então foram vistos como destituídos da condição de fala e da habilidade de produção de teorias e projetos políticos (Costa e Grosfoguel, 2016).
Objetivos: Este trabalho tem por objetivo geral construir uma narrativa feminina do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e de outros grupos de mulheres da luta pela terra por meio das trajetórias de vida das mulheres campesinas acampadas e assentadas no Médio Rio Doce e suas práticas de medicina popular. Os objetivos específicos são: 1) Construir um acervo de depoimentos orais sobre a vida de mulheres envolvidas em movimentos sociais de luta pela terra na região ; 2) Mapear os saberes e as práticas de saúde e de medicina popular da comunidade dos assentados e acampados; 3) Propor o desenvolvimento de ações para criação de uma “farmácia viva” na região; 4) Documentar e divulgar a memória dos saberes e práticas da medicina popular baseada no conhecimento das famílias,.
Metodologia: Aliando-se ao campo da História e aos estudos decoloniais, o presente trabalho, faz parte do projeto O Vale do Rio Doce: a história dos movimentos sociais de luta pela terra, desenvolvido pela Universidade Vale do Rio Doce em parceria com a Fiocruz Minas. A metodologia é de caráter qualitativo, trazendo a História Oral como inspiração para compreender o universo da memória e da história dessas mulheres. Para composição do acervo, se realizará uma pesquisa historiográfica documentária. A Farmácia Viva se constituirá por meio do diálogo entre os saberes e práticas da medicina popular praticada pelas comunidades.
Resultados Preliminares
O Vale do Rio Doce é uma das regionais do MST de maior abrangência em Minas Gerais. São aproximadamente 23 assentamentos de reforma agrária em nove cidades que contabilizam cerca de 674 famílias assentadas (INCRA, 2018). Como resultados preliminares, a partir da identificação das lideranças femininas, selecionou-se aproximadamente nove assentamentos e um acampamento.
Realizou-se nove entrevistas com as lideranças femininas registradas em audiovisual. Pôde-se confirmar achados na literatura corroborando que o trabalho da mulher do campo não é socialmente e economicamente valorizado, pois aos olhos do sistema hegemônico e no interior da família, não gera riquezas. Nesse contexto, a medicina popular ressignifica o papel dessas mulheres, pois conforme Daron (2009, p.389) “a luta pela saúde é um marco fundamental do processo de resistência e dinamismo do trabalho de base das mulheres camponesas”. Assim, presume-se que a saúde e o cuidado por meio da medicina popular agregam sentido à vida delas. É importante salientar que, a presença feminina nesse lugar de fala se torna tão importante quanto ao do homem, uma vez que, ela se desloca do contexto simbólico de seguidora do movimento em busca de um pedaço de terra, para ocupar um papel de protagonista na esfera da coletividade. Na área rural, o acesso aos serviços de saúde é dificultado e a medicina popular se configura como aliada dessa população.
Conclusões: Acredita-se, que contar as histórias e construir uma narrativa feminina da luta pela terra no Brasil é também dialogar com diferentes processos históricos, seus múltiplos registros de vozes, ações, e sonhos que lutam contra a marginalidade, desigualdade, almejando transformação social (Costa e Grosfoguel, 2016). Ao se contribuir para o conhecimento, registro e disseminação dos saberes e práticas dessas comunidades de mulheres, se reconstitui os sentidos de pertencimento aos movimentos de luta pela terra na região do Vale do Rio Doce-MG.
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